João Anatalino

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Textos


O RITO ESCOCÊS

Nesta segunda parte do nosso trabalho analisaremos as influências das quais é composto o Rito Escocês em seus graus superiores. Neste volume pretendemos estender a nossa análise até o grau 14, que encerram os ensinamentos das Lojas de Perfeição, também chamadas de Graus Inefáveis Um segundo volume tratará dos graus Rosa-Cruzes, desenvolvidos nas Lojas Capitulares e dos graus filosóficos e administrativos, desenvolvidos nas Lojas do Kadosh e Areopagitas.(1)
Os graus superiores e filosóficos não faziam parte da liturgia das antigas Lojas de maçons operativos e nem das Lojas de maçons especulativos anteriores ás Constituições de Henderson. Na chamada Maçonaria Escocêsa, eles foram desenvolvidos pelos maçons jacobitas, a partir de tradições compiladas em várias fontes, especialmente gnósticas, herméticas e cavalheirescas. O simbolismo da Loja base, chamada Maçonaria Azul, é desenvolvida nesses graus com um conteúdo voltado para a formação do caráter do maçom. Com base nas alegorias referentes ao Templo do Rei Salomão e a Lenda de Hiram, é desenvolvida uma filosofia de vida e uma moral comportamental que buscam “educar” o espírito do iniciado, no sentido de fazer dele um homem de caráter “justo e perfeito’, capaz de assumir um papel de relevância na construção de uma sociedade também justa e perfeita.(2)
Os graus 4 a 9 fundamentam sua filosofia no desenvolvimento da Lenda de Hiram, que encontra neles o seu mais profundo conteúdo moral e iniciático. Esses são os graus que podemos chamar de hiramiticos pois tratam com mais profundidade do sentido escatológico da lenda do Arquiteto do Templo de Salomão, extraindo dela o seu conteúdo moral.
Do grau 10 ao 14 temos aquilo que pode ser chamado de graus salomônicos, que procuram transmitir o conceito maçônico de justiça através de alegorias referentes á construção do Templo de Salomão e da organização social e política que aquele rei desenvolveu para o reino de Israel.

Por questão de metodologia, iremos inserindo nos textos relativos a cada grau as informações históricas que necessitarmos, para justificar os comentários que faremos a respeito da filosofia desenvolvida em cada um deles. Assim é que, se os graus 4 a 9 se baseiam em tradições hebraicas derivadas da Lenda de Hiram, as referências históricas e filosóficas que iremos inserir serão extraídas da Bíblia e dos seus comentadores. É preciso ter em mente que a Lenda de Hiram é, na essência, uma criação dos pensadores gnósticos. Embora a Bíblia cite, nominalmente, a existência de um personagem com esse nome na construção do Templo de Salomão, ela não esclarece que se trata de um arquiteto. Sua elevação a essa condição é uma inferência exclusivamente maçônica, fundamentada em tradições gnósticas.
Quanto ás referências a Salomão e sua administração, os comentários que faremos estão fundamentados em fontes bíblicas. A se julgar pelas crônicas bíblicas, o governo de Salomão não foi exatamente um modelo de virtude, eficiência e grandeza, como comumente se pensa. Sua administrração, na verdade, foi um festival de despotismo, desperdício, corrupção e tirania, imposta a um povo pobre, crédulo e humilde, que a tudo suportava, julgando ser tudo aquilo a vontade de Deus.
Assim sendo, tudo deve ser tomado no sentido simbólico. A Lenda de Hiram é tomada aqui no seu sentido escatológico. Está conectada com as noções de anábase e catábase, que nas  tradições inciáticas se referem à ideia da "morte" simbólica de um estado de consciência para “ressuscitar’ em outro estado superior. Encerra também, em termos estritamente maçônicos, uma alegoria de fundo moral, na qual o iniciado “aprende a matar” seus vícios de caráter, para poder “renascer” moralmente para a sociedade como um homem novo, capaz de ser a “pedra de cumeeira” do edifício social.
Da mesma forma, as virtudes cavalheirescas que aqui se exaltam são as virtudes cristãs. Coragem, simplicidade, humildade, lealdade, zelo, respeito ás leis e as pessoas, caridade para com os humildes. Essas eram virtudes exigidas do cavaleiro medieval, herói de larga popularidade no ideário de um povo profundamente religioso e místico.

