João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


ORDEM NO CAOS

O infinito não pode gerar o finito. Se o fizesse, não seria infinito, pois um dia, simplesmente deixaria de existir.


INSTITUTOS MAÇÔNICOS
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ORDEM NO CAOS
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“Ser”

A vida é um processo que alimenta a si próprio, exigindo atitudes práticas dos “sujeitos” que a desfrutam. Assim é em toda parte. Se os pássaros, as abelhas, os insetos, os animais, de uma forma geral, não carregassem o pólen de uma planta para outra, não transportassem sementes e outras partículas vegetais de um lado para outro, as plantas não se reproduziriam e os próprios pássaros, as borboletas, os insetos e todas as espécies animais também não o fariam porque simplesmente não teriam ambiente propício para fazê-lo.
O mesmo vale para todas as demais relações do universo, inclusive aquelas que o homem mantém com a natureza viva ou inanimada.
Se o universo fosse apenas uma máquina que opera através de comandos fornecidos por leis exclusivamente naturais, como pensam os racionalistas, as interações, tanto as que ocorrem entre os elementos químicos e formatam o mundo da matéria bruta, quanto as que ocorrem entre as espécies vivas, resultando no uni-verso dos organismos e sua conseqüente evolução psíquica, seriam movimentos sem sentido nem finalidade.
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Por que, como e para que viver? É mais ou menos o que Teilhard de Chardin pergunta em suas especulações: por que, como e para que agir, especula aquele filósofo. O que somos neste universo? Um grão de poeira perdido no infinito, um “caniço pensante”, como o definiu Pascal, uma “tábula rasa”, como dizia Locke, uma falha nas precauções anticonceptivas do universo, como já foi concluído por outros pensadores de nomeada?
O universo é tão imenso e nós somos tão ínfimos em relação a toda essa grandeza. A ingênua concepção idealista que coloca o homem como sendo a coroa da criação, centro da família de Deus, fica extremamente abalada pela visão de um indivíduo perdido num espaço tão imenso. E a ciência, quanto mais denuncia a certeza da nossa pequenez, vai alargando a amplidão do universo e acentuando essa sensação de esmagamento cósmico que sentimos quando nos colocamos diante dessa imensidão, cujos limites os nossos olhos não conseguem alcançar, mas pela qual os nossos espíritos não se cansam de aventurar, na busca por respostas que atenuem essa sensibilidade.

Sartre e Schopenhauer

Diante de tal perspectiva, não é estranho que sensibilidades como Schopenhauer e Sartre, só para citar apenas dois dos maiores pensadores da humanidade, tenham desenvolvido idéias tão desconfortáveis em face de um fenômeno que lhes parecia despregado de algum propósito, como era a vida humana.
Sartre acreditava que a vida era uma jornada entre o ser e o nada. E sendo assim, toda a nossa ética, toda a nossa piedade, toda a nossa compaixão, todo o nosso sofrimento, nosso amor e nosso ódio, enfim, tudo que ansiamos por “ser”, podem nada significar para um mundo mecânico e indiferente, que só obedece às leis físicas e químicas.
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Que espécie de mundo seria este em que vivemos, se essa desesperante visão do universo fosse verdadeira? Que seríamos nós além de pobres sombras errantes, a perambular pela terra, sem qualquer noção de responsabilidade, sem amores, sem ligações com nada e com ninguém, sem justificativas para a própria existência?
Que triste perspectiva é aquela do filósofo alemão Scopenhauer, que nos apresenta um mundo formatado apenas como representação e vontade do pensador!
E que figura grotesca é aquele Roquentin, que acreditava que a vida era apenas um acontecimento fortuito num universo que se regia unicamente por leis naturais!

