João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


                               A MAÇONARIA CONTRA AS DROGAS
 
Certa vez um jornalista brasileiro perguntou ao chanceler português Mário Soares o que ele achava da ideia da oposição no governo. Ele respondeu prosaicamente: “ora pois, se está no governo então não pode ser oposição. “
Simples assim. Mas no Brasil as coisas não são tão simples. Aqui os princípios mais elementares de lógica não funcionam. Aristóteles, se nascesse hoje e viesse conhecer o nosso país ficaria louco pois tudo que ele pensava a respeito do funcionamento do pensamento humano não tem aplicação entre nós.
Temos atualmente uma presidenta marxista que entrega a gestão da economia para um liberal; temos um partido que se diz socialista (PSDB) mas privatiza tudo que pode e um Partido dos Trabalhadores que beneficia bancos, grandes empresas e facilita a rapinagem do país por grandes empreiteiras, mas na hora do aperto é justamente o trabalhador que paga a conta.
Anás e Caifáz, os dois fariseus que condenaram Jesus (há quem diga que eram saduceus, mas a diferença entre as duas seitas é apenas conceitual, pois segundo se deduz das crônicas cristãs, ambas eram tão hipócritas quanto os nossos políticos atuais), se dariam bem no Brasil e não duvido que ambos conquistariam cadeiras no Congresso Nacional (Quem sabe Renan e Cunha não sejam reencarnações desses dois?).
Em poucos países os legisladores são mais hipócritas do que no nosso. Criminalizamos o jogo, mas o governo fatura bilhões com suas loterias; proibimos os cassinos, que empregavam milhares de pessoas, mas permitimos bingos e sorteios pelo país afora, para beneficiar igrejas e outras instituições. Pessoalmente não vejo nenhuma diferença entre uma roleta, uma banca de bacará, uma mesa de black jack ou uma máquina caça-níqueis e as loterias administradas pela Caixa Econômica Federal. Também não vejo nenhuma diferença entre as antigas “zonas” de meretrício que o histriônico Jânio Quadros colocou na clandestinidade e as nossas boates de hoje. Aliás, como fariseu Jânio dava de dez a zero em Anás e Caifáz.
Talvez farisaísmo seja doença de político. Quem não é mentiroso, hipócrita, falso, fatalmente se torna quando entra para a política. Thomas Jefferson, dizem os historiadores, enquanto redigia a famosa constituição liberal dos Estados Unidos da América, elevando á categoria de cláusula pétrea os princípios do Iluminismo ─ Liberdade, Igualdade e Fraternidade ─,  comprava escravos  para sua fazenda produtora de fumo e algodão e dormia com as negras, fazendo nelas um monte de filhos bastardos que nunca reconheceu. Igual ao Pelé, aliás, nosso ídolo nacional, que nunca foi capaz de reconhecer a filha que fez fora dos seus casamentos com mulheres brancas.
  
Mas é de drogas que se trata este texto. Esse é outro assunto que os legisladores no Brasil tratam da forma mais hipócrita possível. Pois as drogas alucinógenas, ou entorpecentes como queira se chamar, tanto quanto o fumo e o álcool ─ produtos tão nocivos quanto elas ─ nada mais são que um produto que o mercado deseja. E ela só é produzida e posta em circulação porque existe uma demanda muito forte por elas.
Não existem vendedores onde não existem compradores. Em outras palavras, só há oferta onde existe demanda. É uma lei básica da ciência econômica. No entanto, as autoridades parecem ignorar essa lei e criminalizam a oferta, ao mesmo tempo em que são tolerantes com a demanda. Quer dizer: o vendedor é traficante, criminoso; o consumidor é um coitadinho, que precisa ser tratado como doente.
Não dá para entender essa estranha dicotomia. Se quisermos ser coerentes nessa questão, penso eu, teríamos que atacar nas duas pontas. Aliás, com mais vigor até na ponta do consumo, pois é nesta que está o estímulo para a produção e a distribuição de drogas. No entanto, até dinheiro do contribuinte é gasto pelo governo no tratamento dos viciados, como se este fosse um coitadinho que adquiriu o vício por contágio, como um indivíduo que pega dengue ou outra doença epidêmica. Com excessão de crianças que são atraídas para o tráfico, e por consequência acabam sendo viciadas, por conta das suas péssimas condições sociais e econômicas, nós todos sabemos como uma pessoa começa a consumir drogas: ela entra nessa ciranda por livre arbítrio, somente para buscar um prazer que não encontra nas suas atividades cotidianas. As drogas, como o álcool, o tabaco, o sexo compulsivo, o poder sobre o próximo, são formas de gratificação de um ego que não se conforma com a realidade cotidiana, feita de altos e baixos, onde a dor e o prazer são consequências das escolhas que se faz.
É, pois, muito mais um caso de responsabilidade pessoal do que social. Todavia, os intelectuais de esquerda principalmente, tem a mania de socializar todas as mazelas que são praticadas única e exclusivamente por conta do mau caráter do individuo. Talvez queiram, com isso, mitigar a própria incompetência individual. Isso é coisa que só um Freud que nascesse no século XXI poderia explicar, mas eles fazem, barulho e convencem muita gente. E com isso, as autoridades brasileiras, em relação ao combate ás drogas vivem enxugando gelo.
 
