João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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A ESCADA DE JACÓ 

      Na maçonaria, a expressão “subir a Escada de Jacó” significa que o maçom está progredindo na aquisição das virtudes que o tornarão “justo e perfeito”. É uma alegoria que representa a escalada pelos diversos graus que compõem o ensinamento maçônico, conforme o rito professado. No caso, sendo este trabalho fundamentado na ritualística do R \ E\ A\ A\ ( Rito Escocês Antigo e Aceito), podemos dizer que a Escada de Jacó, ou seja, a disciplina curricular que o maçom deve cursar para obter um aprendizado completo, é composta de trinta e três graus, cada um deles contendo um determinado ensinamento. Este número de graus, que funciona como se fosse um curso acadêmico modular, pode ter sido inspirado na mística do número 33, o qual, para os adeptos da Cabala, é um número mágico. 
     Jacó era filho de Isaac e neto de Abraão, patriarca que, segundo o Livro Sagrado, trouxe os primeiros israelitas para a Palestina. Ao adormecer, em uma localidade chamada Betel, ele teve um sonho, ou visão, na qual anjos subiam e desciam uma escada que ia da terra até o céu. Essa visão pode ser interpretada como um símbolo da ligação existente entre o céu e a terra – ou entre as coisas sagradas e profanas, o homem e Deus –, e os anjos vistos por Jacó, subindo e descendo essa escada (levando coisas da terra para o céu e trazendo coisas do céu para a terra), são os intermediários dessa ligação.
     Essa idéia também é defendida na doutrina da Cabala, segundo a qual as fraternidades angélicas são formadas por “mestres” construtores do universo e os homens são os seus “aprendizes”. 
     Em todas as tradições esotéricas existem alusões às “escadas” que os iniciados devem subir, para atingir a iluminação prometida. Nos Mistérios Indianos há a Escada de Brhama, nos Mistérios de Mitra, a escada de Mitra, na Cabala, a escada dos sete degraus, etc. De algum modo todas essas "escadas" se referem aos “sete mundos”, ou os sete estágios de sabedoria que o espírito humano deve galgar para atingir a iluminação.*
    Na filosofia do Bramanismo, por exemplo, esses estágios correspondem ao corpo, (matéria), mente (espírito), contemplação (céu), firmamento (nirvana, ausência de sentimento, controle das paixões), regeneração ( passagem da esfera material para a espiritual), o palácio do Grande Rei ( a preparação para receber a Luz) e a Casa de Brhama ( a Iluminação final).
    Na doutrina católica as sete virtudes, que são a Fé, a Esperança, a Caridade, a Temperança, a Prudência, a Fidelidade, a Castidade e a Justiça, se opõem aos sete vícios, ou pecados capitais, que são a avareza, a usura, a gula, a intemperança, a luxúria, a inveja e a preguiça. No Alcorão se diz que “ Ele (Alá) é o Senhor da Escada, pela qual os anjos e o espírito do homem subirão até Ele um dia; um dia cuja duração é de cinqüenta mil anos.”
    Na filosofia gnóstica e cabalística esses degraus correspondem também aos sete planetas do mundo celestial, que são Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e a Lua, e também aos sete anjos que assistem na presença de Deus: Gadiel, Haraziel, Camael, Rafael, Haniel, Miguel e Gabriel.
    Na maçonaria, além do simbolismo da Escada de Jacó, outros ensinamentos também se valem dessa alegoria. A Escada do Kadosh, por exemplo, simboliza a passagem dos Irmãos pelos graus filosóficos. Ali os maçons encontrarão uma escada dupla que tem sete degraus em cada lado. Esses degraus representam, de um lado, as sete artes liberais, (Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia), que cultivadas pelo espírito humano, o levam ao devido aperfeiçoamento.
    Do outro lado estão as virtudes adquiridas por esse aprendizado: Prudência, Tolerância, Perfeição, Candura, Bondade, Benignidade e Justiça, que são o re-sultado desse ensinamento. Essa alegoria pode ter sido inspirada na obra do filósofo gnóstico Giordano Bruno, “Spaccio Della Besta Trionfante”, na qual o famoso mago da Renascença fala de uma revolução religiosa, onde o espírito humano seria reformado por uma prática iniciática semelhante á que se processa na maçonaria. Nela, à medida que o homem sobe na senda da virtude, os vícios vão sendo eliminados e o seu caráter vai se aperfeiçoando.* *
     Assim, à medida que o espírito humano sobe os degraus da virtude, ele vai também enterrando, cada vez mais fundo, os seus defeitos. Essa metáfora equivale também á famosa divisa maçônica “ levantar templos à virtude e cavar masmorras aos vícios.”***

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* A esse respeito veja-se Papus, A Cabala- Tradição Secreta do Ocidente-Ed. Pensamento, 2005. Segundo a Cabala, as Fraternidades angélicas se dividem em duas facções, ou Lojas, cada uma com dez Lojas, sendo dez as assembléias do bem e dez as assembléias do mal. As dez Lojas do bem ( ou assembléias de anjos) são chamadas de Chaiat-Há Quadesh, Aufanin, Auralin, Chasmalin, Serafim, Malachin, Elhoin, Beni-Elhoin, Querubin e Ishin. As Dez Lojas do mal ( ou asembléía de demônios), chamam-se Tamiels, Chaigidels, Satariels, Gamchicots, Galabiels, Samaels, Gamaliels, Tagaririns, Harab-Satrapiels e Naehmoths.
**Veja-se também Knorr Von Rosenroth. A Cabala Revelada – Madras 2004 
*** João Anatalino - Conhecendo a Arte Real- Madras, 2007 






João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/10/2009
Alterado em 22/02/2010


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