UM POUCO DE HISTÓRIA

As reuniões das Lojas de Perfeição, que se estendem do quarto ao décimo quarto grau, revelam principalmente uma profunda influência da tradição hebraica. Esse conteúdo foi desenvolvido pelos chamados “maçons aceitos”, a partir do início do século XVII. Entre esses “maçons aceitos”, havia um grande número de judeus. Esse fato se confirma pela constatação do largo uso que se faz da tradição cabalística na composição dos símbolos, nomes e alegorias que introduzem os diversos ensinamentos iniciáticos que são passados nesses graus.

A alegoria mais representativa da Maçonaria, como já se viu, é a Lenda de Hiram, que simboliza o renascimento do homem, através da regeneração moral do Companheiro maçom, a partir das cerimônias que envolvem a morte e os funerais do Mestre assassinado. Daí por diante, o novo Mestre tratará de buscar seu aperfeiçoamento, através do desenvolvimento de um aprendizado alicerçado na mitológica sabedoria de Salomão, e no conhecimento dos mistérios do Antigo Testamento, transmitidos através dos métodos da Cabala e das tradições extraídas da Torá.
Alguns autores chamam a esses graus “graus de vingança” salomônicos, dado que evocam atitudes de vingança contra os chamados “assassinos de Hiram”. Há também, os que vêem nas alegorias utilizadas nesses graus, uma evocação á vingança que deveria ser tomada contra os responsáveis pela execução de Jacques de Molay, o ultimo Grão-Mestre dos cavaleiros templários, ou mesmo contra os executores de Carlos I, o rei inglês da dinastia dos Stuarts, decapitado por ordem de Cromwel, durante a Revolução Puritana. Um pouco de história ajuda a entender o porquê dessas interpretações.

