João Anatalino

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Textos


A FLAUTA MÁGICA

SALZBURGO

Salzburgo é uma encantadora cidadezinha incrustrada nos Alpes austríacos. Parece uma cidade de brinquedo. Percorrer suas estreitas ruas medievais, ladeadas por vetustos sobrados muito bem conservados é como entrar numa máquina do tempo e recuar uns duzentos ou trezentos anos no passado. Com efeito, nada parece ter mudado ali nos últimos três séculos. Até o claro e cristalino rio que atravessa a cidade parece ter saído de uma lenda medieval. Miríades de garças dão á paisagem vista de cima da romanesca ponte uma atmosfera de sonho e romance.
Salzburgo é a cidade onde nasceu Joannes Chrysostomus Wolfgangus Theophilus Mozart, em 27 de janeiro de 1756. O cognome Amadeus, pelo qual ele ficou conhecido mais tarde, quando se tornou famoso, vem da grafia francesa do nome Theophilus, que em francês se escreve Amadé, latinizado para Amadeus. Seu nome de batismo era muito complicado para um artista. Por isso Mozart preferiu a forma mais simplificada de Wolfgang Amadeus Mozart, com qual ficou conhecido no mundo da música e da lenda como uma das mais geniais e pitorescas personalidades de todos os tempos.

BIOGRAFIA

Seus pais se chamavam Leopold Mozart e Anna Maria Pertl. Dos sete filhos do casal somente ele e uma irmã, Maria Anna, apelidada Nannerl, conseguiram chegar à idade adulta.
Leopold também era um músico bastante conceituado. Violinista competente, lecionava música e tocava para o Arcebispo de Salzburgo, desfrutando, com isso, de uma respeitável posição no mundo da música e na sociedade de Salzburgo. Graças a essa posição ele pode dar aos seus dois filhos sobreviventes, Wolfgang e Nannerl, uma esmerada educação musical.
Wolfgang começou a estudar música com quatro anos de idade. Seu talento era tão precoce que em 1761, com cinco anos de idade, ele já havia composto um Andante e um Allegro para teclado, peças que muitos músicos profissionais consideravam perfeitas.

CARREIRA

Mozart se apresentou em público pela primeira vez em 1761, na Universidade de Salzburgo, executando obras de Johan Eberlin. A partir dessa apresentação não parou mais de viajar e se apresentar pela Europa toda como menino-prodígio. Dizem que foi essa vida de cigano a que seu pai, Leopold, o obrigava, aliada ao rigor e ao rígido programa de treinamento que era obrigado a suportar diariamente, que minou a sua saúde, desde cedo muito frágil.
Mozart menino percorreu a Europa inteira se apresentando para os nobres da época. Em 1762 iremos encontrá-lo em Munique, tocando para o Eleitor da Baviera. Em janeiro de 1763, passou por Viena e outras cidades austríacas, tocando para vários nobres e duas vezes para a imperatriz Maria Teresa e seu consorte. Segundo registros da imprensa da época, Mozart, com oito anos de idade já tocava como um músico profissional.
Durante três Mozart viajou por vários países, passando pela Alemanha, França, Inglaterra, Países Baixos e Suíça, tocando em diversos centros musicais importantes da época, eempre com muito sucesso. Era recebido e apreciado pelos príncipes e potentados da Europa, que nele viam um verdadeiro prodígio. Na França, tocou em Versailles para Luis XV e sua corte. Em Londres para o rei George III.
Com cerca de dez anos já havia mais de uma centena as composições feitas pelo menino prodígio Wolfgang Amadeus Mozart, inclusive óperas inteiras.
Ao contrário do que retrata o filme Amadeus, de Milos Forman, a família de Mozart, nessa época, estava bem próspera, tendo ganho uma pequena fortuna com essas excursões.

MOZART NA ITÁLIA

Em 1770, finalmente, Mozart vai à Itália. Terra da ópera por excelência, nenhum compositor desse gênero de música seria reconhecido se não passasse pelo crivo dos italianos. Pela quantidade de apresentações dadas por ele na Itália e pelo tempo que ficou por lá e os lugares onde se apresentou, se pode aquilatar o sucesso que o agora adolescente Amadeus Mozart fez na terra de Puccini. Em Roma foi recebido pelo papa e agraciado com a Ordem da Espora de Ouro, no grau de cavaleiro, um acontecimento realmente extraordinário para um músico, principalmente em razão da sua idade. Foram várias as comendas e referências que recebeu em todas cidades italianas que passou, consagrando o seu nome na terra da ópera. Foi tão grande o seu sucesso que ele teve que voltar à Itália no ano seguinte, em 1771, para tocar no casamento do Arquiduque Ferdinando, de Milão.
Cansado de perambular pela Europa, seu pai, Leopold,resolveu aceitar um emprego fixo como violinista na corte do príncipe Hieronymus von Colloredo, enquanto o adolescente Mozart se empregava como violinista na corte do Arcebispo de Salzburgo. Foram meses de descanso e satisfação para Mozart, que aproveitou bem o tempo, compondo dezenas de peças musicais.
Mas a agitação estava no sangue dos Mozarts e alguns meses depois eis a família de volta à Itália para mais uma tournée. .

