João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


MARTA SUPLICI, A MADAME DESILUDIDA
                                              
Marta ex- Suplici resolveu abrir a caixa de ferramentas contra o seu partido, o PT. Isso é normal. Acontece em toda experiência onde os ideais que motivaram o surgimento do grupo acabam convergindo para outras finalidades. Não é que o PT tenha se transformado em uma quadrilha nem que tenha sido montado com a finalidade de saquear o país, como alguns dos seus membros e aliados vem fazendo. Provavelmente quando o PT foi fundado, seus objetivos eram honestos e decentes. E assim continuaram até que o partido assumiu o poder. Aí, o dinheiro começou a entrar, a grana começou a rolar, e os petistas, na maioria, gente vindo das classes pouco aquinhoadas em termos de dinheiro, tiveram os olhos ofuscados pelo brilho do ouro e não deu outra coisa. A ambição e a cobiça substituíram as boas intenções. O dinheiro e o poder corrompem e muito dinheiro e muito poder corrompem absolutamente. Não há nenhuma novidade nisso. Aconteceu na Rússia quando os bolchevistas tomaram o poder. No início eles eram todos idealistas que queriam ver a felicidade geral da nação. Odiavam a estratificação social que separava o povo russo em grandes senhores abastados e pobres mujiques que viviam dos restos que caiam das suas mesas. O evangelho bolchevique era mais bonito que o evangelho dos primeiros cristãos. Tudo pertence a todos. A cada um conforme o seu mérito, a todos conforme a Justiça. Tudo foi bem até descobrirem que os dedos da mão não são iguais e que quem conquista o mérito é também aquele que define o que é Justiça. Quem tiver dúvida disso que leia, ou se lá leu, releia Maiakovsky. Um poeta que pregava um idealismo maravilhoso, de quem acreditava, de verdade, que um partido político pode realizar a utopia do estado social perfeito. Cristo morreu por esse ideal e Maiakovisky, quando viu que todos seus sonhos estavam sendo desmentidos pela prática, deu um tiro na cabeça.
Marta é uma das exceções dentro da fauna petista que não teve uma origem modesta. Ela e seu ex-marido Eduardo ostentavam um nome de peso na sociedade paulistana e devem ter entrado para o PT por idealismo mesmo. Como muitos outros, aliás. Eu me lembro bem do PT original. Seduzia qualquer espírito que tivesse uma sensibilidade voltada para os problemas sociais. Eu mesmo senti essa sedução nos dias da minha juventude, quando o nosso principal anseio era pela volta do direito de escolher o próprio destino, direito esse que havia sido escamoteado por outros “redentores” vinte anos atrás. Sonhávamos substituir os redentores de farda pelos redentores de macacão. O sonho foi realizado, mas hoje eu já não sei mais se o que sonhei naquele tempo foi mesmo sonho ou um pesadelo. Pesadelo de Maiakovsky.  
Ainda bem na minha idade já aprendi a ver as coisas apenas como experiências que acontecem. Umas dão certo, outras não. Uma trazem bons resultados, outras produzem resultados ruins. Assim não vou precisar dar um tiro na cabeça por causa da minha decepção com o PT. A Marta também não. O petismo, tal como o bolchevismo, o fascismo, o chavismo, o castrismo e todas as doutrinas politicas, cujos autores julgam ter a fórmula da redenção social tem em comum o mesmo alicerce bichado: é alimentado por uma grande maioria de pessoas que só conhecem o mundo do consumo pelo lado de fora. São como os garotos que olham a vitrine do Shopping sonhando com o dia que poderão entrar para adquirir o tão sonhado tênis de marca. Quando isso acontece esquecem do ideal pelo qual sonharam e lutaram a vida inteira e começam a nadar de braçada. Querem pegar tudo de uma vez só. Ou ficam inadimplentes pelo resto da vida e voltam a ser servos dos “capitalistas” ou começam a fazer “mal feitos”, como diz a Dilma para pagar o preço da sua ambição.
A Marta, que já via esse mundo pelo lado de dentro da vitrina quando entrou para o PT, se desiludiu. De certo não pelos mesmos motivos do Maiakovsky, mas isso era previsível. Ela, que já tinha mel suficiente com que se lambuzar talvez esteja horrorizada com a forma como os seus colegas estão se lambuzando. Ou então é apenas despeito de quem foi jogada para escanteio. Vá se saber. Não há coisa pior do que mulher desiludida. Principalmente quando é madame.

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Nota:

Vladimir Vladimirovich Maiakovski (1893- 1930) foi a voz da Revolução Russa, o homem que a viveu em toda a sua plenitude, lutou por ela, acreditou nela e morreu por ela. Sua poesia é essencialmente política, pois versa sobre os ideais da revolução comunista, que ele defendeu com unhas e dentes. Mas também revela um profundo sentimento humano e uma apuradíssima técnica de composição que poucas vezes foi alcançada por outros poetas.
Maiakovski acreditou de verdade nesses ideais, por isso empregou todo seu talento literário na composição de verdadeiras obras primas poéticas que incendiaram os corações dos revolucionários e encantaram, pela beleza das suas imagens e pela técnica empregada nos seus versos soltos,  todos os que o liam, fossem eles adeptos dos ideais comunistas ou não. Ele viveu de fato o movimento. Como artista da palavra foi o verdadeiro arauto da Revolução, criando, a partir da sua obra uma espécie de nova literatura soviética, que contrastava com os velhos padrões das letras russas, dominadas por grandes nomes do antigo regime como Dostoievsky, Tolstoi, Gorki, Essenin e outros.
Em sua trajetória, como poeta, jornalista, escritor e ativista político, Maiakovsky conheceu a prisão, envolveu-se em lutas e participou ativamente dos combates para a implantação do regime comunista na Rússia. Seu trabalho foi incansável nos primeiros anos de consolidação da Revolução. Mas as próprias contradições das facções em luta o levaram a tirar a própria vida num momento de desespero e dor.
Independente do ideal político que defendeu, e das próprias contradições que a sua vida pessoal apresenta, a obra de Maiakovski é grandiosa e respeitada por todos quantos admiram a arte da poesia. Por tudo isso vale a pena conhecê-lo.
      
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/01/2015
Alterado em 13/01/2015


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