OS “MALFEITOS”DA DILMA
Delfin Neto disse certa vez que o tucano era um urubu de papo amarelo, muito bom de bico, mas não passava disso. O velho tzar da economia dos anos de chumbo da ditadura, que teve um papel relevante no endurecimento do regime militar (ninguém esquece que foi ele que pediu para o Costa e Silva mandar os escrúpulos de consciência ás favas e assinar o AI- 5), talvez tenha até suas razões. Tucano é um pássaro muito bom de bico mesmo. Afinal, precisa mesmo ter um bico forte para quebrar a casca dos frutos que ele come. E na política não deve ser diferente.
O tempo passa e parece que continua tudo igual neste país. Delfin Neto ainda está vivo. Não se passou mais de uma geração e já tem gente pedindo a volta dos militares. Dizem que a loucura humana não tem limite. É verdade. Mas a memória tem. Ela é mais curta que coice de porco. Será que a História não ensina nada para nós? Ou será por que os governos brasileiros, todos eles, sem distinção de partido, baniram a História dos currículos escolares?
Cícero, o velho Cícero, arauto da República romana, em um discurso contra a pretensão de Júlio César de se tornar imperador, disse que preferia um pouco de corrupção republicana com liberdade do que uma ditadura virtuosa sem nenhuma liberdade. Eu também. Com liberdade se pode lutar contra a corrupção. Sem liberdade, nem isso. E depois, quem disse que farda é remédio contra a corrupção? Que general, coronel ou qualquer outro indivíduo que vista uma farda está isento contra o vírus da corrupção?
Quem está pedindo intervenção militar e o impedimento de Dilma não sabe o que está fazendo. Espero que a já combalida democracia brasileira tenha força suficiente para suportar os maus tempos que estão para vir. Que as nossas instituições estejam suficientemente cimentadas para aguentar esse vendaval que a falta de ética e o mau caráter dos nossos políticos, e principalmente o clima de impunidade que impera no pais, estão provocando.
Mas aos jovens que estão indo para as ruas pedindo intervenção das Forças Armadas e quebra da ordem institucional fica aqui um aviso: ditaduras, sejam de direita ou de esquerda, nunca fizeram a felicidade de povo algum, em nenhum lugar, em qualquer momento da História. Sejam ditaduras civis, conduzidas por caudilhos sanguinários como Fidel Castro, Fulgêncio Batista, Hitler, Anastácio Somoza, Bashar Assad, etc. ou militares como a que amargamos durante mais de vinte anos , e também a Argentina, o Chile, e os demais países latino-americanos com seus ridículos ditadores de opereta. Está mais que na hora de enfrentarmos nossos problemas de frente ao invés de ficar chamando "messias" de farda ou de gravata para resolvê-los com atos de força ou truques de política.
O grande Capistrano de Abreu, ao comentar sobre a corrupção que existia já no Império e continuou viva na Velha República, propôs que toda a Constituição brasileira fosse substituída por dois artigos: 1º - Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara. 2º- Revogam-se as disposições em contrário. Essa ideia já comemorou o primeiro centenário. Mas continua tão fresquinha como se tivesse saído do forno agora.
E a Dilma disse duas coisas interessantes que explicam esse momento que estamos vivendo agora: primeiro, que ela não compactua com “malfeitos”. Tudo bem. Se fosse “bem-feito” não teria tido problema algum. Talvez essa seja a diferença entre os petistas e os tucanos. Os últimos fazem a coisa “bem-feita” e ninguém consegue pegar. Petista é tão incompetente que não sabe nem roubar. A outra coisa que ela disse é que o Brasil não se abala com um escândalo. É verdade. São tantos que já se tornaram uma coisa banal. Qual será o próximo? As ONGs do PT?
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 16/11/2014
Alterado em 19/11/2014
