João Anatalino

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OS IRMÃOS DE HELIÓPOLIS


A tradição
 
As mais antigas tradições egípcias atribuem a um personagem lendário, chamado Menés (ou Merner) a façanha de ter unificado políticamente o Egito. Tendo unido num único reino as cidades do Alto e do Baixo Egito, ele teria  dado início à dinastia dos reis daquele país, os chamados faraós. Seu nome não foi registrado no documento que informa os nomes dos faraós, as famosas Pedra do Cairo e Pedra de Palermo, lista compilada em uma estela esculpida na V dinastia, encontrada nas ruínas de Mênfis, mas todos os historiadores antigos a ele se referem como sendo o primeiro rei a governar as terras do Egito em um governo unificado.[1] Segundo a tradição, ele teria herdado o trono diretamente do deus Hórus.
Na época da unificação (cerca de 3000 a C), o vale do Nilo já hospedava uma civilização bastante desenvolvida. Avançadas técnicas de agricultura, medicina, metalurgia e outros conhecimentos que caracterizam a existência de uma civilização já eram praticadas pelos povos daquela região.
Era crença antiga entre os egípcios que tudo isso lhes havia sido ensinado pelo deus Toth, que os gregos chamavam de Hermes (O Trismegistos). Ele instruíra os antigos sacerdotes e estes se tornaram os “iniciados” que deram ao Egito a grande civilização que os povos do Nilo possuíam desde tempos imemoriais[2]
Esses iniciados eram aqueles que naqueles tempos se chamavam de Mestres nas chamadas profissões sagradas, como tais eram consideradas as ocupações dos médicos, engenheiros, sacerdotes, astrônomos e homens de ciência, capazes de realizar grandes obras de engenho, interpretar a vontade dos deuses e interferir no curso da natureza, provocando chuvas, mudando o a direção dos ventos, transformando metais comuns em ouro, etc.
É dessa tradição, inclusive, que se origina a alquímia. Essa arte era praticada pelos sacerdotes egípcios desde os tempos pré-históricos. Foi derivada da prática da metalurgia, a partir da técnica de aplicação de banhos de ouro em peças de cobre, artesanato no qual eles eram peritos. Com o tempo começou a acreditar-se que os templos egípcios detinham também o segredo de fabricar ouro. Esses poderes eram atribuídos especialmente aos sacerdotes do santuário de Heliópolis, tanto que o alquimista Fulcaneli consagra uma de suas obras (O Mistério das Catedrais), aos Irmãos de Heliópolis. Jâmblico e os filósofos que escreveram a obra conhecida como Corpus Herméticus, também se referem aos poderes que seriam próprios dos sacerdotes desse santuário. Destarte, se Moisés foi realmente um sacerdote egípcio antes de tornar-se o líder dos hebreus, é possível inferir que ele também tivesse tido acesso a esses conhecimentos, o que justifica o caráter de mago com que ele aparece na Bíblia. Explica também a perícia de seu irmão Aarão na arte da metalurgia.[3]

Maçonaria operativa

 
Rezam também as antigas tradições que nos santuários egípcios a ciência da arquitetura era arte considerada sagrada. Conhecimentos secretos, aplicados á essa técnica, eram transmitidos de forma iniciática a uns poucos escolhidos, e conservados como segredo de Estado. É sabido que os egípcios eram notaveis construtores. Seus monumentais edifícios, construídos para servirem de tumbas e templos para suas divindades, resistiram ao tempo e à destruição que as guerras naturalmente provocam nas obras humanas.
 O termo pedreiro provavelmente foi cunhado nesses antigos tempos, quando as construções eram erguidas principalmente com pedras. Aplicava-se esse título tanto para aqueles trabalhadores que labutavam nas pedreiras, extraindo, cortando e trabalhando artesanalmente as pedras que seriam usadas na construção, quando para aqueles que as assentavam. Maneto informa que nesses antigos tempos esses profissionais da construção já haviam adotado a prática de organizar-se em confrarias, para preservar os segredos da profissão e defender os seus mercados, daí os autores maçônicos falarem da existência de uma forte maçonaria operativa entre os antigos construtores egípcios.

Registros históricos

Apesar da vasta literatura esotérica existente sobre o tema atribuir à classe sacerdotal egípcia uma vasta gama de segredos arcanos, os registros históricos são bastante concisos ao se referir a esse assunto. Na verdade esse caráter místico, esotérico, que a religião solar dos egícios assumiu foi mais uma obra dos filósofos gregos da chamada escola hermética.

