João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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AVATAR- O FILME: BELEZA E FILOSOFIA

AVATAR-O FILME

Depois de muito tempo desejando, mas não achando tempo para, consegui assistir ontem ao filme, o mais caro empreendimento cinematográfico americano de todos os tempos, e também o mais rentável até agora. Confesso que não consegui distinguir se é um filme de ficção científica ou uma fantasia futurista, mas isso também tem pouca importância, pois do jeito que a ciência avança, esse tipo de distinção deixará de existir em pouco tempo, se é que já não deixou.

Avatar, mais que tudo, é um bonito filme. Em todos os sentidos. Escrito e dirigido por James Cameron, e estrelado por Sam Worthington, Zoë Saldaña, Michelle Rodriguez, Sigourney Weaver e Stephen Lang, nos papéis principais, o filme foi produzido pela Lightstorm Entertainment e distribuído pela 20th Century Fox. Seu enredo se passa no ano 2154 (não está muito longe) e conta uma estória meio científica, meio esotérica, que ocorre em Pandora,(que não se perca pelo nome) uma paradisíaca lua de um estranho planeta chamado Polifemo, situado na constelação de Alfa Centauro.

O ENREDO DO FILME

Nessa época a terra, superpovoada e incapaz de continuar abrigando mais população, está exportando habitantes para todas as partes do universo. Até aí um futuro bem previsível. Creio que não precisaremos esperar tanto tempo para começar a fazer isso. Só que em Pandora os terráqueos não muito bem recebidos pelos Na'vi, os nativos humanoides que habitam aquele bizarro satélite . A principal causa dos conflitos entre os colonizadores da terra e os pandorenhos, além da disputa pelos recursos naturais do satélite, é a estranha cultura e a forma de comunicação do povo do lugar.
Para achar uma saída para o conflito, a ideia é produzir, através de engenharia genética , misturando gene humano com genes dos Na’vi , seres híbridos que possam interagir com os nativos de Pandora e dessa forma iniciar uma colonização “por dentro”, como se pode chamar o já nosso conhecido colonialismo cultural.
A Dra. Grace Augustine (Sigourney Weaver) é a chefe do Programa Avatar, programa de engenharia genética destinado a criar híbridos humanos, a partir de genes Na'vi geneticamente modificados. A tese da doutora, testada cientificamente, é a de que um ser humano que compartilhe material genético com um Avatar fica mentalmente ligado ao Na’vi que lhe forneceu material. E assim, através dessa estranha e (maquiavélica) forma de conquista, os Avatares poderiam ser controlados pelos humanos.
Jake Sully (interpretado por Sam Worthington) é um ex-fuzileiro paraplégico, que vai para Pandora em busca de recursos para custear uma operação que poderá curá-lo da paralisia. Sua escolha, que não foi do gosto da Dra. Augustine, se deu pela razão de que o seu irmão gêmeo Thomas, era um dos cientistas do programa Avatar, e estava escalado para ser o protótipo do primeiro híbrido do programa. Mas Thomas morre, e os responsáveis pelo programa não tem outra alternativa senão chamar Jake para assumir seu lugar, em virtude da sua similaridade genética com Thomas, o que permitiria compatibilidade com o Avatar do irmão.
Jake, portanto, se torna um ser híbrido, conectado a um Avatar, com a missão específica de ser uma espécie de Cavalo de Tróia dos terráqueos em Pandora. Mas quando, já na forma de um Avatar, ele sai para uma missão junto com os biólogos Grace e Norm Spellman (Joel David Moore) ele é atacado por um nativo e se perde do resto do grupo. Ferido, perdido na luxuriante selva de Pandora, cercado de mil perigos, ele é salvo por uma Na'vi fêmea chamada Neytiri (Zoë Saldaña). Os ferimentos de Jake são mortais, mas Neytiri os cobre com sementes da Árvore da Vida, e depois decide levá-lo para a Casa da Árvore, onde mora sua tribo, os Omaticaya.
Depois disso, o filme se torna previsível. Quem assistiu a saga do Homem Chamado Cavalo, o Último Samurai, Dança com Lobos, etc. filmes que exploram o mesmo tema, já sabem o que vai acontecer. O que antes era um espião, um “ponta de lança” posto no território inimigo para abrir a porta à invasão, acaba se rendendo á forma natural de vida dos nativos. E ao invés de facilitar a invasão e a dominação dos autóctenes, ele passa a liderá-los na defesa do seu paraíso natural.

O QUE É UM AVATAR

Um Avatar, no filme, é um habitante de Pandora, a bizarra lua de Polifemo, o terceiro planeta da órbita da estrela Alfa Centauro. É uma espécie de criatura humanoide, que é conhecida pelo bizarro nome de Na'vi. Medindo cerca de 3 metros de altura, eles têm cauda e ossos reforçados com fibra de carbono. A pelugem brilhante lhes uma interessante coloração azulada. Os Na'vi vivem em harmonia com a natureza e seus costumes e tradições são considerados primitivos pelos terráqueos. Os Na’vi veneram uma deusa chamada Eywa, uma espécie de Maat egípcia misturada com Diana, a deusa grega protetora da natureza e Shiva, a deusa andrógena dos hindus. A veneração da natureza e a resistência dos Na’vi à destruição dela pela exploração econômica que os humanos querem promover são a principal causa dos conflitos entre as duas espécies. Até ai, tudo é clichê, pois já vimos isso antes. E nisso há um claro conflito ideológico.

Aliás, o têrmo Avatar não foi escolhido aleatoriamente para dar nome aos habitantes da paradisíaca lua do sistema Alfa Centauro. Nem os demais termos empregados.* Ele encerra toda uma filosofia de vida e uma tendência para religiosa que as sociedades modernas vêm mostrando, de se voltarem para a adoração da natureza. É a moderna crise da superpopulação e o esgotamento dos recursos naturais que empurram a civilização atual para uma postura de defesa da mãe natureza, vendo-a como uma deusa que deve ser venerada.
Avatar é um termo da religião hindu que significa a manifestação corporal de um ser imortal em um elemento da natureza. É um termo do alfabeto sânscrito, antiga língua dos hindus. Avatara significa “descida”, ou seja, uma encarnação de Vishnu, a segunda pessoa da trindade hindu, equivalente cristão de Jesus Cristo. Só que diferente da concepção cristã, Vishnu “encarna” em todos os elementos da natureza para lhes dar vida e qualidade, e não apenas nas pessoas. Assim, todas as criaturas e forças da natureza são dignas de culto.
Dessa forma, a religião do Avatar é anímica e panteísta, no sentido de que a divindade a ser reverenciada se confunde com a própria natureza. Na religião hindu não há um Deus antropomorfo que deve ser adorado. Há um Principio Criador, identificado pelo nome de Brhaman, mas este, por ser inatingível pela mente humana, não deve ser adorado, pois adoração é manifestação da mente humana. O que se adora são as suas múltiplas manifestações, que se identificam com o próprio universo material e espiritual. Dai a razão de existências de milhares de divindades reverenciadas pela religião dos hindus.

Avatar é um filme claramente inspirado nessa moderna tendência de reverencia á mãe natureza, o que revela a preocupação ecológica que é sinal destes nossos tempos. Revela inspiração no Caminho Quádruplo, de Angeles Arrien e nas inúmeras obras modernas que procuram revalorizar as religiões da natureza e seus cultos. Por isso ele é repleto de magia ritualística, onde se busca a comunhão com os espíritos da natureza (os arquétipos) e faz claras alusões á práticas xamãnicas.
É claro que os lideres religiosos conservadores não devem estar gostando do filme. Já li e ouvi alguns comentários chamando James Cameron de ateu e divulgador de temas panteístas pagãos, que objetivam desviar o povo da religião tradicional, baseada na ideia de um Deus antropomorfo e transcendental, em proveito de uma volta aos antigos cultos pagãos praticados pelos povos primitivos. Nesse sentido, dizem eles,  é o filme Avatar. Uma apologia do Panteísmo.

Em nossa opinião, Avatar é um belo filme e nós o vemos como um excepcional trabalho de composição cinematográfica. Se ele tem uma mensagem nesse sentido, só a vê quem a procura. Aliás, toda obra de arte tem mensagens liminares e subliminares embutidas e hospeda em si mesma um exercício de Gestalt. Cada um vê o que quer ver. Nós vimos beleza e habilidade na obra de James Cameron.
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 Polifemo, como se sabe, é o nome do gigante ciclope, filho do deus Netuno, que devora vários companheiros de Ulisses, no imortal poema Odisséia. Ele é o deus vencido pelo herói Ulisses, que o deixa cego. Pandora é o nome da caixa mágica onde os deuses encerraram todos os males do mundo, juntamente com a esperança, que viria a ser a redentora da humanidade. Como se vê, o filme todo é uma imensa metáfora.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/12/2010
Alterado em 04/12/2010


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