MOZART EM VIENA

Logo os Mozarts chegaram à conclusão que a prosaica Salzburgo havia se tornado muito pequena para o grande talento do seu mais famoso filho. Ele precisava de públicos e palcos maiores, bem como mecenas mais importantes. Um músico da categoria de Wolfgang Amadeus não podia viver simplesmente de apresentações. A práxis da época era trabalhar para um grande potentado, que pudesse garantir o seu sustento. Com isso se podia dedicar á composição e só aceitar as apresentações realmente compensadoras. Foi por isso que a família mudou-se para Viena.
Mas apesar de toda a sua fama e reconhecimento como músico competente e extraordinário compositor, Mozart não encontrou em Viena o reconhecimento que esperava. A fechada corte austríaca, que mantinha em sua folha de pagamento diversos músicos e compositores não abriu espaço para o agora jovem prodígio que desdenhava do espírito conservador e retrógrado dos músicos da corte, e propunha novos caminhos para a música da época.
Foi em Viena que o jovem Mozart começou a mostrar distúrbios de personalidade. Provavelmente pelo fato de ter suas expectativas frustradas e ver que outros compositores, bem menos competentes que ele (alguns até bastante medíocres, na opinião dele), faziam sucesso e obtinham bons patrocinadores e ele não. Tornou-se uma pessoa amarga, extremamente crítica e de comportamento “desagradável”, segundo os críticos da época, que o taxavam de arrogante e irresponsável, pois assumia compromissos e não os cumpria devidamente.

VIDA DISSOLUTA

Mozart vivia agora sozinho em Viena. Seu pai voltara a prestar serviço como músico na corte do Príncipe de Salzburgo, Von Colloredo, e a dar aulas de música em sua cidade natal. Enquanto isso Wolfgang vivia desregradamente em Viena. De romance em romance, gastava tudo que ganhava com as namoradas e nos cabarés da pródiga capital do império dos Habsburgos.
Para se manter Mozart retomou as viagens pela Europa, e em 1775 iremos encontrá-lo em uma tournée pela Alemanha e França, dando vários concertos e buscando patrocinadores de peso entre a nobreza daqueles países, mas sem êxito.
Data dessa época as dificuldades de relacionamento que ele manteve com seu pai até o fim da sua vida. Em suas cartas, Leopold sempre se queixava da forma desregrada em que Mozart vivia e da sua irresponsabilidade com questões financeiras. Mozart gastava mais do que ganhava e vivia pedindo empréstimos que não pagava. Logo se espalhou por Viena inteira a sua fama de caloteiro. Por essa razão, depois de muita insistência do pai, Mozart voltou a Salzburgo e se empregou na corte do príncipe Von Colloredo como organista e professor dos meninos do coro. Durante dois anos ele exerceu esse trabalho e aproveitou bem essa relativa paz para compor. Data dessa época um grande número de composições, que mais tarde iriam se tornar verdadeiros clássicos.

DE VOLTA A VIENA

Em 1781 o Príncipe Colloredo viajou a Viena para assistir à coroação do novo imperador Joseph II. Mozart foi com ele. Irriquieto como sempre, Mozart aproveitou para demitir-se do emprego com o príncipe e tentar novamente uma carreira em Viena. Foi morar na casa de uma família que conhecera em uma de suas apresentações. Foi ai que ele conheceu Constanze, com quem se casaria em 1782. Não conseguira ainda um lugar na corte como compositor, como era seu desejo, e ganhava a vida dando aulas, concertos privados e compondo partituras para quem as encomendasse. Logo tiveram um filho, mas o garoto morreu nos primeiros meses de vida, segundo dizem, por falta de cuidados de pai e da mãe, que o deixaram aos cuidados de pessoas estranhas enquanto viajavam para Salzburgo para visitar Leopold. Depois tiveram outros filhos que sobreviveram até a idade adulta.
Sua veia musical, entretanto, jamais diminuiu. Quanto mais era ignorado pela elite austríaca, mais ele compunha. Encontrou um bom nicho de mercado na ópera popular, e suas composições para esse tipo de espetáculo foi o que manteve o casal por muito tempo.

