João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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OTRIBUNAL DE OSIRIS

O tribunal de Osiris

O Julgamento de Osíris estava conectado com a idéia que os egípcios faziam da vida além túmulo. Essa vida transcorria-se numa região intermediária entre a terra e o céu, denominada Tuat.
O significado exato dessa palavra é desconhecido, mas geralmente ela é traduzida como “mundo do além”. Mais tarde, alguns estudiosos a associaram com a idéia de inferno, mas isso não é correto, já que o conceito de inferno integra sempre a idéia de um lugar onde as almas são castigadas sem esperança de remissão, o que não acontecia com a visão que os egípcios tinham da Tuat.
E depois, o conceito de inferno apareceu bem mais tarde na história do pensamento religioso, a partir do desenvolvimento da cultura cristã. Na cultura egípcia essa noção era desconhecida.
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Acreditava-se que todos os mortos eram levados para um salão, para ali serem julgados pelos deuses. “ Os Senhores da Tuat”, era uma espécie de tribunal presidido pelo deus Osíris. Ali, um deus com cabeça de chacal, chamado Anúbis, pesava os corações dos defuntos numa balança, cujo contrapeso era uma pena de avestruz, símbolo da Maat.(2) Se o peso encontrado fosse inferior ao peso da pena, o deus Thot, (ou Hermes segundo os gregos), anotava o nome do defunto entre aqueles que podiam subir na “Barca de Osíris”, também conhecida como a “barca de milhões de anos de Rá”, para atravessar a Tuat em direção ao território luminoso do Deus Rá ( o sol), onde seu espírito se uniria áquele deus, tornando-se também um astro.
E o corpo do defunto, se todos seus atributos tivessem sido devidamente conservados, poderia continuar a viver eternamente nos Campos Elisios, na forma do seu ka.(3) Eis aí o motivo do extraordinário desenvolvimento das técnicas de conservação de múmias entre os egípcios. Se o ib do morto,( coração, ou consciência), pesasse mais que a pena,( significando que o defunto não tinha praticado Maat em vida), ele era entregue á fera Ammit, ( ou Apépi ) (3) que o devorava.
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Essa representação é a base do ensinamento iniciático contido no mito de Osíris. O deus morto é como uma semente que se deposita no solo, e ali, na total ausência da luz, ela começa a regenerar-se. Osíris é também como o sol, que engolido pela serpente Apépi, atravessa as trevas da Tuat em busca da luz, semelhante á semente que, enterrada na escuridão da terra, rompe seu ventre e ressurge como planta nova para a luz do sol.
Da mesma forma, o homem que morria podia ser regenerado na Tuat, se na sua vida terrena tivesse aprendido a praticar Maat. Daí o conteúdo iniciático dos Mistérios de Isis e Osíris. O iniciado aprendia, mediante a prática do ritual adequado, a regenerar-se em vida, renascendo simbolicamente no espírito.
Éssa mesma idéia é desenvolvida na liturgia dos ritos maçônicos, por isso é que o conceito da Tuat tem muito interesse em qualquer estudo que se faça sobre a Maçonaria.
É desse conceito que vem o simbolismo da morte iniciática e ressurreição do iniciado através do Mito de Hiram. Desde as mais remotas eras, os sacerdotes egípcios utilizavam a simbologia da morte e ressurreição do deus Osíris, como fórmulas para a transmissão de conhecimentos iniciáticos. Comparavam a vida do homem ao curso do sol durante o dia e quando morria, ao tempo que corresponde á noite. Como o sol reaparecia todo dia, após vencer as trevas, também o homem poderia, repetindo certas fórmulas mágicas, renascer num novo corpo.
Assim eles desenvolveram uma complexa escatologia, na qual as almas dos mortos que tivessem sido sepultados com todas as cerimônias prescritas pelos deuses, e conhecessem as palavras certas para pronunciar perante eles, poderiam acompanhar o sol na sua barca, enquanto ele atravessava a parte da Tuat que eles deviam percorrer, enquanto estivessem mortos.
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Todo o conteúdo mágico dos chamados Mistérios Egípcios visava a repetição simbólica desse processo de regeneração, pelo qual passava o deus em sua ressurreição, e que o iniciado devia repetir para poder ser, em vida, um adequado praticante de Maat, e após sua morte, ser julgado com benevolência pelos deuses.
Dado o conteúdo profundamente esotérico dessa crença, não é de admirar que os organizadores do ritual da maçonaria ( nos graus filosóficos) tenham se apropriado dela para passar aos iniciados a idéia de que o julgamento que realmente vale é o julgamento dos deuses. Não o julgamento faccioso dos inquisidores, nem o julgamento malicioso daqueles que nada sabem sobre o assunto que estão julgando.

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Notas:
(1)E. Wallis Budge- Os Deuses Egipcios- Vol I- Londres, 1945
(2) Maat era a deusa da Justiça, mas também significava um conceito moral. Viver Maat significava que o individuo era justo e perfeito.
(3) Ka era uma espécie de corpo astral existente em todo individuo.
(4) A Ordem dos Templários, que vários autores apontam como antecessora da Maçonaria, foi extinta pela Igreja em 1314. Vários membros dessa Ordem, inclusive seu Grão Mestre Jacques de Molay, foram condenados à fogueira.   


( Resenha extraída do capítulo XXVIII ( Grau 31) do Livro " O ILUMINISMO MAÇÔNICO",  a ser publicado em 2010.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 25/11/2009
Alterado em 22/02/2010


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