João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


DOENÇA SEM CURA
 
 
Oportuna e interessante o artigo de Henrique Meirelles publicado na folha deste domingo. Ele faz uma brilhante análise sobre as raízes históricas do desenvolvimento econômico do Brasil, atribuindo uma grande responsabilidade ao modelo estatista que aqui se implantou desde a chegada do primeiro governador geral do Brasil, Tomé de Souza.
Sempre achei que o tipo de colonização utilizado pelos países ibéricos em suas colônias eram os responsáveis pelos modelos retrógrados e ineficientes que os países latino-americanos invariavelmente têm adotado na condução de suas economias e na sua formação política e social.
Portugal e Espanha ainda mantinham retrógradas estruturas feudais quando se tornaram potencias coloniais. Ainda estavam, em larga medida, vivendo sob um sistema feudal de governo, no qual a servidão era a principal força de trabalho, e o clientelismo e o mercenarismo os principais sustentáculos de um sistema de governo sem qualquer compromisso com os governados.
O Brasil, como colônia administrada por esse sistema, tornou-se uma grande empresa estatal, como diz Meirelles. Todo mundo trabalhava para o governo, que em troca provia os seus clientes de tudo que seus administradores entendiam ser necessário ao povo.
Numa economia assim administrada, só quem prosperava eram os escolhidos do governador. Pois que as colônias nada mais eram do que feudos concedidos aos homens de confiança que o rei escolhia e por via de consequência aos homens que os escolhidos do rei, por sua vez aquinhoavam. Uma clara cópia do modelo feudal. E toda e qualquer semelhança com o que vem acontecendo hoje no Brasil não terá sido mera coincidência.
Destarte, não havia nenhum compromisso com o desenvolvimento econômico como política de estado, nenhum compromisso com o povo, nenhuma ética nas relações econômicas ou sociais, nenhuma preocupação com política de estado além daquela que interessava á classe dominante, doadora das benesses e responsável pela manutenção desse status quo.
Essa fórmula durou todo o tempo do Brasil colônia e durante um bom tempo do Brasil reinado, no qual toda sua economia era sustentada pelo braço escravo. Só começou a ser mudada com a libertação dos escravos e a chegada dos imigrantes, que lentamente, fez o país deixar de ser uma grande fazenda movida a trabalho escravo para se transformar em uma sociedade industrial moderna, com demandas que incluem maior participação do próprio povo nos destinos dessa sociedade.
Acho que é isso que boa parte da nossa esquerda reacionária ainda não entendeu. Ela clama por um estado que tudo controle e tudo proveja, se esquecendo que hoje é impossível calar o individuo que não tem mais o vínculo servil que o submete a um senhor que governa por “direito divino”, ainda que esse senhor seja aquele que seus líderes chamam de “democracia popular”, simplesmente para mascarar um modelo que está mais próximo do sistema feudal do que de uma verdadeira democracia.
É esse, como bem viu Meirelles, o choque de valores que hoje se vê entre o governo esquerdista que o PT da Dilma tenta imprimir ao país ─ com seus valores ultrapassados ─  e a  realidade vivida por uma boa parte da população do país, que quer liberdade para produzir, para progredir e viver bem, sem culpa pelo fato de se dar bem na vida, e que só quer do governo uma honesta reciprocidade pelo que ele paga de impostos. Nesse sentido, um estado que custe o menos possível para o contribuinte, atuando com eficiência para dar educação, saúde e segurança para o povo trabalhar é o bastante. O resto, o próprio povo, é quem deve prover. E que acima de tudo, atue com transparência e ética, dando um exemplo de honestidade ao invés de ele mesmo, enquanto estado, incentivar a corrupção, como o atual governo vem fazendo.
Somente o povo sabe o que ele realmente precisa. Não é necessário que nenhum “iluminado” decida isso. Assim, se a governo da Dilma quisesse realmente atender aos reclamos do povo que ela governa, a sua primeira medida seria reduzir, drasticamente, o peso do Estado que ela está impondo ao país. Começando pelo seu jurássico aparelho estatal de trinta e nove ministérios.  
Nesse sentido, Meirelles está certíssimo. É preciso reduzir o peso excessivo do estado sobre os ombros do cidadão. O mal que isso causa está visível e bem próximo de nós. Basta olhar para o que está acontecendo na Venezuela.
Meirelles a propósito, foi o mentor econômico do governo do Lula. E não foi por acaso que o Lula deixou o governo com uma altíssima aprovação do povo. É que o Lula pode ser esquerdista como a Dilma. Mas bobo ele nunca foi. Deve ser isso que ele anda dizendo para a Dilma. Resta saber se os ouvidos da presidenta não estão entupidos de radicalismo esquerdista. Ai danou-se, porque essa doença não tem cura.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 22/03/2015


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