O MOZART MAÇOM

Mozart ingressou na Maçonaria em fins de 1784 por influência do empresário e ator de óperas populares Emanuel Schikaneder, que era maçom atuante nas Lojas de Viena na época. Há quem diga que a iniciação de Mozart na Arte Real se deu por razões políticas e interesseiras, uma vez que ele esperava ser aceito pela corte austríaca se se tornasse maçom. Praticamente toda a corte austríaca era constituída de maçons. O próprio Imperador Joseph III, como seus antecessores Joseph II e II, e outros monarcas austríacos foram maçons famosos, inclusive fundadores de Lojas e criadores de ritos.
É bem possível que Mozart tenha se valido dessa condição para tentar penetrar no fechado círculo de compositores da corte vienense, onde a maior influência era o maestro italiano Antonio Salieri. Mas acreditamos que não tenha sido essa a principal razão para o fato dele ter ingressado na Maçonaria. Na verdade, essa disposição era própria da personalidade de Mozart, que incorporava muitos traços de misticismo e uma certa disposição de confronto com as tendências moralistas e ultramontanistas professadas pela elite vienense, em razão da profunda influência nela exercida pela Igreja Católica.
Mozart gostava de trabalhar temas místicos e tinha certa fixação pelo folclore germânico, no tocante as suas lendas e arquétipos. Criticava com veemência o gosto da corte austríaca pelos libretos escritos em italiano, com temas latinos, de preferência aos temas predominantemente germânicos, mais afeitos a um povo que falava alemão e tinha uma cultura alemã. Dessa forma, foi ele o primeiro compositor a compor e reger uma ópera em alemão no teatro municipal de Viena, o que, diga-se de passagem, não fez nenhum sucesso e só aumentou a antipatia que os nobres da corte nutriam por ele.
Os ritos maçônicos forneceram a Mozart uma boa inspiração para algumas das suas mais significativas obras. A principal delas é a famosa Flauta Mágica, que ele escreveu com seu amigo e irmão Emanuel Schikaneder. Eis uma resenha dessa esplêndida obra.

A FLAUTA MÁGICA

PREPARAÇÃO PARA A INICIAÇÃO

A ópera começa com a entrada de Pamino, “ um profano que se encontra perdido num bosque escuro e desconhecido.”. Clara alegoria iniciática que evoca o princípio do ritual maçônico de iniciação.
Logo se percebe que está fugindo de uma enorme serpente. (Alusão à serpente Apépi dos Mistérios Egípcios). Desmaiando, ele é salvo por três Damas da Rainha, que matam a serpente e correm para dar notícia do fato à Rainha da Noite. Nesse meio tempo aparece um caçador de pássaros, Papageno, que se diz vencedor da serpente. Mas é surpreendido na mentira pelas três damas, que depois de castigar o mentiroso, dão as boas vindas a Pamino e contam a ele história de Pamina, uma bela e jovem princesa, filha da Rainha da Noite, que foi sequestrada pelo perverso Sarastro, um poderoso feiticeiro, que a mantém cativa no seu soturno castelo. Mostram a ele um retrato de Pamina, e ele, imediatamente se apaixona pela princesa.
Nessa alegoria se percebe claramente a influência do tema maçônico. Ao irmão que se inicia na Maçonaria se diz claramente que ele está para se livrar dos seus vícios( as mentiras do mundo profano) e se iniciar numa grande aventura pela conquista da virtude ( a bela Pamina). Aí está presente também a referência ao mito desenvolvido nos Mistérios de Elêusis, na pessoa da jovem Perséfone, que foi raptada pelo deus dos infernos Hades. A tarefa dos iniciados nesses antigos mistérios gregos era exatamente libertar Perséfone dessa escravidão. Em princípio é essa a proposta que se coloca aos dois profanos.

