João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


ABRINDO CAMINHOS

Existe uma grande diferença entre o que o mundo da realidade éde fato e o que pensamos que ele é. Quer dizer: o mundo que temos dentro da nossa cabeça nem sempre corresponde ao que existe fora dela.
Isso não significa que nós vivemos em mundos irreais ou falsos, como de início se pode supor quando colocamos uma proposição desse tipo. O mundo real não é uma mera ilusão, como ensinam algumas religiões, e também algumas variantes filosóficas.
O que na verdade existe é uma grande defasagem entre a realidade, tal como ela acontece, e a forma como nós a experimentamos em nossos sentidos. Vejamos um exemplo. Duas pessoas observam a mesma cena. Perguntemos a elas o que viram, ouviram e sentiram. Dificilmente as respostas serão coincidentes. Uma terá visto coisas que a outra não viu. Uma delas terá prestado mais atenção nos sons que a outra. Uma terá percebido melhor as condições ambientes de cheiro, aroma, tato etc. Assim, cada pessoa, em face do mesmo fato, terá uma experiência diferente dele.
Todos sabemos que somos diferentes uns dos outros. Só não sabemos o quanto somos diferentes. Uns são mais outros são menos. E essas diferenças são produzidas pelo uso dos nossos sentidos. Quanto mais eu me aferro à minha visão de mundo, mais eu me afasto das pessoas que estão vendo outra coisa; quanto mais eu me ligo no meu diálogo interno, menos eu consigo ouvir a voz dos outros, quanto mais eu me afirmo em meus próprios sentimentos, menos eu consigo participar dos sentimentos alheios.
Faça a experiência. Tente ouvir e entender o que os outros estão dizendo sem calar aquela voz interior que já está dando a resposta antes mesmo do outro terminar de expressar o seu pensamento. Tente fazer uma imagem mental da informação que está recebendo sem antes limpar da sua tela mental a imagem que você mesmo faz daquela informação. Tente sentir um aroma, um tato, um paladar novos, sem tirar da sua mente as informações sobre aromas, tatos e paladares que você já tem registrados em sua mente.
Cada experiência vivida pelo nosso organismo é uma informação. E ela nos chega na sua totalidade. Mas a nossa mente registra somente uma pequena parte dela. Ela filtra a informação e registra somente a parte que ela julga útil, interessante, verdadeira, de acordo com as nossas crenças, valores, desejos e critérios de julgamento. É a parte da informação que a gente entende, aceita, acredita, aproveita. Essa é a verdade para nós.
A informação é organizada em nossa mente na forma de um processo. É o que chamamos de sabedoria. A nossa sabedoria a respeito daquela experiência. O restante dessa informação vai para o inconsciente. Fica jogada lá na forma de “notícias” desorganizadas. Fatos sem sentido, incompreensíveis, estranhos. Às vezes elas aparecem nos nossos comportamentos em formas de sonhos, representações simbólicas, temores, fobias, desequilíbrios nervosos e outras anomalias comportamentais que não sabemos de onde vem nem como foram adquiridas.
Nossa mente se assemelha a um grande território cuja maior parte é feita desses fatos desconhecidos. É como um grande país ainda inexplorado, com uma população concentrada em um pequeníssimo núcleo urbano organizado. Este núcleo é o que chamamos de razão. O restante é o ignoto, o bizarro, o caos.
O que pensamos que o mundo é o mapa que fazemos dele. Esse mapa é feito de partes das informações que recebemos a seu respeito. Não existe verdade nem mentira nele. Apenas maior ou menor quantidade de informação que a mente considera útil. O problema é nós nos orientamos no mundo real com o mapa que fazemos dele. Toda pessoa tem um mapa muito pessoal do mundo. E nenhum mapa é mais verdadeiro ou falso do que outro. O que eu penso do mundo não é mais verdadeiro nem real do que aquilo que você ou qualquer outra pessoa pensa.
A verdadeira inteligência não está em traçar mapas exatos do mundo real. Porque não é a realidade do mundo que nos limita, mas sim a pobreza do mapa que nós traçamos dele. Num território amplo e desconhecido como é o mundo real, vence aque-le que conseguir traçar dentro do seu mapa a maior quantidade de caminhos possíveis para chegar onde quer ir e não quem pensa que tem o melhor caminho.






João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/03/2011
Alterado em 01/04/2011


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras