João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


UM GIGANTE IDIOTA

Iniciei a minha vida profissional como professor em 1974, em plena ditadura militar. Uma época em que as matérias de jornal que continham alguma informação contra o governo eram censuradas e substituídas por estrofes do Lusíadas ou poemas de Olavo Bilac, Castro Alves e outros poetas. Nos dois colégios onde eu dava aulas haviam “olheiros” dos militares. Eram também professores, a maioria deles pertencentes á Policia Militar ou até ao exército. Muitos eram incentivados e patrocinados pelo regime militar para se formar em uma faculdade de filosofia que na época formavam professores para o ensino fundamental e médio justamente para espionarem os colegas. Bom para eles que complementavam seus soldos com a renda obtida das aulas.
Já nós, simples professores, que não tínhamos esse outro lado da vida para nos sustentar, éramos obrigados a correr de uma escola para outra, dando uma aulinha ali, outra ali, para poder completar uma carga horária que nos desse, no mínimo uma condição do sobrevivência.
Faz exatamente quarenta e cinco anos o começo dessa história. Na época xingávamos Deus e todo mundo Deus á claras e o governo á boca pequena pela situação em que vivia a educação no Brasil e os professores em geral. O governo militar havia substituído os antigos currículos, que separava os estudos clássicos dos científicos e oferecia uma opção para quem quisesse seguir carreiras técnicas, como engenharia, medicina, química etc. e outra para quem quisesse ser professor, advogado, sociólogo etc. , por um currículo único que contemplava, além de outras coisas, uma clara opção para a propaganda ideológica, com a inclusão obrigatória das chamadas matérias de Educação Moral e Cívica, cujo único objetivo era fazer a propaganda do regime. E quem dava essas aulas? Os professores formados pelo regime, é claro. Uma boa parte deles com cursos na famosa Escola Superior de Guerra.
Quarenta e cinco anos depois, o que mudou no país? Recuperamos a liberdade, retomamos as ruas, estamos elegendo os nossos governantes por nossa livre escolha. E dai? O Brasil continua com um dos mais baixos índices de educação no mundo. A pátria dos generais que diziam “Ame-o ou deixe-o” passou a ser a pátria dos políticos que esvaziam os cofres públicos, dilapidam o nosso patrimônio e ainda riem na nossa cara, por que sabem que sairão impunes. No tempo dos militares eles botavam  os professores na cadeia quando nós falávamos mal deles. Hoje, a polícia dos nossos democráticos governadores batem nos professores na rua mesmo quando eles tentam se manifestar. Claro que é melhor apanhar na rua e poder voltar para casa com a cara ensanguetada do que apanhar na cadeia e quem sabe, se "enforcar" voluntariamente como Wladimir Herzog, mas serão essas as únicas opções que nos restam?
Naquele tempo, gente que está no poder hoje dizia que nós éramos um bando de idiotas que estávamos ajudando a formar um um povo idiotizado. O que foi que mudou nestes quarenta e cinco anos? Entre Golbery do Couto e Silva e João Santana, que diferença há? Talvez tenhamos ficamos um pouquinho mais idiotas e continuamos a formar outros idiotasacreditando que estamos educando alguém.  Como Jesus dizia, quando cegos guiam cegos, só resta mesmo o abismo para todos...

Brasil: “Ame-o ou deixe-o”. Brasil “ Pátria Educadora.” Quarenta e cinco anos separam uma mentira da outra. Será que algum dia este país vai abrir os olhos e deixar de ser um gigante idiota deitado em berço esplêndido?
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 05/05/2015
Alterado em 05/05/2015


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras