João Anatalino

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MAÇONARIA- O SEGREDO DO GRAU 4
( O MESTRE SECRETO)

O Bezerro de Ouro

“E ele(Aarão), tendo-as tomado, formou com elas um bezerro de ouro fundido; e disseram: estes são teus deuses, Ó Israel, que te tiraram da terra do Egito.”Êxodo, 32:4

Quarenta anos no deserto Israel perambulou,
Purgando seus pecados até morrer a geração,
Que foi ingrata com o Senhor e dele duvidou 
Negando que foi Ele que os tirou da servidão.

Acamparam no Sinai, após muito peregrinar, 
Para que ali, no coração lhes fosse gravada,
A lei que faria de Israel uma nação modelar,
Pois aquela era de Deus a gente muito amada.

Mas enquanto Moisés com o Senhor se reunia
Para redigir aquela que seria sua Constituição,
O maligno conspirava e Israel se corrompia.

Ao bezerro de ouro o povo prestou louvores,
Mas Deus que não tolera idolatria e traição,
Fez a terra abrir a boca e engolir os traidores.

A influência israelita

    Em todos os nossos trabalhos a respeito da Ordem maçônica nós nunca nos afastamos da idéia de que ela é uma inspiração que tem como seu principal alicerce a Israel bíblica. Os maçons que conhecem bem a Bíblia e também estudaram mais a fundo os seus rituais, conseguirão, com certa facilidade, identificar nas histórias constantes do livro sagrado, todas as metáforas e tradições litúrgicas que instruem o catecismo maçônico, em todos os seus graus.
     É verdade que muitas das tradições cultivadas na maçonaria têm sua origem em outras culturas, como as referências que se fazem aos Mistérios de Mitra, a filosofia de Pitágoras, aos temas gnósticos e alquímicos que aparecem nos ensinamentos dos graus superiores, mas todos, de alguma forma, são temperados com alguma pitada de tradição israelita, e estas podem ser facilmente recenseadas na liturgia dos rituais, em cada grau específico.
    O tema do Bezerro de Ouro é, claramente, uma alegoria que procura demonstrar o erro em que incorrem aqueles que se prostram diante de ídolos, se esquecendo que a única divindade a quem se deve prestar culto é o Grande Arquiteto do Universo, isto é, Deus, como Princípio Único e Verdadeiro Poder, sem paralelo nem parceiro, nem adversário a quem se deva temer.
     Por isso não encontraremos nos templos maçônicos nenhum ídolo, nenhum ícone, nenhuma figura, ou de coisa que supostamente exista no céu ou na terra, a quem os maçons devam prestar alguma reverência. Os desenhos que ornamentam os templos são apenas adereços e símbolos que constituem parte da linguagem maçônica, pois sendo a maçonaria um sistema de pensamento e uma forma de viver, ela tem, como todas as culturas, a sua própria linguagem.
     Dessa forma, os símbolos encontrados nos templos maçônicos, representando o sol, a lua, o Olho Onisciente, a corda de 81 nós, a abóbada celeste, instrumentos de trabalho do pedreiro, etc. são apenas elementos de linguagem que veiculam tradições compartilhadas pelos maçons, cujos núcleos preservam importantes ensinamentos de ordem moral e filosófica, que no mais das vezes escapam à atenção dos Irmãos quando recebem o ensinamento dos respectivos graus aos quais são elevados.

A questão da idolatria

    Reportamo-nos principalmente aos ensinamentos do Grau 4, o chamado Ritual do Mestre Secreto, quando o Irmão é introduzido nos segredos dos Graus Capitulares. Ali encontraremos a primeira advertência sobre a questão da idolatria, quando, ao realizar as três viagens simbólicas, ao candidato á elevação é dito:

1. Jamais façais imagens talhadas na pedra, á semelhança das coisas que estão no céu, para adorá-las.(primeira volta)
2. Não façais deuses de metal. Quando dirigirdes os vossos olhos para a abóboda celeste, e nela virdes o sol, a lua e as estrelas, não, lhes dirijais culto algum, como faziam os povos de outrora.(segunda volta)
3. Não atribuais a Deus (o G.’.A.’.D .. U.’.) paixões e vícios humanos. Nunca deis o Nome Dele aos fantasmas que vossa imaginação engendrar! (terceira volta).

