João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos



GLADIADOR


SINOPSE.
Durante as guerras entre as tropas romanas e os bárbaros germanos, o já idoso imperador Marcus Aurélius, resolve nomear o comandante militar do seu exército, Aélius Máximus, como futuro imperador, com a condição que ele devolvesse ao Senado o poder político que lhe fora tirado com a fundação do Império (desde a época de Augusto). Mas antes que isso aconteça, o velho imperador é assassinado por seu próprio filho, Marcus Commodus, que, com o apoio das tropas pretorianas, toma o poder e implanta em Roma uma era de faustosidade, corrupção e frivolidade, coisas que seu velho pai, Marco Aurélio, grande estadista e filósofo, havia abolido em seu governo. Aélius Maximus é condenado à morte, mas consegue escapar. Depois de ter sua família assassinada, ele é escravizado se torna gladiador. Torna-se um grande ídolo das massas romanas, e por fim, através da fama que conquista na arena, acaba tendo a oportunidade de enfrentar o próprio imperador. E ai....

.................................................................................................................................................................................

Gladiador, filme de Ridley Scott, estrelado por Russel Crowe e Joaquim Fenix, é um filme muito bonito. Ganhou vários Oscars e tem sido visto por milhões de pessoas, desde seu lançamento, em 2000. Eu mesmo já o vi várias vezes e não me canso de revê-lo. Emula-me ver a saga de grandes heróis. Sejam verdadeiros personagens históricos, ou meras figuras de ficção, não importa. Heróis sempre são âncoras muito boas para a formação da nossa personalidade, pois o que fica é sempre o exemplo do heroísmo. E depois, qual é o personagem histórico que não tenha sido composto com alguma (ou muita ficção?).
A trama é interessante e foca diversos aspectos da história de Roma, principalmente as intrigas políticas e os assassinatos que sempre foram comuns por ocasião das sucessões dos imperadores romanos. Elas nunca foram pacíficas, desde que Júlio César foi assassinado em pleno Senado pelos senadores Caio, Bruto e Casca.
Mas é preciso tomar cuidado para não toma-lo como verdadeira história. Aliás, a bem verdade, seus produtores nunca disseram que era. Ele é apenas um romance. Estou chamando a atenção para esse fato por que algumas celeumas já foram levantadas por conta de histórias de ficção que são tomadas por fatos verdadeiros.
Conheço um jornalista que foi processado por um casal, por ter evitado que esse casal ganhasse um prêmio num programa de televisão, tipo Silvio Santos, por conta de um questionamento desses. Tratava-se de escolher casais com nomes de personagens históricos e o júri do programa (mais ignorante do que o próprio casal), escolheu um rapaz e uma moça com os nomes de Ben Hur e Tirzah, respectivamente.
Esses dois nomes eram de personagens do filme Ben Hur, de William Willer, rodado em 1959 e que ganhou, se não me falha a memória, onze Oscars. Um dos filmes mais bem sucedidos da história do cinema, Ben Hur foi baseado num romance escrito por um general americano chamado Lewis Wallace, que foi adido militar dos Estados Unidos na Palestina em fins do século XIX. Ele ficou igualmente famoso, não só pelo romance que escreveu, mas também por ser, mais tarde, o governador do recém-criado território do Novo México, na época em que o famoso pistoleiro Billy The Kid era o terror do Oeste. Ben Hur e Tirzah são personagens de ficção, mas o tal casal pensava que eles tinham existido de verdade. Chegaram a entrar com um processo contra o jornalista, por ele lhes negou o prêmio, sustentando que não se tratavam de personagens históricos. É claro que perderam.

Voltando ao Gladiador, trata-se, evidentemente, de uma história de ficção, embora centrada na vida de personagens reais. Marco Aurélio Antonino Augusto (em latim Caesar Marcus Aurelius Antoninus Augustus), conhecido como Marco Aurélio (26 de Abril de 121 — 17 de Março de 180), foi realmente imperador romano durante mais de vinte anos. Seu reinado foi um dos mais longos da Roma dos Césares. Homem culto, filósofo e grande estadista, ele é considerado um dos últimos grandes imperadores que Roma teve. Data da sua morte o início da queda de Roma como grande império.
Nessa época as fronteiras de Roma estavam sendo muito pressionada por invasões te tribos bárbaras. Tanto no Oriente, quanto na Europa, era preciso manter um forte contingente militar para repelir as constantes invasões que o Império sofria. Era impossível para Marcus Aurélius, sozinho, controlar tantas tropas, razão pela qual ele resolveu dividir o poder com um senador chamado Lúcius Verus, a quem deu sua própria filha, Lucila, em casamento. A filha de Marcus Aurélius, Lucila, também aparece no filme de Ridley Scott, mas sua atuação no filme não tem nada a ver com sua verdadeira parte na história. Na verdade, ela acabou sendo executada por tramar a derrubada de seu irmão Marcus Commodus.

O Gladiador Aélius Maximus não existiu historicamente. Pelo menos, não com esse nome. E não houve nenhum general a quem Marcus Aurelius desejasse deixar o poder em lugar do seu filho Commodus. Na verdade, foi o próprio Marcus Aurelius quem nomeou Commodus seu herdeiro. Portanto, a trama segundo a qual o general se torna gladiador por cauda do assassinato do Imperador e da sua própria família não existe. Até porque Marcus Aurelius não foi assassinado, mas morreu de febre durante uma campanha contra os germanos, quando estes sitiaram Vindobona (hoje Viena), província avançada do Império Romano na fronteira leste.
Mas numa coisa, pelo menos, o filme é fiel á história. Marcus Commodus foi, realmente, um péssimo imperador. Amigo das orgias, da depravação e dos combates na arena, que seu pai havia abolido, ele nunca demonstrou interesse pelas coisas do Estado. Em consequência, logo os políticos do Senado, e os comandantes militares, começaram a conspirar contra ele.
Com um Senado francamente oposicionista, Cômodo procurou legitimar seu governo com base no apoio popular e no sentimento religioso do povo. Assim, instituiu oficialmente o culto a Júpiter Summus, como religião oficial do Império Romano, garantindo lugar no panteão dos deuses romanos para todas as divindades estrangeiras.
Gostava também de apresentar-se na arena como gladiador. Segundo os historiadores era um ótimo lutador, tanto que autodenominou-se Hércules Romanus, julgando a si mesmo como uma reencarnação do famoso herói grego. Moedas representando Commodus como Hércules ainda podem ser vistas nos museus.
No início de seu reinado, teve de enfrentar uma conspiração no Senado, liderada por sua irmã Lucila. Ela estava, na época, casada com um dos principais generais de Marco Aurélio, de nome Tiberius Claudius Pompeianus. Vencida a conspiração, Commodus exilou - e mais tarde executou – sua irmã Lucila, juntamente com seus partidários no Senado e no exército. A partir daí, teve que apoiar-se na guarda pretoriana para garantir o seu governo. Data dessa época o costume que se instalou em Roma, dos pretorianos passarem a ser os principais responsáveis pela nomeação dos imperadores. Essa prática, que geralmente era financiada pela corrupção, foi o principal motivo da queda do Império Roman, segundo a maioria dos historiadores.

Diferente do final criado pelo diretor Ridley Scott, Commodus não morreu na arena, lutando contra um gladiador. Na verdade, ele encontrou o seu fim da mesma forma prosaica e inglória que vitimou a maioria dos imperadores romanos. Foi assassinado, por estrangulamento, em uma conspiração, em 31 de dezembro de 192, por um lutador de luta livre (luta romana), chamado Narciso, o qual foi introduzido em sua sala de banhos por sua principal concubina.
O principal interesse do filme está, é evidente, na sua característica heroica. Aélius Máximo é um escravo que desafia o poder constituído tornando-se mais poderoso que o imperador através da sua fama de herói popular. É, no caso, o poder da mídia, que já nesse tempo, era temido até pelos mais poderosos. Essa constatação transparece num dos diálogos do filme: “você tem um grande nome”, diz um gladiador para Aélius Maximus. “Se ele (o imperador) quiser matá-lo, terá que primeiro matar o seu nome”. O povo gosta dessas coisas. Mesmo que não sejam verdadeiras, é sempre bom saber que por maior que seja a opressão, e por mais forte que seja o poder que nos oprime, sempre há alguma coisa mais forte do que ele. Essa é a grande lição do filme.
Que não a esqueçam os pretensos poderosos.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/08/2010
Alterado em 03/11/2010


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras