João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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DEUS É MASCULINO E FEMININO
 
 E da costela que tinha tirado de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher; e a levou a Adão. E Adão disse: eis aqui agora os ossos dos meus ossos e a carne da minha carne (...)”. Gênesis, 2;22.
 
 
E no princípio Deus fez o céu e a terra,
Pela potência da sua Vontade exercida.
Para dar sentido ao que nela se encerra,
Povoou-a com diversas formas de vida.
Foi assim que se formou o reino animal,
Com criaturas da terra, da água e do ar;
E para dar remate a essa obra magistral,
Ele fez o homem, sua criatura modelar.
Do pó da terra elevou o homem Adão;
Com um sopro fez dele um ser vivente.
Multiplicar-se  lhe foi dado por missão;
E para garantir a produção do resultado,
Fez a mulher, a criatura surpreendente,
Que todo homem necessita ter do lado.
 
                       
Para a ciência, o nosso universo nasceu no Big Bang, a grande explosão que deu origem a tudo isso que vemos, ouvimos e sentimos. Explosão de que?  De um corpo celeste que concentrava uma inimaginável quantidade de energia, tão densamente carregado, que não podendo suportar a pressão interna da sua própria carga energética, “derramou-se” para fora de si mesmo, dizem os cientistas. Essa é uma interessante metáfora para figurar um evento que talvez jamais venhamos a saber como efetivamente ocorreu. Mas, falando assim, dá para lembrar um  parto. Uma criança nasce quando chega a hora. Quando a pressão que ela faz no útero da mãe chega ao ponto em que ela não pode mais continuar dentro dele.
A ideia do Big-Bang é interessante, mas não é de modo algum original, nem pode ser considerada como uma descoberta científica. Há muito que os sábios cabalistas, os filósofos taoístas, os cultores da cosmogonia vedanta  e os filósofos gnósticos já vinham dizendo isso. Que o universo "nasceu" de uma certa maneira. Semelhante á que Deus criou para as espécies vivas.
Nesse sentido, um cientista não é menos imaginativo do que um astrólogo egípcio, dois mil antes de Cristo, que via o universo nascendo de um ovo, (o ovo cósmico) ou um poeta hindu do século III a C, que dizia que “antes da sua forma atual, Vixinu-Xiva descansava no nada cósmico, prenhe de suas múltiplas vidas”. Ou então do sábio cabalista que, perguntado sobre o que era Deus, respondeu simplesmente: Deus é pressão.

