João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


                             
                                      “Sid itur ad astra” (Assim se é imortalizado) 



Existem duas coisas que gosto de fazer de madrugada, quando estou sem sono. Uma é escrever, a outra é assitir velhos clássicos do cinema. Esta noite que passou eu revi um dos favoritos da minha adolescência, um velho faroeste chamado Shane, que não sei por que cargas dágua, no Brasil virou Os Brutos Também Amam. É um filme da Paramount, dirigido por George Stevens e estrelado por Alan Ladd, a bela Jean Arthur e o bom ator Van Heflin. Tem também uma participação brilhante do garoto Brandon de Wilde, que morreu prematuramente, dizem, de overdose. Outra coisa que sobressai no filme é a trilha sonora. Simplesmente arrebatadora. O filme é uma parábola que mostra o contraste entre o bem e o mal e destaga a saga do verdadeiro herói. Ou como deve agir o verdadeiro herói. Abientado no velho oeste americano, tem como pano de fundo a luta entre entre grandes fazendeiros pecuiaristas e colonos sem terra. Bem que poderia ser no Brasil de hoje onde esse conflito ainda existe. Pistoleiros como Shane e Jack Wilson - o bem e o mal do filme- ainda estão bem vivos no interior do Brasil.
Bem, o título em português não tem nada a ver com o original em inglês, mas títulos não importam.  O que vale é o filme e as informações neurolinguísticas que ele transmite. E para mim ele sugeriu as reflexões que faço abaixo. 
               
                                                ***
O VERDADEIRO HERÓI
                              
O herói que nunca mais a gente esquece é aquele que não espera a festa para receber o prêmio. Ele se retira para a obscuridade tão logo realiza a façanha. Mas logo iremos encontrá-lo em outro lugar, em outro contexto, cumprindo outras missões, realizando novas façanhas.
Já aquele que esperou a festa para tirar fotografia, receber o prêmio e as congratulações de praxe, essa talvez seja a última vez que o veremos. Geralmente acontece que ele comemorou tanto a vitória que ficou bêbado e foi dormir; ou então casou-se com a mocinha do filme e foi viver o resto da vida por conta dessa conquista. Sua história termina aí.
Os americanos são ótimos para fabricar heróis. Ás vezes ele acertam. Quem assiste   “Os Brutos Também Amam” nunca esquece o pistoleiro Shane, o herói do filme.  Não se sabe de onde veio, nem quem era. Entrou no filme, fez o que tinha de fazer e foi embora. Ninguém disse para onde. Saiu da história da mesma forma que entrou. Mas quem assistiu esse velho clássico do western, ainda se lembra do          “ bom matador” que dizia que “armas são ferramentas tão úteis tanto quanto uma pá ou uma enxada. Quem as torna boas ou más são as pessoas que as usam.”
Não importa a moral que cada pessoa vê no filme. Se o que ele fez foi bom ou ruim. Shane não veio precedido de um curriculum, uma história pessoal. Ele chegou, participou dos acontecimentos, envolveu-se neles como se tudo fosse muito importante para ele, assumiu a responsabilidade pelos resultados, usou as habilidades que tinha para resolver os problemas que surgiram, e depois foi embora sem esperar que alguém viesse lhe agradecer por tê-los resolvido. Até hoje eu me pergunto: o que terá acontecido com Shane? Para onde ele foi depois de matar três homens num duelo e desaparecer no horizonte deixando um menino afo-gado em lágrimas?
Sempre pensei em escrever uma continuação da estória desse bruto que também amava. Mas nunca o fiz porque concluí que se o fizesse, o herói perderia a sua mística.

VIRIATO

A estória de Shane lembra a de ouro herói que conheci em meus livros de história, o português Viriato. 
Viriato foi um herói dos tempos em que os romanos começaram a ocupar a Península Ibérica. Ele era um fazendeiro lusitano que foi chamado pelas tribos da região para comandar a luta pela defesa da pátria. Como general, tornou-se uma lenda, e como homem um exemplo de liderança e verdadeiro patriotismo. Impôs diversas derrotas às tropas romanas e deu a todos os ibéricos um modelo para copiar.
Sempre que as terras lusitanas eram atacadas, ele era chamado para assumir o comando. Assumia, derrotava os inimigos e depois voltava para sua fazenda, reassumindo sua condição de camponês.
Um dia os cidadãos lusitanos resolveram reconhecer o seu mérito e quiseram fazer dele o rei da Luzitânia.
“Muito obrigado”, respondeu Viriato. “Sempre poderei voltar a ser soldado e fazendei-ro, mas rei somente uma vez.” 

                                    ***
Grande Viriato. Magnífico Shane.
É isso mesmo. A boa lâmina é aquela que tem o apenas o corte necessário. Nem mais nem menos afiada.. Aquém ou além disso, o seu gume estragará o objeto no qual for aplicada. Assim é o verdadeiro herói. Não vai além do que é preciso nem fica aquém do necessário. Faz o que precisa fazer, está sempre no lugar certo quando se precisa dele e nunca é encontrado quando se trata de tirar fotografias ou receber homenagens.
Os Evangelhos também dizem algo parecido. “ Somos servos sem mérito”, ensinou Jesus aos seus discípulos. “Só fizemos a nossa obrigação, não merecemos nenhum galardão por isso.”
Saber quando é hora de sair do palco é mais importante do que saber o momento de entrar. Todo grande ator sabe disso. Retirar-se para o anonimato depois de cumprida a missão não é um ato de falsa humildade, mas sim, de grandeza de alma. Quem luta pelo prêmio e não pela alegria do dever cumprido pode até se tornar um bom profissional de luta, mas nunca será um verdadeiro herói. Quem assim faz, luta apenas para alimentar a própria vaidade e não por amor á uma causa. Quando vencem, sobem no palanque, recebem a merecida medalha e os aplausos do dia.
Mas que não reivindiquem mais que isso. Na verdade, esses são aqueles, que como disse Jesus, já tiveram a sua recompensa.
A recompensa do verdadeiro herói é a consciência do cumprimento da missão.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 25/01/2011
Alterado em 27/01/2011


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