João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos



                                   “ O amor é um contador que só sabe somar”- 
                                                                                                                           Poeta anônimo

Um leão apaixonou-se por uma jovem raposa e decidiu que fosse o que fosse, ia casar-se com ela. Enfrentando a oposição da sua própria espécie e a desconfiança de todos os animais da floresta, foi até a toca da raposa para pedir a mão dela em casamento.
O pai da jovem era um velho raposão muito esperto. Desconfiou logo das intenções do leão.
― Quem garante que você não está querendo se casar com a minha filha somente para transformá-la num bom jantar? ― perguntou ele ao leão.
― Pode pedir a garantia que quiser ― disse o leão ― que eu a darei.
O velho raposo pensou por alguns minutos e por fim disse: ― Ah é? Eis então o que eu quero. Arranque todos os seus dentes e as suas garras e traga-as para mim. Se você for capaz de fazer isso, eu deixo você se casar com a minha filha.
Dito e feito. O leão foi a um dentista e com grande sofrimento mandou arrancar todos os dentes e as garras. Banguela, com as patas sangrando, inofensivo, insultado pelos seus companheiros e debochado por todos os animais da floresta, mas com a maior alegria no coração, lá foi ele entregar seus perigosos dentes e suas mortíferas garras ao velho raposão
― Aqui estão os meus dentes e as minhas garras. Fiz o que me pediu como prova do meu amor por sua filha.
― Está satisfeito agora? Quando será a cerimônia do casamento? ―, perguntou o leão.
― Nunca ―, respondeu o velho raposão.
―Mas como? ― Choramingou o leão. ―Não fiz o que o senhor pediu? Sou agora um leão inofensivo e desdentado. Não posso mais machucar ninguém. Fiz tudo por amor à sua filha.
―Azar seu― disse o velho raposão. ― Agora você é só um leão banguela e sem garras. Não pode mais caçar. Como vai sustentar uma família? Como vai defendê-la dos perigos se nem garras tem? Um leão sem dentes e sem garras não é mais um leão. É uma aberração. Nessas condições, você é um sujeito sem identidade própria, e alguém assim não pode ser um bom marido para ninguém. Vá embora e não me aborreça mais.
― Isso é uma tremenda injustiça ― reclamou o leão. ― Eu fiz o que fiz por amor. E foi o senhor que pediu.
― Esse é problema ―, disse o raposão. Você deveria saber que o verdadeiro Amor não pede a ninguém que renuncie a si mesmo por causa dele. Ele é elemento que integra, mas nunca desintegra. Ele soma, mas não diminui. O Amor poderia fazer um leão mais uma raposa, mas do jeito que você está agora vocês seriam uma raposa menos um leão. Não é de casais assim que a natureza precisa. A natureza quer reprodutores sadios que produzam crias fortes e sempre melhores que as anteriores.
E assim o leão se foi, triste, cabisbaixo e derrotado.

Moral da história: nunca renuncie à sua natureza. Nem por amor.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 01/12/2010


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras