João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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MAÇONARIA-CEM ANOS DE HISTÓRIA

Não seria nenhum exagero dizer que a História do Brasil está umbilicalmente ligada à história da Maçonaria neste pais. Aliás, esse é um padrão que se repete em toda a história das nações do continente americano, desde o Canadá até o Chile, pois os libertadores da América, foram, em sua maioria, maçons.
Embora a Independência do Brasil tenha sido promulgada, de forma oficial, por um príncipe português, os planos e as ações que levaram Dom Pedro I a romper os laços da colônia com a metrópole foram arquitetados e realizados por maçons, sendo essa uma das primeiras intervenções da Ordem na História do país. Assim é que encontraremos os maçons José Joaquim da Rocha e José Clemente Pereira organizando o episódio que ficou conhecido como o Dia do Fico, acontecimento decisivo para o desencadeamento dos eventos que iriam desembocar na Independência do Brasil. E depois a atuação de do maçom José Bonifácio de Andrada e Silva, na tarefa de convencimento e assessoria ao príncipe Dom Pedro, na sua decisão de proclamar a Independência do Brasil. Podemos dizer, portanto, que a Independência do nosso país, foi de fato, uma obra da Maçonaria.
Também não é demais lembrar que o próprio Dom Pedro I foi feito Grão-Mestre maçom justamente com o objetivo de integrar sua condição de primeiro mandatário do país á crescente influência que a Ordem começava a adquirir no Novo Continente, influência essa que se fazia sentir entre a própria elite do Império. Mais tarde, no Ministério que governaria o país e consolidaria a sua Independência, iremos enconrar outros Irmãos de nomeada, como o já citado José Bonifácio de Andrada e Silva, Joaquim Gonçalves Ledo e vários outros eminentes brasileiros que ajudaram a consolidar a Independência do Brasil e organizar a nação brasileira como estado livre e democrático.
Essa história é conhecida e não é preciso discorrer muito sobre ela. Apenas lembraremos que o Grande Oriente do Brasil foi fundado concomitantemente aos eventos que fizeram a Independência do Brasil, e dada a influência que ele exerceu nesses acontecimentos, poderíamos dizer que a oficialização do movimento maçônico no Brasil, com a fundação do GOB, em 1822, ano da Independência, é  um episódio da história do país que deve ser contado juntamente com os demais acontecimentos que nos legaram um país livre. Destarte, qualquer História do Brasil que omita o papel da Maçonaria na libertação, constituição e desenvolvimento das suas instituições, bem como na formação da sua base econômica, social e polí-tica será incompleta.
Castelanni e Carvalho, em sua importante obra sobre a história da Maçonaria brasileira, listam os nomes dos maçons fundadores do Grande Oriente do Brasil, no histórico dia 17 de junho de 1822, quase três meses antes do Grito de Independência, proferido por D. Pedro I nas margens do Ipiranga. Alguns desses nomes são bastante conhecidos dos estudantes da História do Brasil. É impossível não concluir que esse evento não tivesse tido uma influência direta na Proclamação da Independência, já que a grande maioria dos maçons que assinam a lista de fundação do GOB eram figuras importantes na sociedade brasileira de então, algumas delas, inclusive, fazendo parte da corte do Príncipe Regente.[1]

Durante todo o século XIX, período em que o Brasil se firmou como nação independente, a Ordem maçônica se faria presente em todos os eventos históricos que fizeram a identidade do país e lhe deram relevo como nação. É assim que encontraremos maçons em todos os setores da vida nacional, emprestando seu talento, sua capacidade de trabalho, suas habilidades e seus dons de estadistas, ora promovendo a industrialização do país como o maçom Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, ora lutando pelos direitos humanos, como no caso da Abolição da escravatura, onde pontificam maçons históricos como Luis Gama, José do Patrocínio e o grande poeta Castro Alves. E depois, quando a necessidade política exigiu que o regime imperial fosse abolido e no seu lugar fosse proclamada a República, pois que esse era o regime adotado por todas as nações do continente, encontraremos à testa desse movimento novamente uma pleíade de maçons ilustres, tais como Joaquim Nabuco, Benjamin Constant, Nilo Peçanha, Deodoro da Fonseca, Quintino Bocaiúva, Silva Jardim, Prudente de Morais, Rangel Pestana e outros.
Assim, podemos dizer, que da mesma forrma que os maçons americanos forneceram os planos do majestoso edifício nacional que se tornaram os Estados Unidos da América, foram os maçons brasileiros que estruturaram o Brasil enquanto nação.
E aqui a analogia também é perfeitamente cabível. Planejar e construir o edifício social e político das sociedades em que se inserem é tarefa da Maçonaria. Da mesma forma que construir o edifício moral do homem, pois como bem estipula uma divisa da Ordem, na Maçonaria se “erguem templos à virtude e se constroem masmorras ao vício.”
 