Nesse mister falariam mais alto uma boa educação e o fortalecimento da antiga tradição de família, onde as noções de moral, ética, civismo, honra e uma forte crença em uma missão na vida sempre foram muito mais eficientes do que qualquer sistema repressivo.
Mas essas disciplinas há muito tempo foram banidas dos currículos escolares em nome de uma modernidade que pouco contribui para o desenvolvimento humano. Ao contrário, parece até ter acelerado a individualismo, o absenteísmo, a introspecção, o total descompromisso com a noção de cidadania, de humanismo, de civilidade. Temos hoje mais contatos virtuais do que pessoais. Conhecemos mais pessoas pela Internet do que nas nossas relações do dia a dia. Perde-se dessa maneira a informação vital da linguagem corporal que só o contato físico nos proporciona, porque por mais observador e bom ouvinte que possamos ser, na simples visualização de uma pessoa e pelo som da sua voz, não é possível obter sobre ela todas as informações que somente o “feeling” de sua presença física pode dar. O relacionamento virtual é, pois, um relacionamento frio porque é destituído de cinestesia. Mas é um excelente indutor de maus comportamentos. As torcidas organizadas são um excelente exemplo disso.
Voltando á hipocrisia do sistema político brasileiro, vemos o nosso governo e uma boa parte dos nossos intelectuais vertendo lágrimas de crocodilo por causa da execução de um traficante de drogas brasileiro que teve a má sorte de ser pego traficando o seu mortal produto na Indonésia. Ele sabia muito bem o que estava fazendo e arriscou. Como os nossos traficantes aqui também sabem que dificilmente passarão dos trinta anos nessa profissão. Alguns até se tornam grandes empresários, outros conquistam cadeiras no Congresso e galgam altos postos na nomenclatura politica, social e econômica do país, mas estes, como se disse, são raros. A maioria morre anonimamente no beco de uma favela, num galpão de escola de samba, ou em um lugar ermo qualquer onde seus corpos nunca são encontrados. Desses, que são milhares, nem uma palavra do governo ou dos “humanistas” que estão chocados com o fuzilamento do traficante brasileiro na Indonésia.
Para resumir: um consumidor de drogas é tão criminoso quanto um traficante. Este, aliás, só existe por causa dele. Sem procura não há oferta. Mas a lei brasileira não estipula coação moral, nem jurídica sobre o consumo. Só bate na oferta, como se uma não fosse a causa da outra.
Por isso é importante o envolvimento da Maçonaria nessa luta. O programa desenvolvido pela Ordem é, a nosso ver, bem mais apropriado do que aqueles que a política governamental vem desenvolvendo. Isso porque ele se centra na prevenção ao uso da droga do que na repressão, pura e simples á sua circulação. É um trabalho que busca impedir que a droga chegue ao consumidor e não que ela seja distribuída. Isso significa dar um enfoque no perigo do seu consumo, procurando mitigá-lo, porque se entende que a oferta de drogas só poderá diminuir na medida em que o seu consumo também o for.  Este é o compromisso assumido pelo Grande Oriente do Brasil, os Grandes Orientes Estaduais em todos os Estados Brasileiros e das Lojas Maçônicas em mais de dois mil municípios. Mas como dizia Jesus em relação á sua mensagem, a messe é grande e os obreiros são poucos. Por isso é preciso que mais Irmãos se engajem nesse programa para que possamos ajudar a sociedade a se livrar desse, que na nossa opinião, é o grande mal do século. De hipocrisia já estamos cheios. O que precisamos é de ação.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/04/2015
Alterado em 01/05/2015


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