Tamino se propõe a libertar a bela princesa do seu cativeiro. Para isso recebe da Rainha da Noite  uma flauta mágica. E assim, tendo como escudeiros o mentiroso Papageno(que será perdoado por isso) e três Gênios da Floresta(os irmãos Terrivel e os Espertos) que os ajudarão a encontrar o caminho para o sinistro castelo de Sarastro, lá vai o glorioso cavaleiro para a sua missão.
Pamino e seu escudeiro Papageno ignoram o verdadeiro motivo do sequestro da princesa. Ao chegar no castelo de Sarastro, antes de encontrar a princesa e enfrentar seu sequestrador os Gênios lhe recomendam o exercício de três virtudes: firmeza, paciência e sigilo. “Empenhe-se como verdadeiro homem e conseguirá seu objetivo”, dizem os gênios. Tudo bem maçônico.
No caminho para o castelo Pamino, passa por um bosque onde existem três templos muito belos. Colocados, um ao lado do outro, em cada um deles está escrito “Natur” – Templo da Natureza, no primeiro “Weisheit” – Templo da Sabedoria –, no segundo e “Vernunft” – Templo da Razão, no terceiro. Num deles, segundo os ensinamentos dos Gênios da Noite, está o objeto da sua busca. Prestes a bater na porta do templo da Natureza ele escuta um coral lhe dizer: “Zurük” – para trás! Vai em seguida bater na porta do templo da razão e outro coral lhe diz: “Zurük” - para trás! Resolve, finalmente, ao bater na porta do Templo da Sabedoria. Esta se abre se abre e um sacerdote, trajado em vestes brancas e com voz suave se dirige a ele nesses termos: “Que traz você aqui, jovem audacioso? Que procuras neste local sagrado?” Tamino revela a intenção de libertar a princesa Pamina das mãos do cruel feiticeiro Sarastro. Conta a história que ouviu da Rainha da Noite. O Sacerdote percebe que Tamino está apaixonado pela princesa, mas foi enganado pela Rainha da Noite a respeito de Sarastro e suas intenções. A Rainha da Noite não é a mãe da princesa e Sarastros é o Sumo Sacerdote de uma Fraternidade cujo objetivo é preservar a Verdade. Essa Fraternidade é a Irmandade de ìsis e Osíris.
Papageno e Tamino percebem o erro mortal no qual estavam laborando. Então se propõem a entrar para a Fraternidade de Ísis e Osiris. Sarastro lhes informa que para serem membros dessa Fraternidade eles terão que passar por um julgamento dos seus membros e se submeter a uma série de provas destinadas a comprovar o mérito deles. Segue-se a preparação dos neófitos que saem de cena com a cabeça coberta por capuzes negros.
Após essa cena têm início os preparativos para a Iniciação de Tamino e de Papageno que, com a cabeça recoberta por uma espessa venda, saem de cena.

A INICIAÇÃO

O II Ato começa num cenário onde se vê um bosque com estranhos símbolos desenhados e uma pirâmide truncada ao fundo. Dezoito sacerdotes estão posicionados em três pontos da cena, à esquerda, à direita e ao fundo. Sarastro, presidindo a seção no centro, abre a reunião anunciando: “Vamos iniciar neste Augusto Templo da Sabedoria novos servos de Ísis e Osíris. Tamino e Papageno ( Sarastro lê as qualificações de cada um) estão à porta de nosso Templo.” Três dos sacerdotes se levantam, um a cada vez. O primeiro questiona: “Eles são virtuosos?” pergunta o primeiro. “Ele são discretos?” pergunta o segundo. “São homens  caridosos?” pergunta o terceiro. Sarastro responde afirmativamente a todas as questões. Todos concordam com a iniciação manifestando-se com as mãos ergui-das. Os grupos de sacerdotes que se encontram à esquerda, á direita e ao fundo também fazem o mesmo gesto enquanto a orquestra entoa uma nota constante. Sarastro encerra a reunião cantando uma ária em que invoca a proteção de Ísis e Osíris.
Em seguida tem início a cerimônia de iniciação.

Os dois iniciandos estão prontos para o cerimonial. Este tem início com Tamino e Papageno sendo conduzidos, cada um por um sacerdote para a execução das provas. Tiradas a venda após a entrada deles no Templo, eles reafirmam suas intenções de galgar a sabedoria e ter como recompensa o amor de Pamina.(conquistar a virtude). Segue-se um discurso essencialmente maçônico onde eles são concitados a perseguir a virtude e sobretudo manter silêncio sobre o que se passou ali. Em seguida todos saem e deixam os dois sozinhos no centro do Templo para meditarem na importância da decisão que tomaram. Nesse momento entram as três Damas da Rainha da Noite que os advertem sobre o perigo que correm se permanecerem naquele lugar. Tentam demover os dois da decisão que tomaram. Mas eles persistem e assim vencem aquela provação.

