João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


DE VOLTA AO VELHO OESTE
 
Sou fã dos filmes de faroeste desde criança. Acho que é porque na minha infância e adolescência, eram os únicos que minha condição econômica me permitiam assistir. Todos os os  fins de semana eu ia ao velho Cine Parque ver os velhos bang-bangs que passavam lá.
Meu preferido era o clássico de George Stevens “Os Brutos Também Amam.” Vi esse filme dezenas de vezes no cinema e continuo vendo sempre que passa na TV..
A história do filme gira em torno do conflito entre grandes e pequenos fazendeiros, em fins do século XIX, nos Estados Unidos. Coisa que está acontecendo justamente agora no interior do Brasil, onde pecuaristas e supostos sem-terras se matam uns aos outros sem que o governo mexa uma única palha para acabar com essa guerra.
O filme foca também o uso de armas de fogo na resolução dos conflitos sociais. Tema recorrente no Brasil de hoje, onde o novo governo está defendendo a ideia de armar o povo para que este possa defender a si mesmo da criminalidade impune que tomou conta das nossas cidades.
Depois de tentar viver pacificamente, o herói do filme, um hábil pistoleiro, decide recorrer às armas para eliminar os fazendeiros maus que viviam infernizando a vida dos pobres colonos que só queriam sobreviver em seus sitiozinhos. Bem diferente, diga-se, dos nossos sem-terra, que recebem terras do INCRA, financiamento do governo e nunca plantam uma única semente. E depois vendem as glebas, até mesmo sem saber onde elas ficam.
No filme, o mocinho, que tinha resolvido abandonar as armas, ao ver que as pessoas que ele amava poderiam ser mortas, volta a usá-las. A mocinha tenta impedi-lo, mas ele insiste. Ela, achava que seria melhor se não houvesse armas no vale, inclusive as dele, com isso querendo dizer que problemas resolvidos na base da violência deixam fraturas que nunca se curam. E ele, depois de liquidar os bandidos, vai embora, deixando uma criança em prantos (o filho dela), em um dos mais emocionantes finais produzidos por Hollywood. “Diga á sua mãe que tudo está bem agora. E não ha mais armas no vale.”, diz ele ao garoto, antes de desaparecer no crepúsculo.
Lembrei-me desse filme ao ouvir o Senador Mourão dizer que se os professores do colégio Raul Brasil, em Suzano, estivessem armados, a tragédia da última quarta-feira não teria acontecido. Parece que a Bancada da Bala, da qual o Senador (e o atual presidente) fazem parte, desejam ver o Velho Oeste implantado aqui. Nossos problemas resolvidos à bala. O passado trazido para o futuro. Transferindo ao povo a responsabilidade do Estado. Talvez os brutos também amem. E isso pode ser até romântico. Mas deixemos essa época no passado e nos filmes de John Wayne. Lá é legal ver tudo isso. Na nossa realidade não. Eu concordo com a mocinha do filme. Seria bem melhor se não houvesse nenhuma arma no vale.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 15/03/2019
Alterado em 15/03/2019


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