Em 1603 a rainha Elisabeth, da Inglaterra, ultima descendente da dinastia dos Tudores, morreu sem deixar herdeiros. O trono inglês foi entregue ao seu primo, o rei da Escócia, Jaime VI, da família dos Stuarts, que assumiu a coroa inglesa com o nome de Jaime I. A unificação da coroas inglesa e escocesa não agradou a nenhum dos dois povos, inimigos já de longa data. Mas, pior ainda, o novo rei cultivava ambições absolutistas que não combinavam com a tradição inglesa de amor á liberdade. Essa tradição já havia sido demonstrada no século XIII quando o rei João, o Sem Terra, foi obrigado a assinar a famosa Magna Carta, documento que tem sido reconhecido como o precursor das modernas constituições.
Além disso, o rei Jaime I, para fazer face á crescente despesa pública resultante de sua forma despótica de governar, aumentou violentamente os impostos sem consultar o Parlamento. Com isso, atraiu contra si a revolta dos agentes econômicos, dos políticos e do povo em geral. Em seguida desagradou aos protestantes, pela proteção indiscriminada que deu aos anglicanos, simpatizantes do catolicismo.
A grande maioria dos ingleses pobres e da classe média baixa era composta de anglicanos de orientação calvinista. Aos poucos, esses anglicanos foram se agrupando em seitas ortodoxas, praticantes de um rígido sistema moral, chamados puritanos. Eram grupos que recusavam toda e qualquer influência católica.
O rei Jaime I pretendeu limitar sua liberdade religiosa, o que logo degenerou em conflito. Esse conflito está na origem da imigração maciça dos protestantes ingleses para a América, e das lutas que começaram na Inglaterra, entre a dinastia dos Stuarts e o Parlamento, dominado pelos protestantes de orientação calvinista.
Em 1625 morreu Jaime I, sendo sucedido no trono pelo seu filho Carlos I. Alimentando as mesmas pretensões absolutistas do pai, logo entrou em conflito com o Parlamento. Praticando uma tributação escorchante e uma política restritiva ás liberdades públicas, o novo rei logo atraiu o ódio de todas as classes sociais do país, menos a nobreza, que o apoiava
Mesmo assim, o rei persistiu em governar tiranicamente. Ao entrar em conflito com os puritanos escoceses, teve que enfrentar uma rebelião armada, que logo degenerou em verdadeira guerra civil. O Parlamento, para apoiar o rei, fez diversas exigências que ele não aceitou. Então o rei dissolveu o Parlamento, que, em conseqüência lhe declarou guerra .
Entre 1642 e 1649 a guerra civil devastou a Inglaterra. Do lado do rei lutaram os nobres, os latifundiários, os católicos e os anglicanos que lhe eram fiéis. Do lado do Parlamento, estava o grosso da população, formado por pequenos proprietários, comerciantes, operários e principalmente protestantes. A primeira fase da guerra acabou com a derrota do rei. A paz foi negociada com a condição de que a monarquia parlamentar fosse mantida, e a fé presbiteriana adotada como religião oficial. O rei foi obrigado assinar a Petição dos Direitos, uma espécie de nova Magna Carta, na qual reconhecia uma série de direitos civis dos cidadãos ingleses.
Mas a tirania não tinha sido completamente abolida. Principalmente na questão da religião o rei intervinha com muita parcialidade. Ao pretender impor o anglicanismo como religião oficial do estado, atraiu novamente a revolta dos protestantes.
A guerra recomeçou, desta vez opondo os simpatizantes da monarquia e os partidários dos cabeças-redondas, chefiados por Oliver Cromwel. Em 1649 os partidários de Cromwel, finalmente, venceram a guerra. Em conseqüência, a monarquia foi abolida, e no seu lugar foi implantada uma espécie de ditadura autocrática liderada pelo próprio Cromwel, que se intitulou “Lorde Protetor”. O Rei Carlos I foi capturado pelos cabeças- redondas e decapitado em 30 de janeiro de 1649. (4)
O governo de Cromwel logo começou a ser contestado. Rebeliões estouraram em toda parte. Na Escócia, o filho mais velho de Carlos I foi coroado rei e iniciou, a partir daquele país, uma nova guerra civil pela restauração dos Stuarts no trono inglês. Cromwel venceu os revoltosos ingleses e escoceses e obrigou os partidários do jovem pretendente a se refugiarem na França.
Na Inglaterra, o descontentamento com a ditadura dos puritanos continuava. A nação inteira ansiava pela sua queda. Em 1658 Cromwel morreu, deixando no governo seu filho Ricardo. Este, não tendo herdado a fibra do pai, foi logo obrigado a renunciar. O Parlamento aproveitou então para restaurar a monarquia, convidando o príncipe Carlos a ocupar o trono do pai decapitado, reconduzindo a dinastia Stuart ao trono em 1660. O jovem rei assumiu o título de Carlos II e reinou até 1685, sendo sucedido por seu irmão Jaime II, que reinou até 1688.
Jaime II, entretanto, despertou novamente a revolta dos ingleses em conseqüência de suas pretensões absolutistas. Em muitos aspectos repetiu o que de pior existia no comportamento de seus antecessores. Contrariou tanto protestantes quanto anglicanos, pela proteção que dispensou aos católicos. E quando ficou patente que o trono passaria para um de seus filhos, de orientação católica, a deposição da dinastia Stuart tornou-se inevitável. Em conseqüência, o Parlamento convidou o príncipe Guilherme de Orange, rei da Holanda, para ocupar o trono inglês. Esse convite foi motivado pelo fato do príncipe Guilherme ser casado com Maria, a filha mais velha de Jaime II.
Guilherme de Orange e sua esposa tomaram posse do trono inglês e o rei Jaime II refugiou-se na França. Essa revolução tornou-se conhecida na história como “ Revolução Gloriosa”, pois foi uma revolução sem sangue. Durante o governo da dinastia Orange, o Parlamento recuperou seu poder e aprovou numerosas leis ampliando as liberdades públicas. Uma ampla reforma tributaria aboliu a taxação indiscriminada sem a aprovação dos representantes do povo. O Toleration Act concedeu liberdade religiosa a todos os súditos ingleses e o Bill of Rights estabeleceu direitos civis para todos os cidadãos. Foi o inicio do fim da monarquia absoluta na Inglaterra e o começo de uma era de lutas pela liberdade, que logo iria se espalhar por todo o mundo ocidental. (5)
A Revolução Gloriosa em muito contribuiu para os movimentos libertários que ocorreram nos fins do século XVIII, particularmente a Revolução Americana, a Revolução Francesa e as guerras de libertação das colônias espanholas e portuguesas. Foi o ideal de liberdade disseminado pela Revolução Gloriosa que, levado para a América pelos imigrantes ingleses, forneceu o modelo para o desenvolvimento da cultura daquele país, profundamente vinculada á idéia de liberdade. Em muito também contribuiu para o desenvolvimento das idéias iluministas de Voltaire, Jefferson, Payne e outros grandes apóstolos da liberdade.
Todos maçons, diga-se de passagem.