     Essa liturgia é claramente inspirada no episódio do Bezerro de Ouro.  Essa passagem, por todos conhecida, se refere ao momento em que o povo de Israel fraquejou em sua crença no Grande Arquiteto do Universo e recaiu na idolatria tão comum aos antigos povos, especialmente o povo egípcio, idolatria essa que a religião implantada por Moisés estava tentando, com todas as suas forças, abolir.  

A história

Diz a Bíblia (Êxodo, 12;37) que o número dos israelitas que saíram do Egito no Êxodo foi de seiscentas mil pessoas, sem contar as crianças. Guiadas por Moisés, eles saíram da cidade mausoléu de Ransés II, pela planície de Socot, atravessando o Mar de Juncos, uma estreita faixa de terra alagada que contornava o Mar Vermelho. Dali se dirigiram para o deserto do Sinai, para onde o Senhor, pela mão de Moisés, os guiou. Ali, segundo instruções do Senhor, Ele inscreveria na mente e nos corações dos filhos de Israel os seus mandamentos.
E assim eles acamparam na base da montanha, enquanto Moisés subia para receber das mãos de Deus as tábuas da lei. Mas como Moisés demorasse demais na montanha, os israelitas se impacientaram com a falta de comida e com as privações que estavam passando; e aproveitando a ausência de Moisés, alguns indivíduos mais afoitos armaram uma rebelião e obrigaram Aarão a fundir um bezerro de ouro para servir-lhes de divindade.
E depois dançaram e fizeram um grande festim em volta do ídolo. Quando Moisés desceu da montanha com as tábuas da lei nas mãos, viu a idolatria em que seu povo havia recaído, e assim, irado em extremo, quebrou as duas pedras onde Deus havia gravado os Dez Mandamentos e chamou contra os pecadores um terrível castigo, fazendo a terra se abrir e engolir milhares de idólatras.

Simbolismo iniciático

É possível perceber, na narração desses fatos, o sentido ritualístico e simbólico que lhe são dados, abordando principalmente a questão da idolatria. As obras de antigos escritores como Maneton, Apion, Flávio Josefo, Filo de Alexandria e outros, sugerem ser a saga dos hebreus, conforme descrita no livro do Êxodo, uma autêntica jornada iniciática, na qual o povo de Israel foi iniciado numa experiência muito próxima à maçonaria, pois o estado que Moisés criou para os israelitas assemelhava-se a uma Fraternidade regida pelos princípios da liberdade e da igualdade, lemas e divisas que a Ordem maçônica iria defender como principais postulados.   
Essa é a razão, a nosso ver, de a maçonaria moderna estar tão ligada ás tradições da Israel bíblica, sendo a maioria dos seus temas desenvolvidos com base em histórias, metáforas, lendas e motivos constantes do Velho Testamento.
Eis porque entendemos que o catecismo do Grau 4 está estreitamente vinculado ao episódio do Bezerro de Ouro, pois o que se  releva no ensinamento deste grau é a fidelidade irrestrita ao Grande Arquiteto do Universo e a condenação sistemática e firme de toda idolatria, seja ela religiosa, política, carismática ou qualquer outra, onde o culto ao Grande Arquiteto do Universo seja dividido com outros tipos de manifestações espirituais. Deus é Um e só a ele devem ser dirigidas as energias do nosso espírito. Essa disposição está claramente expressa no discurso iniciático do grau que diz textualmente:

(...) este Ritual é uma tradição litúrgica. Nossos antepassados assim o praticaram.(...) É uma espécie de retrospecção arqueológica que respeitamos e cultuamos. (...) Essas ingênuas sentenças traduzem, de modo empolgante, a suprema e perpétua preocupação da Maçonaria, isto é, a derrubada de todos os ídolos. Preconceitos ou superstições, mentira e ignorância, milagres ou tiranias, ídolos religiosos ou políticos, a Maçonaria procura, desde a Antiguidade, sempre combater pacificamente. (...)A idéia de um Deus único, clarividente e justo, era a mais alta concepção de que o homem era capaz(...).

Eis, portanto, a primeira inspiração dos graus capitulares, extraído do episódio do Bezerro de Ouro. Ela releva a virtude da fidelidade. Por isso está expressa no primeiro dos mandamentos do Decálogo: “Não terás outros deuses diante de Mim.”(1)

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(1) Cf o Ritual do Grau 4
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 01/02/2013
Alterado em 01/02/2013


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