Foi com esse mesmO espírito que a Maçonaria chegou a Mogi das Cruzes em 1912. Hoje, passados cem anos, são milhares de maçons na região, congregados em dezenas de Lojas, praticantes dos mais diversos ritos. É impossível medir, em termos de conquistas, realizações e contributos, o papel desempenhado pela Ordem na vida da sociedade mogiana nestes cem anos da sua existência. A história que aqui se registra pode ser, como acreditamos que seja, apenas a ponta de um iceberg, cujo verdadeiro contéudo permanesce oculto aos olhos do vulgo. Afinal, até por “dever do ofício”, o maçom tem que ser discreto e se manter nas sombras, evitando que a sua “mão direita saiba o que faz a sua esquerda”.
Aliás, as atividades essenciais de um maçom não são realizadas em Loja. A Loja, por definição é apenas uma assembléia de Irmãos, onde eles se reúnem para trocar os influxos energéticos que permitem que eles aperfeiçoem seu caráter pela interação de uns com os outros. As virtudes do maçom são exercidas no mundo profano, e devem ser julgadas pela probidade da sua vida pública, na honestidade com que conduz os seus negócios, na virtude da sua vida familiar, e principalmente nas contribuições que dá para a felicidade do seu próximo e o progresso da sua comunidade.
Nesse sentido podemos dizer que a Maçonaria mogiana tem sido fiel aos seus objetivos. Como idéia ela tem informado a vida moral e ética de milhares de pessoas que fizeram e fazem parte dos seus quadros. Como vimos, a atuação dos maçons na construção da sociedade mogina tem sido tão relevante nestes últimos cem anos que podemos afirmar, sem qualquer laivo de vaidade, que em praticamente todos os eventos que compõem a históra desta cidade, há um maçom envolvido.
Os poucos desvios de comportamento que foram registrados entre os membros da Ordem são exceções à regra e de nenhum modo representam qualquer motivo de constrangimento para a Instituição como um todo. Maçons são seres humanos e como tais devem ser julgados.
Todavia, como norma geral, a prática da Maçonaria, enquanto exercício de virtude é um padrão que tem sido observado pela maioria dos Obreiros deste município, e nesse particular, não há reparos a fazer. E por fim, podemos dizer que enquanto instituição, a Maçonaria tem preservado, com muito merecimento, o respeito que ela conquistou ao longo da sua rica história de vida.
Ao darmos à público o registro das atividades da Loja União e Caridade IV, por ocasião do centenário sua existência, percebemos a verdade das palavras do nosso grande Irmão Ralph Waldo Emerson, fundador do Transcedentalismo e arauto maior do pensamento positivo: “ (...) toda a história torna-se subjetiva; ou em outras palavras, inexiste propria-mente história; apenas biografia, escreveu ele, e é verdade. Aqui só comprovamos essa tese. A história da Maçonaria em Mogi das Cruzes, como de resto em todo o mundo, não é o registro das realizações de uma Instituição, mas sim a crônica dos feitos de homens valorosos, que acreditaram na virtude da participação e no valor da associação como forma de realização pessoal e principalmente no ideal de servir à sua comunidade.
Assim, ao escrevermos esta crônica do centenário da Maçonaria em Mogi das Cruzes cremos ter cumprido com o propósito maior de todo registro histórico, que é o de preservar as conquistas da sociedade e atribuir os devidos créditos às pes-soas que as possibilitaram. As omissões e os erros que aqui forem encontrados se devem principalmente a essa virtude dos maçons em serem concisos e discretos sobre seus feitos. Para o historiador isso é um problema, mas aos Irmãos que vierem a ler este relato e vericarem essas omissões, temos certeza que elas serão perdoadas.
Sabemos que muitas memórias e feitos realizados por ilustres Irmãos não serão encontados neste livro. Não tivemos tempo nem condição para levantar todo o material necessário para cobrir cem anos de uma riquissima participação comunitária de milhares de maçons valorosos, que deixaram importantes contribuições para a comunidade mogiana. E todos sabemos que as Atas das seções realizadas em Loja muito pouco registram das atividades profanas dos Irmãos, o que restringe em muito qualquer pesquisa que se queira fazer nesse sentido.
Por fim queremos registrar que estamos nos sentindo perfeitamente compensados pelo esforço empreendido nesta tarefa. Ao terminarmos este registro, o nosso sentimento é de muito orgulho por fazer parte de um seleto rol de pessoas, pródigas em virtude morais e extremamente ricas em comprometimento social.
Estas são as duas pernas do maçom. Elas têm suportado a caminhada da Maçonaria durante toda a jornada da sua longa  história, que começou alhures, em lugar e tempo ignorado, quando os homens descobriram a necessidade da união, a utilidade da associação e a virtude da participação
Que possamos exercitar essas pernas cada vez mais, para que, sempre fortalecidas por esse exercício de virtude que é a Maçonaria, possamos legar aos Irmãos dos séculos vindouros uma herança tão rica como esta que os nossos antepassados nos deixaram.

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do livro "CEM ANOS DE MAÇONARIA", a ser çlnçado pela LOJA UNIÃO E CARIDADE IV por ocasião do seu centenário.


[1] História do Grande Oriente do Brasil, op citado, pg. 21. Interessante também observar como os antigos Irmãos costumavam adotar apelidos de personagens famosos como Diderot (Joaquim Gonçalves Ledo), Pitágoras (José Bonifácio), Urtubie ( Francisco de Paulo Vasconcelos), etc.    
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 28/05/2012


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