João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


A CANÇÃO DO MEDO, OU A DEMOCRACIA SEM POVO
 
E a colonia de roedores de Brasília está assanhada. Alguém teve a ousadia de atirar pedra em alguns de seus membros. Colônia de roedores é assim mesmo. Entre eles se matam por um pedacinho de pão embolorado. Mas se alguém ataca um deles o bando todo corre para cima do atacante.
É o que está acontecendo agora. Todo mundo caiu de pau no Procurador Geral da República. Ou de dentes, que esse bicho morde doído. E sua urina causa leptospirose. E seus piolhos causam peste bubônica.
Estão buscando agora transformá-lo em criminoso. Isso, em Direito, é que se chama usar o recurso da Reconvenção, que é um instituto de direito processual na qual um suposto réu processa o autor de uma denúncia, para provar que o criminoso é quem denuncia e não o denunciado. Talvez o Janot deva alguma coisa. Afinal, a lista que ele mandou ao Supremo é meio suspeita. Não que ele tenha indiciado inocentes, mas é meio esquisito que um partido, que ele informou ter recebido mais de 200 milhões de reais (ou dólares?) só tenha meia dúzia de citados. Mas essa é outra coisa, para ser discutida em outro lugar.
A verdade é que ninguém disse ainda que eles são culpados. Eles foram apenas citados. Uma investigação mais aprofundada dirá se eles devem ou não. E só com isso o Congresso ficou todo ouriçado. Começa a cantar a canção do medo. Até a oposição, que diz que quer ver a Dilma sangrar (coitada, ela já passou da idade) alinhou suas armas (ou dentes) com a situação. Só porque apareceu um bico de tucano no meio da turma.
Consciência é consciência. Ela é um espelho que não consegue esconder nada. Consciência pesada reflete na postura não verbal como crise de erysipela. Não dá para esconder. Os rostos do Renan e do Cunha ficam amarelos quando falam nisso. Alguém poderá dizer que é de indignação. Mas a indignação tem outra cor. É vermelha. Faz o sangue subir para o rosto. Reflete nos olhos e os olhos de ambos não mostram isso.  Mostram medo. E o medo é amarelo. Como disse o Drummond no seu poema famoso: “ ...e depois morreremos de medo, e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas”.
Bem fez o Lindoberg. Não errei o nome dele não. É que esse rapazinho, que ainda pensa que está no tempo do Collor, quando ele liderava movimentos estudantis, só garante sua boquinha na colônia graças ás louras e morenas burras que votam nele. Mas ele foi mais sincero que seus companheiros. Foi logo confessando que recebeu dinheiro de empreiteiras sim. Mas, segundo ele, nunca desconfiou que era propina. Sempre achou que se tratava de doações legais de campanha.
Político é bicho esquisito. Talvez sejam os únicos que acreditam que existe almoço de graça. Ou querem nos fazer acreditar que eles são tão inocentes que acreditam nisso. Que empreiteiras e fornecedores do Serviço Público derramam rios de dinheiro em suas candidaturas porque gostam deles ou porque acham, sinceramente, que eles são cidadãos impolutos e que querem o bem do país.
Mas nós sabemos o bem que essa gente está fazendo ao país. Enquanto eles se armam para brigar com o Ministério Público, centenas de projetos fundamentais para a nação  ficam engavetados esperando a colônia de roedores se acalmar. Projetos como a reforma política, a reforma tributária, a reforma do código penal estão esquecidos na gaveta de um deputado qualquer. E ainda dizem que tudo isso é democracia.
Talvez seja. Os brasileiros sempre fomos muitos criativos. Quem sabe criamos um novo tipo de democracia. A democracia sem povo.
 
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 14/03/2015
Alterado em 14/03/2015


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