João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


                                                   VERSO I

Uma via que não pode ser traçada não é a Via Eterna, o Tao.
Um Nome que não pode ser pronunciado não é o Nome Eterno.
O Sem Nome está na origem do Céu e da Terra.
Com Nome é a Mãe dos Dez mil seres.
Um Não -desejo eterno exprime sua essência, 
E por meio de um Desejo eterno,
Manifesta o seu limite.
Ambos os estados coexistem inseparáveis e
E diferem só no nome.
Postos juntos é mistério indecifrável.
Mistério dos Mistérios, é o Portal de todas as essências. 
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comentário

O verso inicial do Tao Te King propõe um olhar no início das coisas, quando nada tinha cor, forma ou identidade. Caos inicial, Átomo primordial, tudo estava em tudo e sómente o que não tem Nome ( Deus) existia. Quando Ele se manifestou então gerou tudo que existe e passou a ter um Nome (universo), que o Tao chama de Mãe dos Dez mil seres.
O Tao sugere que para entendermos como o Principio Criativo atua no universo nós precisamos "limpar" nossa  mente de todas as formas universais, pois estas são apenas as projeções dos nossos desejos. Elas impedem a nossa união com o Tao, elas não nos deixam ter a visão do Princípio.
Quando olhamos o horizonte não vemos o horizonte mas sim as imagens que destacam nele. O Horizonte é o fundo, o nada, o vazio cósmico. Quanto mais o perseguimos, mais ele se afasta de nós. Se conseguirmos fixar nosso olhar no fundo, ao invés de nos fixarmos nas formas que contra ele se destacam, então poderemos contemplar o que revela o horizonte. Veremos, como diz a metáfora taoísta, "o  rosto que tínhamos antes de termos nascido".
Isso quer dizer que nada que possa ser destacado do seu contexto tem existência em si mesmo. Uma tartaruga sem sua casca ainda é uma tartaruga? Uma rosa sem seu caule ainda é uma rosa?Uma pessoa vista apenas como um corpo, uma estrutura física que se move, pode ser chamada uma pessoa?

Por outro  lado, o que são o bem e o mal, o feio e o bonito, o exato e o falso, a mentira e verdade? São conceitos obtidos pela capacidade da nossa mente em destacar no horizonte das virtudes humanas certos atributos que colamos a elas. Se entretanto, percorrermos toda a linha que vai de um ao outro conceito, veremos que essa dualidade na verdade, é um círculo que se completa e se liga, e não podemos distinguir onde começa um e termina o outro. O que é belo e o que é feio? O que é bem e que é mal? A Vênus de Milo é bela? Mas ela é apenas a estátua de uma mulher mutilada. Uma criança a acharia feia. Jesus Cristo era um homem bom? Os sacerdotes judeus e as autoridades romanas não devem ter achado que era pois o mataram. Assim, toda vez que emitimos conceitos estamos recortando figuras no horizonte. E as figuras não são o horizonte.

Por isso diz o Tao: ambos os estados coexistem e diferem só no nome. Isso quer dizer: tudo está em tudo. Para entendermos realmente alguma coisa é preciso vê-la em toda sua integridade relacional. Não podemos "destacar" a forma do fundo. Isso significa que a nossa postura não pode ser a de um observador frente ao fato observado. A nossa postura tem que ser de participante do quadro.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/03/2010


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