João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


No começo dos anos cinquenta a cidade de Nova Iorque e adjacências foram sacudidas por uma guerra entre gangs rivais, comandadas pelas cinco famílias mafiosas da região. Centenas de pessoas morreram nessa briga que durou mais de dois anos e acabou botando na cadeia pelo menos uma dúzia de chefões mafiosos do país. As famílias mafiosas brigavam pelo controle do tráfico de drogas, que justamente nessa época havia se tornado o mercado mais promissor do submundo americano.
O escritor Mário Puzzo aproveitou essa guerra entre as quadrilhas mafiosas para escrever o seu famoso romance “The Goodfather” que aqui no Brasil ganhou o bizarro título de o “Poderoso Chefão.” Esse romance, além de deixar o dito escritor  milionário, inspirou uma das maiores franquias do cinema americano, rendendo três filmes e alguns Oscars para Marlon Brando e Al Pacino.
As coisas no Brasil sempre acontecem atrasadas. A Independência, que chegou para as colônias americanas em 1776, só aportaria aqui quase cinquenta anos depois, em 1822. A estrada de ferro, o telégrafo, a Revolução industrial, que aconteciam na Inglaterra e Europa por volta da metade do século XIX só chegaram aqui no começo do século XX. A escravidão, abolida nos Estados Unidos em 1865, aqui só aconteceria em 1888.
Corroborando esse triste atraso em que vivemos, estamos assistindo agora, mais de cinquenta anos depois, a guerra entre quadrilhas mafiosas, que está sendo travada no Congresso Nacional. Pois é justamente isso que essa insana luta pelo impeachment da nossa incompetente, omissa e inepta presidente se tornou: uma guerra entre quadrilhas, pelo controle, não do tráfico de drogas, mas de mercado mais lucrativo, e digamos, bem menos complicado do que o perigoso mercado de narcóticos. Pois esse é o mercado dos cargos públicos, das empresas do governo, dos contratos milionários, do dinheiro público em geral, muito mais fácil de meter a mão do que a grana que rola no tráfico.
Tudo se assemelha á uma guerra entre quadrilhas mafiosas. As que antes eram coligadas e associadas entre si agora estão brigando pelo butim. Unem-se uns aos outros como bandos escolhendo um lado, esperando herdar os pontos que os derrotados perderem. Um espetáculo degradante e humilhante para um país, que envergonha até o mais alienado dos cidadãos. Pois foram justamente esses meliantes que nós escolhemos para nos representar e governar.
Aconteça o que acontecer amanhã na Câmara e depois no Senado, há pouca esperança que alguma coisa possa mudar no país com essa gente que está aí. Somente uma limpeza geral em todos os níveis de poder poderia trazer algum alento de futuro para este país. Quem sabe através de uma reforma política ampla e profunda que estabeleça o Parlamentarismo como sistema de governo, pois com esse sistema teríamos a possibilidade de ir mudando, rapidamente e sem muitos traumas, o governo, até encontramos um que satisfaça a necessidade da nação. Do jeito que está, nem novas eleições adiantaria, pois dificilmente o quadro político mudaria.
Embora torcendo para que a Dilma seja impedida, não tenho nenhuma esperança que Temer represente alguma solução. O impeachement de Dilma e a ascensão de Temer é apenas a vitória de uma quadrilha de mafiosos sobre a outra. É a vitória de Don Corleone sobre Don Barzini, como Mário Puzzo escreveu no seu emblemático romance.
E como disse o famoso personagem daquele romance (e filme), “um advogado com sua pasta pode roubar mais que cem homens armados”. Não é toa que os parlamentares que se revezam na tribuna para falar contra ou favor do impeachament falam como se fossem, todos eles, advogados. E se apenas um deles pode roubar tanto, como dizia Don Corleone, dá para imaginar o quanto quinhentos e tantos desses patifes não tem ropubado. Só assim dá para entender a razão dessa briga insana.
Não sou muito de rezar, mas esta noite vou fazê-lo. Só por Deus este país se salva.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 16/04/2016
Alterado em 17/04/2016


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