João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


OS COMERCIANTES AZARADOS


 
Uma gaivota, um morcego e uma coruja resolveram se associar para montar uma empresa comercial. O ramo escolhido foi a venda a varejo, de mercadorias importadas da China, tipo Loja $ 1,99. Depois de cumprirem todas as formalidades, tais como abertura de firma, registro na Junta Comercial, obtenção de CNPJ, IE, Inscrição Municipal, alvará de licença da prefeitura, etc. eles resolveram distribuir as tarefas.
O morcego, como tinha fama de hematófago (sabia sugar o sangue dos outros como ninguém), ficou com a parte financeira. Assim, a sua primeira medida foi correr a um banco e arrancar(ninguém sabe como) um empréstimo a juros baixos para financiar o capital de giro da empresa. 
Á gaivota, como era freqüentadora assídua do cais do porto, coube o encargo de despachar as mercadorias na alfândega. Afinal, todo mundo sabe que para se dar bem com os fiscais aduaneiros, a pessoa precisa ser “avião” e conhecer bem o ambiente do porto. E isso era com ela mesmo, pois nascera ali e era íntima de cada cantinho daquele local.
Quanto à coruja, todos sabem que ela é a mais sábia da espécie dos pássaros. Pelo menos ela nunca dorme de touca. Está sempre alerta, sempre vigilante, sempre de olho no negócio. E como todo mundo dizia que negócio nenhum anda sem o olho vivo do dono, á ela foi cometida a tarefa de administrar a loja e cuidar da segurança.
Assim, montada a empresa, distribuídos os cargos e cumpridas todas as formalidades legais, a GAMORCO Lda., Comércio e Representações iniciou as atividades importando logo de cara dois contêineres de 40 pés, lotados de mercadorias chinesas. Tinha de tudo no pacote. Bijouterias, materiais escolares, artigos de cama e mesa, de escritório, papelaria, canetas, enfim, tudo que se imagina encontrar numa loja tipo $ 1,99 estava nos dois contêineres.
O navio já estava próximo ao canal do porto. A gaivota, que nesse tempo todo, não parou de sobrevoar toda a orla do porto, já o havia avistado de longe. Excitada, logo avisou os sócios: - Nossa carga está chegando! Ela deve atracar amanhã cedo- disse ela.
E os três abriram uma garrafa de champanhe para comemorar, e claro, com tira gosto apropriado para cada um deles: peixe cru para a gaivota, chouriço para o morcego e vários tipos de insetos para a coruja.
Mas infelizmente o navio não chegou a atracar. Naquela noite, uma grande tempestade, com ventos de mais de 120 quilômetros por hora se abateu sobre o porto e afundou vária embarcações que estavam esperando ao largo para atracarem no cais. Uma delas foi o navio que trazia a carga da GAMORCO.
Todas as mercadorias foram parar no fundo do canal. E na euforia de abrir e começar logo a vender os seus produtos, eles se esqueceram de providenciar um seguro. Assim, a GAMORCO fechou antes de começar.
Por isso é que hoje a gaivota vive sobrevoando a orla marítima sempre com os olhos fitos no mar, como a esperar por um navio que nunca chega. O morcego internou-se na sua caverna e só sai á noite para não ser cobrado pelos credores e a coruja, coitada, esta nunca mais dormiu à noite, sempre temerosa que alguém venha tirar alguma coisa dela.
 
Todos nós fazemos escolhas erradas na vida e estamos sujeitos à acontecimentos fortuitos que nos trazem maus resultados. O que não podemos é ficar eternamente presos ao passado, como se um dia, aquilo que já aconteceu pudesse ser mudado.    



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 25/09/2012
Alterado em 26/09/2012


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras