João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


DILMA, O PARAÍSO E A PARÁBOLA DOS TALENTOS
 
O discurso de vitória de Dilma Roussef foi previsível. Afinal ela não seria louca de destilar mais ódio e virulência do que já foi destilado na campanha. Seu discurso foi conciliador e, diríamos, bastante promissor. Vai promover a reforma política, a reforma tributária e combater, com unhas e dentes a corrupção. Providenciar para que a economia possa crescer e os empreendedores voltem a confiar no país. Por que não fez isso até agora, não se sabe, mas ela merece um voto de confiança. Afinal de contas, mesmo que um bandidão como o doleiro Youssef ande dizendo que ela sabia de tudo que seus aliados andavam fazendo na Petrobrás, até agora, nada foi provado. Até prova em contrário ela deve ser considerada honesta e digna.
Se ela vai ter condições de cumprir o que o que está prometendo é outra coisa. Com esse Congresso que está ai a gente tem razões para duvidar. Oitenta por cento dos políticos que estavam lá nos últimos dez anos continua em seus postos. Se não deixaram mudar nada até o momento, não é crível que deixem agora, só por conta dos desejos da presidenta.
Que o país precisa de reformas urgentes na sua estrutura político-administrativa, isso ninguém duvida.  Não dá mais para continuar com um sistema político representativo que não representa ninguém. Quem se lembra do deputado em quem votou depois de dois meses da eleição? Hoje só consegue ser eleito quem faz parte de uma boa coligação partidária ou tem dinheiro (ou um nome popular como Romário ou Tiririca) para comprar voto ou pagar um bom marqueteiro. A política, que é a mais nobre das artes (o interesse da pólis, o bem estar da comunidade) virou profissão de malandro.
O atual sistema político foi montado justamente para favorecer a malandragem. Por isso, qualquer reforma que tenda a moralizar esse sistema corrupto e viciado dificilmente será aprovado por esse Congresso. Político não dá tiro no pé. Quantos desses sujeitos que foram ungidos nesta eleição estariam lá se, por exemplo, o voto fosse distrital? Quantos seriam eleitos se as coligações partidárias, que no fundo nada mais são que projeções das oligarquias nacionais no cenário político, não os apoiassem? E no cenário municipal, quantos dos nossos milhares de vereadores ainda participariam das eleições se os cargos de vereador fossem preenchidos, por exemplo, por voluntários?
Claro que tudo isso é pura ingenuidade romântica da minha parte. Eu sei disso. Como disse o Chico Buarque em uma de suas canções “talvez o mundo não seja pequeno nem seja a vida um fato consumado”. Então tudo que a gente pensa, deseja e sonha seja apenas a ilusão de uma alma que foi expulsa de um paraíso de delícias e condenada a ganhar a vida com o suor do seu rosto. E por isso vive sonhando com a utopia. Meu conselho para Dilma é que ela esqueça as suas convicções marxistas (se é que já não esqueceu) e comece a ler a Bíblia, especialmente o livro do Êxodo. Para saber que nem Deus dá nada de graça para ninguém. A Terra Prometida foi conquistada com suor e sangue. O pão de cada dia, a cada dia deve ser conquistado, como diz o personagem do João Cabral de Melo Neto. E também não esqueça a parábola dos talentos. Quem recebe alguma coisa tem a obrigação de devolver, pelo menos, o juro do capital que recebeu.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 28/10/2014
Alterado em 28/10/2014


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