João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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SEMTIMENTO DE CULPA
 
Sentimento de culpa é fogo. Costuma ser mais forte do que qualquer ameaça de castigo. Foi ele que levou Judas Iscariotes ao suicídio depois de ter traído seu mestre. Também levou Jean Valjean, emblemático personagem de Victor Hugo em “Os Miseráveis” a se transmutar de bandido em herói. E fez de Pedro, o apóstolo covarde que negou seu mestre, o corajoso fundador de uma Igreja que subsiste até hoje.
Claro que políticos talvez jamais sejam constrangidos por esse tipo de sentimento. Até porque uma boa parte deles, quando se trata de salvaguardar seus interesses, o que eles menos têm é sentimentos. Mas eles fingem que têm. Foi isso que fizeram com a Dilma. Esse bando de vigaristas do PMDB, ratos de esgoto, que antes se locupletavam juntos com seus colegas do PT, assim que viram o navio afundando, saltaram logo dele. E se voltaram contra o atrapalhado capitão que o conduzia. Entregaram a cabeça da Dilma numa bandeja de prata e se aliaram com o imediato traidor que tomou o comando do navio.
Tenho absoluta certeza que esses malandros senadores do PMDB não achavam que a Dilma fosse culpada. Votaram contra ela porque assim os interessava. A maioria, com certeza, receberá, se já não recebeu, alguma benesse do governo Temer. É uma gente sem ideologia, sem escrúpulo e sem bandeira.
A Dilma mereceu perder o cargo. Se ela continuasse o país iria ficar mais dois anos atolado em um lodaçal sem fundo. O sistema presidencialista tem isso de ruim. Se um governo perde a confiança do povo e começa a fazer as besteiras que a Dilma fez, é preciso esperar a próxima eleição para tirá-lo. Com isso perde tempo, riqueza e cava valas profundas de atraso que só a muito custo se consegue superar depois. Precisamos mudar esse sistema. Enquanto nosso povo não tiver educação e cidadania suficiente para saber em que tipo de país deseja viver, será continuamente enganado por falsos Messias e espertalhões de discursos bem articulados. Que se encastelam no poder e só a custo de muita dor, como agora, conseguem ser tirados. 
O remédio do impeachement é custoso, amargo e deixa seqüelas, ás vezes, irrecuperáveis. E nem sempre é justamente motivado. Ficam eternamente aquelas perguntas irrespondíveis: será que foi justo?
Certamente os senadores que votaram pela cassação do mandato da Dilma e depois se recusaram a cassar seus direitos políticos não devem estar muito confiantes que sua decisão foi justa. Especialmente o calhorda do Renan Calheiros, que foi o mentor de toda essa trapalhada jurídica que os senadores fizeram, modificando a Constituição do país por quorum de minoria e através de um voto de destaque. Um dos maiores absurdos que essa Casa da Mãe Joana, que é o Senado brasileiro, já cometeu.
Mas como todos eles estão na mira da Lava a Jato, dá para entender por que eles fizeram isso. Estão preparando a cama para cair no macio se, por acaso, a barra pesar para eles. Cassados, talvez. Presos, quem sabe. Mas com seus direitos políticos preservados, que é o que interessa. Por isso foram bonzinhos com a Dilma. Tiraram-lhe os dedos mas deixaram os anéis como consolo. É o sentimento de culpa compensando a falta de caráter.
Quanto á Constituição, ela já estava sendo pisada mesmo. Um pontapé a mais não vai fazer diferença. E por ironia, Temer é conhecido como professor de Direito Constitucional. Dá para confiar nessa gente?
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 03/09/2016
Alterado em 03/09/2016


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