NASCE O RITO ESCOCÊS

É possível imaginar o conturbado ambiente político e cultural naqueles cruciais anos que se seguiram á Revolução Puritana, á restauração dos Stuarts e á Revolução Gloriosa, que os depôs novamente. Não é difícil avaliar o que se passava na cabeça, (e no espírito sensível), daqueles homens, principalmente aqueles que simpátizavam com a causa Stuartista. Podemos sentir a agitação que movimenta seus espíritos: de um lado, a desconfiança em relação á religião oficial, de outro a vigilância e a perseguição das autoridades civis e eclesiásticas contra qualquer grupo que demonstrasse gosto pela filosofia oculta. Uns, desejosos de praticar uma Maçonaria voltada ao esoterismo, com espírito mais religioso que prático, de certa forma orientado pelo catolicismo, e outros querendo uma Maçonaria mais de acordo com a nova orientação política, religiosa e filosófica trazida pela Reforma Protestante e pelo Iluminismo.
Nas hostes católicas e anglicanas, porém, estavam os principais representantes da nobreza e da intelectualidade artística e cientifica inglesas. Foram esses personagens, que fugindo da Inglaterra juntamente com a família Stuart, desenvolveram a partir do continente uma idéia de Maçonaria ligada á política, integrando os velhos sentimentos templários de vingança, que sobrevivera entre os escoceses e os franceses, ás esperanças stuartistas de ver restaurada no trono inglês a dinastia daquela família. Afinal de contas, os partidários do pretendente Stuart eram todos anglicanos, ou católicos jacobitas, como ficaram conhecidos os partidários daquela família real. (6)
É natural que essa Maçonaria desenvolvida a partir do continente refletisse a orientação católica, desgostando os maçons ingleses, partidários do protestantismo. Daí a movimento que resultou na fusão das Lojas londrinas, para criar uma nova Arte Real, que não obstante fosse patrocinada por pastores anglicanos, como Anderson e Deságuliers, por exemplo, adotaria uma postura sincrética em relação á religião, como convinha a um adepto do Iluminismo.(3)
Foi essa Maçonaria que emergiu das Constituições de Anderson, e que, mais tarde André Michel de Ransay, Charles Radcliffe, o Barão Hundt, Willermoz e outros, se encarregariam de desenvolver e promover, como novo credo das elites esclarecidas em todo o mundo. A esse credo eles associariam as tradições dos cavaleiros templários, cuja saga, estranha, misteriosa e curiosamente muito semelhante á dos maçons especulativos, veio a calhar para a construção de um mito.