Os positivistas

Descartes, ao aplicar o método racionalista no estudo dos fenômenos universais, isolou o homem das demais realidades do universo, fazendo-o crer que ele possuía um status enganoso de “ universo em si mesmo”. Com isso, alimentou a ilusão de que ele poderia, enquanto “ente” que pensa, constituir uma unidade autônoma que contém todas as propriedades do universo e em razão disso, ser um todo em si mesmo. Dessa forma, seria inútil buscar qualquer verdade além dos limites da própria razão humana, pois o que não estivesse no universo “homem”, não estaria no mundo.
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Essa concepção de “ser” em si mesmo foi responsável por um método de conhecimento que procura isolar os objetos, separando-os do todo onde estão inseridos, para poder entendê-los em suas particularidades. O método se mostra eficaz para o estudo das unidades isoladamente, mas quando tenta unir novamente as partes que separou, não consegue encontrar o vínculo que os une à totalidade.
O método cartesiano proporcionou um grande avanço no estudo das ciências físicas e naturais, mas, ao mesmo tempo, colocou sensíveis barreiras ao avanço da espiritualidade. O homem de Descartes, nesse universo seccionado, é um menino perdido de sua mãe. Emancipou-se, perdeu o elo que o ligava às suas origens e hoje não sabe mais como voltar para casa.
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. O desenvol-vimento da ciência a partir do método racionalista e da visão positivista de Conte e Spencer só contribuíram para aumentar a dor que o isolamento produz, pois o racionalismo foi levado para as ciências humanas e sociais e o resultado dessa composição foi uma sociedade sem consciência, da qual se baniu o espírito, en-carcerado a partir daí nos porões da obscura e pouco respeitada disciplina denominada Metafísica e conformado pelos estranhos dogmas das chamadas religiões oficiais.

Felizmente temos motivos para acreditar que não é assim. Temos certeza que existe uma Consciência Superior que dirige as tendências naturais de cada partícula que constitui o universo, para uma união que se processa em cada ponto do eixo espaço-tempo, onde cada grão do universo é, em si mesmo, um holom, um microcosmo dentro de um macrocosmo que repete, em cada realidade nele formatada, todas as propriedades desse universo. E isso, mesmo que não se possa ver na lente de um microscópico, nem se consiga captar nos aparelhos de um laboratório, é uma verdade que não pode ser ocultada, ainda que dela só possamos apreciar a sua consequência. universal, estaremos incompletos.
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A Consciência Universal

De acordo com os gnósticos, de ontem e de hoje, o mundo é pensado por um Espírito Supremo e construído por espíritos delegados. Por Espírito Supremo devemos entender o Grande Arquiteto do Universo. Os espíritos delegados são os anjos e os homens, respectivamente.
Em tese, existe bastante analogia entre o pensamento gnóstico e as teorias dos físicos modernos a respeito da formação e desenvolvimento do universo. Em alguns sistemas gnósticos as várias emanações de Deus são chamadas por diversos nomes. Os mais conhecidos são Mônada e Eons. Os eons, na doutrina gnóstica, frequentemente, aparecem em pares masculino/feminino chamados sizígias, e são bastante numerosos. A sua multiplicação, gerando o universo material, é chamado de Panespemia, ou seja o universo sendo gerado pelo esperma divino. Dois eons frequentemente listados na filosofia gnóstica são identificados como Jesus e Sophia. Esses eons teriam assumido a condição humana para o cumprimento de uma missão específica. Quando unidos, os eons masculino e feminino constituem o Pleroma, uma "região da Luz”, onde vivem os seres luminosos. (....)


