João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


SAPOS EM PRÍNCIPES OU O PODEROSO CHEFÃO.

Só para lembrar: a Semântica é o estudo do significado de uma palavra, um signo, uma frase ou uma expressão em um determinado contexto. É pois, aquele ramo da Lingüística, que procura revelar o significado de uma comunicação, quando ela é expressa em linguagem, no contexto em que ela se insere.

Não sei se essa definição de semântica é boa, mas acho que é suficiente para prefaciar o que tenho em mente. Talvez os profissionais de lingüística não gostem dela, mas como eu não estou pretendendo escrever um artigo científico, mas apenas expressar um pensamento que me veio à mente quando estava assistindo o jornal da noite e o Bóris Casoi falou alguma coisa sobre a defesa que o advogado do José Dirceu apresentou, então não vou me preocupar com isso.

O advogado José Luis de Oliveira Lima, que defende o ex ministro José Dirceu no escândalo do Mensalão afirmou que seu cliente não praticou crime algum.  Apenas tinha um “projeto político” para o país, que envolvia naturalmente a manutenção do poder nas mãos do partido a que ele pertencia. Isso não é crime, mas sim ação política.
Exercício de semântica mais interessante do que esse só mesmo o do de Don Corleone, vulgo Poderoso Chefão, o inefável personagem mafioso do escritor Mário Puzzo, que matava seus inimigos por razões comerciais e não pessoais. “É apenas negócio”, dizia ele, enquanto seus capangas descarregavam cadáveres na porta da funerária do Sr. Bonacera.

Boa fórmula para aplacar razões de consciência. Nossos crimes não são crimes, são apenas negócios. Eliminar fisicamente os adversários é como remover obstáculos que poderiam comprometer os nossos objetivos. Aliás, nesse exercício de semântica, o Mário Puzzo foi um verdadeiro mestre, pois quem leu o seu famoso best seller “The Godfather”(o Padrinho), ou assistiu o filme, que cá entre nós ganhou o estranho título de o Poderoso Chefão, acabou achando até simpático o velho mafioso, que fazia justiça onde o Estado falhava e cuidava da sua “família” e dos seus interesses segundo uma ética toda particular e uma invejável noção de honra que faltaria a muitos políticos.
Ainda bem que os chefões do tráfico ainda não encontraram um Mário Puzzo, ou outro especialista em semântica para transformar em “projetos políticos” as suas sagas criminosas. Não que já não tenham tentado essa experiência, pois há aqueles que dizem que seus “negócios” são o meio que eles encontraram para lutar contra o imperialismo ianque que infelicita o mundo.

Mas os políticos corruptos e seus advogados sabem muito bem como aplicar essa técnica. Transformar sapos em príncipes é com eles mesmos. Nem os melhores practitioners de PNL conseguem tão bons resutados nessa arte de mistificar a realidade quanto um bom advogado na tribuna ou um político matreiro no palanque.
O meu querido mestre Paulo de Barros Carvalho, com quem tive o prazer de fazer o meu mestrado em Direito Tributário é um dos pioneiros no estudo nessas questões de semântica aplicada ao Direito. Suas pesquisas e ensinamentos nessa área são o principal foco dos seus cursos na PUC. Num prefácio que ele escreveu para a edição brasileira de um livro de Bandler e Grinder,os  criadores da PNL*, ele diz que o segredo de transformar um sapo em príncipe é o desejo do sapo em ser príncipe. “O sentir-se um sapo funda-se no desejo de ser príncipe, no desejo de ser amado. Pode talvez representar a aquisição de um direito. Ou, quem sabe, redimir a culpa de um desejo empostado em que se passou a acreditar”, disse ele.
O meu querido mestre há de me perdoar por evocar suas palavras para ilustrar o meu pensamento sobre essa questão. Não creio que o Dr. José Luis de Oliveira acredite realmente que o José Dirceu tinha em mente apenas a realização de um projeto de poder, visando a perenidade de um governo que ele sinceramente acredita ser o melhor para o país. Advogados não precisam acreditar que seus clientes são inocentes. Precisam saber costurar uma história lógica para justificar o que eles fizeram.
Isso não quer dizer que o José Dirceu não acredite efetivamente nisso.  Hitler também acreditava no seu Reich de mil anos, como Fidel Castro, Joseph Stalin, Pinochet, Pol Pot,  e outros ditadores  também acreditavam que estavam fazendo a felicidade de seu povo mandando fuzilar seus adversários. Harry Truman também deve ter acreditado que estava fazendo um bem para o seu povo quando mandou jogar bombas atômicas no Japão. Afinal, um dos pressupostos básicos da PNL ensina que "toda intenção é positiva", o quer dizer que tudo que fazemos, fazemos acreditando que estamos fazendo para o bem.
Isso é teológico. O Diabo não existe. Ele é só o lado oposto de Deus.  A semântica é uma coisa engraçada e até bonita quando é empregada na criação literária. E serve também para elaborar boas estratégias de terapia para ajudar pacientes a trabalhar estados de pobreza neurológica, que muitas vezes o impedem de superar os obstáculos que a vida lhe apresenta. Praticantes de PNL sabem muito bem como fazer isso. Mas precisamos ter cuidado quando ela é utilizada com o claro propósito de transformar sapos em príncipes. Nesse sentido , não podemos esquecer que a função de todo processo é colocar ordem no caos dos acontecimentos, dando a eles um sentido lógico para que a mente possa entendê-lo.
Na lógica do mundo real um sapo não vira príncipe só porque ele mesmo acredita nisso. Nem porque há pessoas querendo fazer com a platéia acredite. É verdade que ainda não foi possível á mente humana isolar um Olimpo sem teoria onde ela possa identificar apenas o que verdadeiramente acontece, mas se formos um pouquinho mais cuidadosos com as crenças que nos são oferecidas, talvez um dia os nossos sentidos consigam de fato aplicar com eficiência o princípio da identidade. Então uma coisa será uma coisa e outra coisa será de fato, outra coisa. Sapos serão sapos e príncipes serão príncipes. E usar dinheiro público para se manter no poder será o que verdadeiramente é – um crime− e não um projeto político, como o Dr. José Luís quer nos fazer crer.  
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*Sapos em Príncipes- Richard Bandler e John Grinder- Summus Editorial- São Paulo, 1982        
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/08/2012
Alterado em 09/08/2012


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