AS  INFLUÊNCIAS DO RITO ESCOCÊS

Se os trabalhos das Lojas Simbólicas estão visceralmente ligados os antigos Mistérios egípcios e gregos, os graus superiores do escocismo estão umbilicalmente ligados á duas outras tradições, que são a Cavalaria e a Alquimia. Esses dois motivos, especialmente a Alquimia, como vimos, não são estranhos aos temas tratados nas Lojas Simbólicas, mas serão nos graus superiores que essa influência se fará sentir com maior profundidade.
A razão dessa influência não é difícil de perceber. Basta recuar um pouco na história, até o século XIV, ou mais propriamente o ano de 1314, quando um maltrapilho exército escocês, chefiado pelo rei Robert The Bruce, derrotou o fortíssimo exército inglês do Rei Eduardo II, na batalha de Bannockburn, conquistando a liberdade para a Escócia. Eduardo II, rei da Inglaterra , era genro de Filipe, o Belo, rei da França, responsável direto pela extinção da Ordem dos Templários e condenação á morte dos seus lideres, particularmente o Grão-Mestre Jacques de Molay. Na batalha de Bannockburn, muitos cavaleiros templários lutaram ao lado do rei escocês.
A filha de Robert The Bruce, Marjorie, havia desposado um certo cavaleiro chamado Walter Stuart, ao qual sucedeu como rei da Escócia. Para abrigar os proscritos cavaleiros templários em seu reino, o monarca escocês criou a Ordem de Santo André do Cardo. A razão de tal santo ter sido escolhido para patrocinar a nova Ordem só pode ser explicada a partir de referencias simbólicas, pois o santo em questão jamais pisou o solo escocês. Na verdade, André ( Andros em grego) é o mesmo que Lázaro em hebraico. Lázaro, como sabemos, é aquele que foi ressuscitado por Jesus. André, ou Lázaro, o ressuscitado, o que renasce das próprias cinzas, a fênix dos alquimistas, nada mais seria, portanto, que um simbolismo bastante apropriado para uma Ordem de cavaleiros místicos que se tomaria por herdeira dos míticos templários. R. Ambelain, um dos mais argutos pesquisadores dos assuntos maçônicos, nos fala dessa estranha relação: “ o misterioso André, por trás do qual se esconde um nome hebraico de circuncisão, outro não é senão Lázaro, ressuscitado. Daí sua participação no corpus dos alquimistas, onde se encontram símbolos como a Fênix, que renasce das próprias cinzas, e como por acaso, sobre uma fogueira formada unicamente por duas ou quatro achas de madeira, dispostas em cruz de Santo André.” (7)
Foi, portanto, esse cavaleiro templário o fundador da dinastia Stuart, que mais tarde, ocuparia, inclusive, o trono inglês. Em 1614 , o mago alquimista Johannes Valentin Andréas, (veja-se a coincidência de nome Andréas, André) lançaria o seu famoso manifesto Fama Fraternitates, que, historicamente, deu origem á lenda da Rosa-Cruz. Muito curiosamente, o brasão de armas desse mago era o mesmo utilizado por um ramo da família Stuart, de Lennox, o que nos leva a pensar que no inicio do século XVII, uma interação entre os Obreiros da Arte Real, os cavaleiros templários e os alquimistas já existia. R. Ambelain, sempre muito arguto, denuncia uma linhagem de reis maçons, que reinaram sobre a Escócia e a Inglaterra concomitantemente, muito antes das guerras puritanas e da Revolução Gloriosa, que apeou os Stuarts do trono inglês e os obrigou a se refugiar na França. Nela consta, por exemplo, James I (James VI da Escócia) , nascido em 19 de junho de 1596, morto em 27 de março de 1625. Foi esse filho da famosa rainha Maria Stuart que estabeleceu contato com diversos magos e alquimistas, oferendo a eles proteção e prestigio em sua corte. Foi esse rei que fundou também, em 1593, a Ordem Real da Rosa-Cruz, com trinta e dois cavaleiros da antiga Ordem de Santo André do Cardo.(8)
James I foi o pai de Carlos I, o monarca inglês decapitado pelos puritanos de Cromwel. Seguindo a tradição mística do pai, Carlos I constituiu, em 1645, o chamado Invisible College, por inspiração de filósosos alquimistas como Robert Boyle, Jean Sparow, Jacob Boehme e outros. Esse, portanto, o núcleo da Maçonaria dita escocesa, anterior ao seu desenvolvimento no continente, promovido pelos Stuarts exilados na França. A Maçonaria escocesa, propriamente dita, é portanto, uma derivação da Ordem de Santo André do Cardo, a qual, através do General Monck, chefe do exercito escocês, recebido “maçom aceito ‘ na Grande Loja de Edimburgo, constituiu a Ordem dos Mestres Escoceses de Santo André, que congregava exclusivamente partidários dos Stuarts. Foram os membros dessa Ordem que seguiram o ´pretendente ao trono inglês em seu exílio na França e fundaram as chamadas lojas militares, ou jacobitas, como então ficaram conhecidas. Daí o desenvolvimento de um ritual de duplo sentido, que ao mesmo tempo que evoca antigas tradições egípcias e gregas, temas alquímicos e gnósticos e o simbolismo do Templo de Jerusalém, reconstruído por Zorobabel, incorpora também motivos cavalheirescos, relacionados com os templários, e a restauração dos Stuarts no trono inglês.

