João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


LULA, GETÚLIO E O ETERNO RETORNO
 
Getúlio Dornelles Vargas nasceu em São Borja, RS, em 19 de abril de 1882 e morreu no Rio de Janeiro em 24 de agosto de 1954. Formado em direito, adotou a política como profissão, tornando-se líder civil da Revolução de 1930. Com esse golpe de estado, Getúlio se tornou o primeiro caudilho brasileiro a interromper um governo constitucional republicano e colocar o país na triste rota dos Cem Anos de Solidão que Gabriel Garcia Marques descreve no seu famoso romance.
 
Lembrei-me disso porque ontem vi o filme de Carla Camurati que trata dos últimos dias do Getúlio no poder. E recordei, com saudade, da minha mãe, que era macaca de auditório do Getúlio, achando que ele era um verdadeiro santo. Lembro-me como ela chorou em 1954, quando soube da morte inglória dele. Veio-me á memória também outra pessoa que eu tinha no coração, junto com a minha mãe, a minha professora Geraldina Porto Witter. Esta não poupava críticas ao Getúlio. Ditador, populista, caudilho, golpista e coisas tais, eram os títulos que ela lhe dava. Eu tinha dez anos e não sabia o que queria dizer tudo aquilo, mas entendia que ela não gostava dele. Isso gerou um conflito em minha mente de criança. Como as duas pessoas que eu mais gostava no mundo podiam ter ideias tão diferentes a respeito da mesma pessoa?
 
Minha mãe era analfabeta e viúva de meu pai, que morrera quando eu tinha oito anos. Vivia dos trabalhos domésticos que ela fazia ─ hoje a chamaríamos de diarista─ e recebia uma pequena pensão do estado por conta do fato de meu pai ter morrido de hanseníase (programa social do Getúlio). A Dona Geraldina era professora primária e já estava fazendo faculdade. Torna-se-ia, mais tarde, uma das mais respeitadas intelectuais do país, na área da educação. De um lado o amor, de outro a responsabilidade. Devo a estas duas mulheres tudo que sou e fiz.
 
Evoquei essas memórias por conta dos momentos que o país está vivendo. Os profissionais que trabalham com a disciplina chamada PNL─ Programação Neurolinguística ─ sabem o que significa o termo modelagem. Para quem não sabe, explico, de maneira sucinta, que modelagem é a adoção psicológica e cultural de um modelo comportamental que a gente admira e gostaria de desenvolver. Qualquer coisa assim como, “se você quer ter resultados semelhantes ao que Walt Disney teve, descubra tudo sobre e ele e copie”. Tem muito a ver com a teoria dos arquétipos, que o psicanalista Carl Gustav Jung desenvolveu, embora os praticantes de PNL ainda não tenham se dado conta disso. E se alguém se propuzesse a explicar isso pela teoria da reencarnação, talvez conseguisse desenvolver uma boa tese.
 
Acho que esse é o grande problema da nossa pobre América Latina. Nós vivemos copiando, inconscientemente, os mesmos modelos fracassados de sempre. O Getúlio se dizia “o pai dos pobres” e o Lula não quer fazer por menos. Getúlio era o “Messias dos trabalhadores”, deus do PTB e PDT, e o Lula, não por acaso, tem o PT como seu andor. É preciso dizer mais alguma coisa para explicar a modelagem que o Lula tenta fazer do Getúlio?
Não por acaso também, lembramos que o principal rival (em termos de populismo) do Getúlio era o inefável Juan Domingos Peron, na Argentina. Dois ditadores que flertaram abertamente com o fascismo e com o nazismo. E agora, temos a ridícula Cristina Kirchner na Argentina tentando modelar a não menos “mamacita” Evita Peron. E o PT da Dilma e do Lula flertam com o não menos ridículo Maduro da Venezuela, como já flertaram com os jurássicos irmãos Castro de Cuba, que congelaram no tempo a mais bela ilha do Caribe e só agora começaram a descongelar. Será que a teoria da reencarnação também se aplica aos povos e não apenas aos indivíduos? Ou será que Nietszche explica isso melhor através da sua bizarra ideia do eterno retorno?
O populismo getulista nos deu a bela herança de vinte e cinco anos de ditadura militar, com o breve intervalo do JK e seu “milagre brasileiro”. Depois veio o Jânio e o Jango e o resto a gente sabe. Agora já tem gente nas ruas pedindo a volta da ditadura militar. Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, em 15 de setembro de 2010, pela lei nº 12.326 (governo Lula). Há quem diga que o Lula é o maior estadista que o Brasil já produziu. A Dona Geraldina faleceu em março deste ano. Não sei se ela mudou de idéia a respeito do Getúlio. Eu, aqui dos meus setenta anos, também não sei mais o que pensar. Mas espero, de coração, que um dia esta nossa pobre América Latina possa aprender a modelar coisa melhor. E que descubra, de uma vez por todas, que povo que vive á espera de “salvadores” não merece ser salvo.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/12/2014
Alterado em 29/12/2014


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