Na verdade, até a revolução religiosa de Akhenaton, a hierarquia sacerdotal estava organizada muito mais para fins de adminsitração do Estado do que para fins religiosos ou iniciáticos. Não havia uma classe sacerdotal propriamente dita, mas sim ordenações sacerdotais que eram feitas pelos faraós, os quais escolhiam entre os seus súditos os membros do clero. Foi somente a partir dessa intervenção do faraó na vida religiosa dos seus súditos que a classe sacerdotal começou a se organizar de forma independente e ganhar poder. Data dessa época também o caráter místico que essa classe assumiu.   
 
A organização sacerdotal

A classe sacerdotal egípcia era bastante estratificada.
Havia a classe superior, que ostentava o título de hem-netjer, palavra que literalmente significa servo do deus, que pode ser traduzido por sacerdote. Porém, o Sumo Sacerdote era o próprio faraó. Só ele detinha o poder de intermediar a relação entre os homens e os deuses no Egito. Havia uma classe intermediária conhecida por wab, literalmente, os homens puros. E mais abaixo na hierarquia, havia os chamdos pais divinos, que não eram exatamente sacerdotes, mas participavam dos ofícios religiosos exercendo certas funções litúrgicas.
 
Em princípio as funções sacerdotais não eram privativas nem vitalícias. Os sacerdotes podiam ser destituídos pelo faraó e normalmente se fazia um rodízio entre os escolhidos. Cada grupo exercia a função por um período de tempo, geralmente três meses a cada ano. Homens e mulheres do povo podiam ser escolhidos para a função: camponeses que exploravam a terra sagrada, artesãos, dançarinas, músicos e outros profissionais. Seus serviços eram pagos em mercadorias, as quais, em princípio, eram de propriedade do deus patrono do santuário,
Os convocados para trabalhar nos templos ficavam também isentos de alguns impostos e geralmente podiam ser liberados dos trabalhos compulsórios que eram normalmente exigidos do restante da população, tais como abrir canais de irrigação, construir edifícios públicos, etc. Uma das obrigações que eles assumiam era o juramento de jamais revelar os segredos ou mistérios dos quais participavam nos templos.
 
Educação sacerdotal

Evidentemente nem sempre o faraó tinha de exercer as funções sacerdotais. Assim com o tempo essa função foi sendo delegada à um sumo sacerdote da sua escolha. Para alcançar essa honrosa posição era preciso que o candidato tivesse uma esmerada educação nas artes e nas ciências. Assim, logo se desenvolveu uma carreira eclesiástica organizada, com disciplinas curriculares, como leitura, escrita, engenharia, aritmética, geometria, astronomia, etc. Foi assim que os sacerdotes de Heliópolis, por tornaram-se os guardiães dos conhecimentos sagrados e ganharam reputação de sábios, reputação essa que perdura até hoje.
Um documento jurídico contendo o testemunho um sacerdote de Heliópolis, atualmente depositado no Museu de Turim, contém uma descrição das funções de um sacerdote egípcio. Esse sacerdote exerceu funções no santuário de Amon em Karnac entre 1310 e 1220  a C., no reinado de Ransés II. Seu nome era Bakenkhonsu. Nesse documento consta uma incrição a ele atrinuída que diz, textualmente:
Passei quatro anos como 11 anos como aprendiz, sendo responsável pela estrebaria de adestramento de Seti I. Durante quatro anos fui sacerdote puro de Amon. Durante 12 anos fui pai divino de Amon. Durante 15 anos fui terceiro profeta de Amon. Durante 12 anos fui segundo profeta de Amon. Ele me glorificou em reconhecimento ao meu caráter. Ele me investiu da função de gão-sacerdote de Amon durante 27 anos. Eu fui um bom pai para os meus subordinados, amparando seus descendentes, dando a mão aos que estavam angustiados, reanimando os que estavam na miséria, fazendo obras uteis em seu templo enquanto fui mestre-arquiteto de Tebas.
 
    Eis aí, portanto, na tradição dos Irmãos de Heliópolis, o vínculo que os liga á prática da moderna maçonaria. (...)
 
 
[1] A ele se referm Maneto, Apião e o grego Heródoto.
[2] O Corpus Herméticus é um conjunto de livros escritos por filósofos gnósticos nos primeiros séculos da era cristã, dando origem á chamada doutrina hermética..
[3] São esses conhecimentos que os Irmãos da Rosa-Cruz irão alardear em seus famosos Manifestos. Quanto a Aarão, irmão de Moisés, a sua perícia na arte da metalurgia é mostrada no episódio em que ele fabrica o bezerro de ouro. Aliás, só ele poderia “fabricar” um deus, pois essa era uma arte secreta, de exclusiva de sacerdotes iniciados.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 19/01/2012
Alterado em 19/01/2012


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