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Notas

1.Publicado pela Biblioteca 24x7 com o título de Mestres do Universo 
2, Inefável é a qualidade daquilo que é impronunciável, sagrado. Os graus quatro a quatorze são assim chamados porque se referem principalmente á construção do caráter humano através da mística da Palavra Perdida, que é o Verdadeiro Nome de Deus. Embora somente a partir do grau dez em diante os temas se refiram expressamente a essa tradição, estão implícitos nas liturgias e no desenvolvimento filosófico de todos os graus, desde o quatro, que o que ali se propõe é uma jornada iniciática em busca da Gnose, da iluminação, que só ocorre com o encontro da Palavra Perdida, o Nome Inefável.
3.Eram calvinistas e luteranos a maioria dos imigrantes que fundaram as primeiras colônias americanas.
4.Os “cabeças redondas” foram assim chamados por causa do corte de cabelo que adotaram. Eram, em sua maioria, “puritanos” calvinistas. Já o anglicanismo era uma dissidência do catolicismo, fomentada pelo rei Henrique VIII no inicio do século XVI. Aquele rei inglês, famoso pelos seus inúmeros casamentos, separou a Igreja Católica inglesa de Roma, tornando-a uma unidade indenpendente, submissa ao próprio rei. Assim, o anglicanismo nada mais era que um catolicismo submetido ao rei ao invés do Papa. Com isso não podiam concordar os protestantes, particularmete os calvinistas, cujo ódio ao catolicismo era irreconciliável.
5.A teoria política que fundamentou a Constituição americana foi em grande parte baseada no Bill of Rights inglês. Uma porção considerável desse documento foi absorvida também pela famosa Declaração dos Direitos do Homem, na França.
6.Jacobitas era o nome de uma seita fundada pelo monge Jacob, o sírio, no ano 550 A.D. Essa seita sustentava a natureza humana de Jesus, como profeta e não como “filho de Deus” . Utilizava-se de palavras de passe, sinais secretos e toques para se reconhecerem, além de praticarem uma espécie de iniciação que muito se aproximava da Maçonaria desenvolvida pelo Rito Escocês. Daí o titulo que foi dado aos maçons que desenvolveram o escocismo, de jacobitas.
7.R. Ambelain, A Franco-Maçonaria, pg. 152, 153
8.Idem, pg.105
Jean Palou, no entanto, sustenta que esses graus estão mais ligados a tradições persas.

DO LIVRO CONHECENDO A ARTE REAL- ED. MADRAS, 2007
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/06/2011
Alterado em 05/06/2011


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