João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


                   QUEM MERECE NOSSA FIDELIDADE?
 
Era uma vez um sujeito que vivia sozinho em um sítio, bem longe da cidade. Possuía meia dúzia de carneiros, alguns porcos, um boi, que puxava o arado, uma vaca que lhe fornecia leite, um cavalo que lhe servia de transporte, umas galinhas, que o abastecia de ovos e carne, e uns cachorros, que além de servir de guardas, lhe fazia companhia. Eram, no dizer dele, seus únicos amigos. 
Um dia sobreveio uma grande tempestade naquela região e o sítio ficou incomunicável. As águas do rio subiram e levaram todas as pontes. A roça que ele plantara apodreceu em meio à enchente. Ele ficou ilhado e sem qualquer recurso para sobreviver.
A tempestade durou muitos e muitos dias. Apertado pela fome, o pobre homem começou a abater os animais para se alimentar. Comeu primeiros os carneiros, depois os porcos, em seguida os bois e por fim, como a normalidade estivesse demorando para voltar, o cavalo. Assim que ele levou ao fogo o último pedaço de carne do cavalo, os cães se reuniram e resolveram fugir.
─ Ingratos! Resmungou o sitiante. ─ É assim que vocês se intitulam o melhor amigo do homem? Justo quando tudo parece estar perdido, vocês me abandonam?
─Não somos ingratos ─ responderam os cães. ─ Somos apenas previdentes. Se você não hesitou em sacrificar quem sempre o ajudou a sobreviver, o que não fará a nós, que só temos amizade para lhe dar?
 
É mais ou menos isso o que está acontecendo no nosso meio político. Uma debandada dos políticos em busca de lugares mais altos, onde a água do dilúvio provocado pela Lava a Jato não os afogue. Nessa fuga não se pejam em abandonar os antigos aliados, nem de sacrificar os cúmplices e até os colaboradores. Sobreviver é a única motivação de suas vidas. Troca-se de partido, de aliados, de amigos, de religião, de ideologia (até porque essa nunca se teve mesmo) como se troca de roupa para atender ao ambiente onde irá para vender o seu peixe. Dizem que a política é assim mesmo. Um bom político não tem amigos, mas sim aliados; nem desafetos, mas apenas adversários. E o meio político é como buraco de caranguejo. Dentro de seus buracos os bichos mordem-se uns aos outros. Mas se atacados de fora, por alguém que não seja da sua colônia, unem-se contra o inimigo comum.
Nós somos os cães da metáfora acima. Só temos o nosso voto para dar a eles. Alguns dos nossos “fazendeiros” talvez continuem a merecê-lo. Mas pelo que a maioria dessa gente que está aí andou fazendo até agora, será que merecem nossa fidelidade? Embora nós sejamos os primeiros a serem sacrificados quando os tempos ruins chegam, o poder de dizer a eles que não queremos servi-los mais é nosso. Essa é a nossa chance de fazê-lo. Vamos desperdiçá-lo e continuar fiéis a quem nos trata de forma tão descomprometida e frívola?
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 01/07/2018
Alterado em 03/07/2018


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