Que corpo era esse que explodiu e que energia era essa que espalhou-se pela escuridão cósmica, ninguém foi ainda capaz de definir. Os cientistas chamam esse corpo de Singularidade e á energia que possuia eles chamam de ondas e partículas, que recebem nomes estranhos como quarks, elétrons, fotons, bósons etc. Os livros religiosos chamam esse corpo de Deus e á energia que ele expeliu de luz. Veja-se, por exemplo, a descrição que a Bíblia dá ao fenômeno da criação do universo físico. “No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém estava informe e vazia e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa. E separou a luz das trevas.”
O texto acima foi escrito por um, ou por vários rabinos (sacerdotes da religião judaica), que por sua vez devem ter se inspirado em teorias cosmológicas que já eram ensinadas na época em que a Bíblia começou a ser compilada. A teoria do Big-Bang também foi formalizada por um padre, Georges Lemaître (1894-1966), inspirado em teorias desenvolvidas anteriormente formuladas por Albert Eisnten e Alexander Friedmanm. Todos eles deduziram suas teorias observando o que acontece na intimidade da matéria, o mundo dos átomos, que é feito essencialmente de energias que são decompostas em luz...
Isso nos mostra o quão difícil é desvincular ciência e religião, quando se trata de estudar as causas primeiras do universo. Por isso, os livros sagrados de todas as religiões do mundo, sejam elas reveladas ou metafísicas, sustentam que o universo começou pela ação de uma divindade, que de alguma forma, deu início a todas as realidades cósmicas.
No fundo, a visão taumatúrgica dos antigos mestres da religião, de maneira nenhuma contrasta com a visão cientifica dos modernos cientistas do átomo e da cosmologia. Ambas mostram um universo nascendo de um centro primordial que, não podendo conter em si a formidável densidade energética que acumulou, explodiu, enchendo de luz o vazio cósmico; E e a luz, por um processo de condensação, ou de resfriamento, como diz a ciência, (a luz era boa, como a diz a Bíblia) se transformou no universo como hoje o conhecemos.
Assim podemos dizer que galáxias, estrelas, planetas, são condensações de luz. Os cientistas dizem que se a gravidade for retirada do universo, a luz também desaparecerá e todo o universo desabará sobre si mesmo.
Um padre, Teilhard de Chardin, escreveu que existem no universo duas forças primárias que regem a sua formação: a lei da expansão, que é a energia primária que emanou do Big-Bang e a lei da contração, que força o universo a se organizar através de sistemas.
A explosão inicial fez a luz viajar em todas as direções e desde então o universo está em constante expansão. Essa força, essa energia inicial, gera a imensidade de matéria que nele existe, ao mesmo tempo que provoca um imenso caos, pois a luz, viajando em todas as direções, não tem direção nem organização. É como uma bomba que explode e atira fragmentos de si mesma para todos os lados. Esses fragmentos são partículas, ou ondas, de energia, que se convertem, através de um processo ainda desconhecido, em matéria física. Desde a grande explosão o universo está em constante expansão.  Por outro lado, há outra força, atuando em sentido contrário á primeira (a impulsão), que faz que o universo se organize, deixando de ser um imenso caos sem sentido nem finalidade, como se fosse uma manada de bois estourada, correndo em todas as direções. Essa força é dada pela gravidade, que força os corpos menores a permanecerem girando em volta de corpos maiores. Através da gravidade, a força inicial, que impele o universo a uma incontrolável expansão, é controlada através de uma retração, ou seja, uma força que atua no sentido contrário à expansão.
Assim se formam os sistemas cósmicos, ou seja, as galáxias e os sistemas solares.

Nasce dessa forma uma organização no céu, que é o imenso, da mesma forma que a matéria bruta e a matéria orgânica também assim se organizam, no ínfimo.  A primeira é feita de átomos, os átomos se juntam para formar moléculas e as moléculas se juntam para formar os elementos químicos. Da mesma forma, a matéria orgânica se forma a partir de células que se juntam para formar moléculas e estas se reúnem em sistemas.  E assim também evoluem os sistemas nucleares da vida e da sociedade, que se organizam em células, organismos, grupos, famílias, colônias, nações e por aí adiante.
Assim, a aceleração e gravidade são duas forças contrastantes que “lutam” no infinito cósmico. Mas não são conflitantes, pois elas se complementam, promovendo o equilíbrio universal. Na filosofia chinesa essa força é chamada de Tao, o princípio que tudo gera e mantém um perfeito equilíbrio entre masculino/feminino, ou yang/yin. Essas forças são como as margens de um rio. Uma precisa da outra para manter a torrente em equilíbrio. Sem duas margens antagônicas que a represam e ditam um curso a ser seguido, não existe rio. Da mesma forma, a energia do universo não fluiria de maneira organizada, para um fim determinado.
Isso mostra que só pode haver equilíbrio na presença de duas forças semelhantes. E Criação também. Na dinâmica da Bíblia, a ação divina precisou de duas forças contrárias para dar início à criação do mundo. A Luz e as Trevas. E simbolizou uma delas como noite, outra como dia. Ou, para dar símbolos mais precisos à essas forças, deu o nome a uma de sol, a outra de lua. E na dinâmica da criação da vida, de macho e fêmea. Ou para situar algo mais perto de nós, chamou essas forças de homem e mulher.
Por isso um é yin outro é yang. Um é sol, outro é lua. Um é caos, outro é organização. Um é aceleração, outro é gravidade. Um não pode existir sem o outro. Assim se conclui: Deus é masculino e feminino. E assim, tudo se completa.  
 
 
 
 
 
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/07/2014


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