A próxima cena se dedica à iniciação de Pamina. A tentação de Pamina aqui é exercida pela Rainha da Noite que tenta seduzi-la de todas as formas para que ela desista da iniciação. Usa para isso diversos artifícios inclusive a alegoria da traição (expressa na traição dos companheiros no Drama de Hiram). A ária cantada nesse momento sublime da peça é particularmente bela e elucidativa:

“Em nosso sagrado templo,
A vingança é desconhecida,
E aqueles que se desviam do dever
O caminho lhes é mostrado com amor
Com ternura são levados pela mão fraterna
Até encontrarem, com alegria, um lugar melhor
Dentro de nossa sagrada maçonaria,
Por laços de amor estamos unidos
Cada um perdoa o seu próximo
Aqui não há traição
E aqueles que desprezam este nobre plano
Não merecem ser chamados de homem.”

Com esta ária, Sarastro (Venerável Mestre) mostra a diferença entre o propósito do Mal , representado pela Rainha da Noite, e o Bem, representado pela doutrina da fraternidade de Ísis e Osíris. Pamina, Tamino e Papageno conhecem agora a verdade: Nessa área se coloca o tema central do ensinamento maçônico, que é a confrontação da Luz contra as Trevas.
E assim a ópera segue apresentando a cada ato um tema maçônico de importância ritual. Lá estão as alegorias alquímicas que a Maçonaria adota em seus rituais: as provas que o maçom deve se submeter para se tornar um verdadeiro irmão; o tema do segredo e das cavernas escuras que hospedam os monstros que destroem o caráter; nas engraçadas intervenções de Papageno as tentações a que são submetidos os irmãos em consequência das suas relações profanas; a tolerância, a firme disposição, a coragem e fidelidade que os irmãos devem demonstrar para vencer essas tentações.

“Aquele que andar
Por estes caminhos
Cheios de dificuldades,
Terá de passar pelas provas
Do fogo, da água, do ar e da terra
E, se vencer
O temor da morte
Como que deixará a terra
Em direção ao brilho do céu.
Iluminados, coração e mente,
Empenhar-se-ão pelo direito
E no sagrado rito de Ísis
Encontrarão a verdadeira luz.”

Cantam dois contraltos, vestidos de guarda das duas cavernas escuras onde os neófitos serão submetidos à prova.
Tocando a flauta mágica, os neófitos vencem todas as provas e surgem, finalmente para a luz.
(....)
A peça é longa e cheia de detalhes e alusões a motivos maçônicos temas arcanos. E tudo é desenvolvido em versos de indiscutível inspiração e apoiados por uma música francamente arrebatadora.

“A glória do dourado Sol,
Conquistou a noite.
O falso mundo das trevas
Conhece agora o poder da luz.”

Um majestoso coral encerra a ópera com louvores a Ísis e Osíris e aos iniciados:

“Salve, novos iluminados!
Passastes pela noite
Louvamos a ti, Osíris.
Louvamos a ti, Ísis.
Pela força são vitoriosos
São dignos da coroa
A beleza e a sabedoria
Haverão de iluminá-los como o Sol.”

Facilmente o iniciado nos mistérios maçônicos se reconhecerá nessa obra genial. E ao deixar o teatro terá o justo orgulho de ser um maçom e saber que os quadros da Sublimeo Ordem já foram engrandecidos por irmãos do porte de Mozart. Ele faleceu no dia 5 de dezembro de 1791 e não é verdade que tenha sido enterrado como indigente, como mostra o filme de Milos Forman. Na verdade ele foi velado na catedral de Viena em 6 de dezembro e no dia 7 foi enterrado discretamente em uma vala comum no cemitério da Igreja de São Marx, nos arredores de Viena. Não houve nenhuma cerimônia nem acompanhamento do seu caixão, mas isso, segundo o que se propagou na época, se deveu á sua causa mortis, provavelmente uma moléstia contagiosa (tuberculose, provavelmente). Esse procedimento era comum na época. O fato de não ser erguida nenhuma lápide sobre seu túmulo se deve, provavelmente a um pedido da família. Tanto é verdade que as crônicas da época fizeram diversas referências a sua morte, enfatizando sua condição de gênio da música. Os maçons fizeram celebrar uma suntuosa missa na catedral de Viena no dia 10 e um famoso sermão em sua honra foi publicado nos principais jornais do país. Vários concertos foram dados em sua memória, e os irmãos promoveram diversos eventos em benefício da cunhada Constanze e os sobrinhos.
Existem cerca de 630 obras registradas em nome de Mozart. E por mais que sua obra e biografia já tenha sido explorada nunca será demais recordar esse nosso poderoso Irmão.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 25/01/2011
Alterado em 26/01/2011


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