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O espírito sofre a oposição da matéria. Espírito e matéria assemelham-se aos dois burricos da fábula. Cada um quer seguir direção diferente em busca do seu próprio monte de feno. Só quando se juntam eles descobrem que são complementos um do outro, e que o objetivo de suas vidas é formar um conjunto equilibrado. E quando isso acontece, conseguem vencer a repulsão que os separa, e aí se tornam uma unidade, que é o “ser”.
Segundo a Teosofia, (doutrina desenvolvida por Helena P. Blavatsky, também conhecida como Doutrina Secreta), os átomos (jivas), são almas, centros de vitalidade potencial, com inteligência latente em si. Os antigos filósofos atomistas acreditavam que os átomos eram “animados”, pois eles eram impelidos por “átomos maiores, mais puros” (divinos). Essa idéia encontra paralelo na doutrina da Cabala, que ensina a existência de anjos, arcanjos, querubins e serafins, uns maiores, outros menores, todos interligados em relação de função e subordinação, semelhante a um sistema solar, que pode ser representado por um átomo com seus elétrons girando em torno de um núcleo. Nesse sentido, o que chamamos alma pode ser entendido como uma espécie de elétron, preso ao seu centro material, e seu movimento em volta desse núcleo gera calor e luz (pensamentos e ações). Essas noções, antes tratadas de forma puramente esotérica, hoje é objeto da nova ciência chamada noética, que procura provar, de forma científica, a existência de energias transcendentais, especialmente aquilo que chamamos de mundo espiritual.
Através do conhecimento o homem pode transpor a barreira da matéria e atingir o mundo do espírito, encontrando a salvação. Essa é a esperança gnóstica de ontem e de hoje. Nesse processo, a mente humana tem que superar a fase dos burros que querem andar em diferentes direções, isto é, tem que combinar sabedoria com inteligência.
Inteligência para compreender o processo e sabedoria para utilizar o que aprendeu. Essa é a chamada ”ciência com consciência”, de que falava o iniciado Rabelais.


Tudo o que acontece no universo, acontece em razão de um movimento de consciências que se interam e buscam complemento para “ser”. É o seu interior que as impulsiona para criar as realidades universais. Há dentro delas uma “vontade de composição” nos desenhos universais que formatam o mundo fenomênico. É a essa “vontade” interior, que nos seres vivos chamamos de Alma e nos seres brutos de Substância, que Aristóteles chama de Enteléquia.
Tudo que já foi, é e será já existe em estado latente no universo. Nada é “criado”. Tudo é produto de manifestações da interação matéria\ espírito. Isso justifica o postulado segundo o qual “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, famoso axioma de Antoine-Laurent de Lavoisier, (1743 — 1794), grande químico e filósofo iluminista francês, considerado o criador da Química moderna. Esse postulado é válido também para as realidades espirituais, o que nos leva à admitir a existência de alguma forma de vida após a morte, pois como nos tem mostrado as recentes descobertas da ciência chamada noética, o nosso espírito tem massa, e conseqüentemente, ele é alguma forma de energia, a qual, segundo o princípio de Lavoisier, não desaparece, mas apenas se transforma..
Isso quer dizer que cada átomo da matéria universal possui em si mesmo a centelha da consciência, por isso é um universo em miniatura; nesse sentido, é um átomo e um anjo, no dizer de Madame Blavastsky.

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A ordem no caos

Assim o universo pode ser visto como um todo que se integra a partir de suas individualidades, obedecendo ao movimento de suas consciências particulares, o que quer dizer que tudo nele é consciente, todas suas parcelas possuem informação própria, as quais trocam entre si, e dessa interação informativa ele se formata.
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Há, nesse processo de desenvolvimento e composição, uma Vontade que tudo administra. Essa Vontade é a Mente Universal, ou seja, o Grande Arquiteto do Universo. A missão do espírito humano é precisamente essa: atuar, consoante essa Vontade, para colocar ordem nesse aparente caos que parece ser o universo em suas múltiplas dimensões. Daí a divisa máxima da Ordem Maçônica “Ordo ab Chaos”.
Isso explica porque tudo parece ir e voltar, tudo parece ser novo e velho ao mesmo tempo. É que o universo muda de forma a cada interação ocorrida entre seus elementos, mas continua a ser o mesmo sempre, em todos os lugares, recompondo-se a partir do que já foi, já que tudo que já foi fica gravado eternamente na memória celular de cada “ser”.
Pensar o universo como se estivéssemos dentro dele, e não do seu “lado de fora”, é abstrair o tempo e o espaço, situando-se no próprio coração do Cosmo, sentindo-lhe o pulso e a vida. Dessa forma fica-se próximo do seu início e do seu final, no limiar do Big-Bang e na fronteira do Big-Crunch.
E o sentimento dessa experiência será o de que a nossa consciência é o próprio cosmo em toda a sua realidade. Essa é a Gnose maçônica.


REsumo do cap I da Obra "Construtores do Universo", no prelo.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 12/02/2010
Alterado em 22/02/2010


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