João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


ROTULAGEM



Como você consegue trabalhar com os rótulos? Ou por outra. Você se dá conta dos rótulos que coloca nas coisas e nas pessoas? Como é que você trabalha com os rótulos que os outros colocam em você?
Nunca lhe chamaram de gordo (a), baixinho (a), chato (a), babaca, veado, sapatão etc.? E também há outros rótulos que significam coisas boas, que assumimos com prazer, como gato (a), bonito (o), pedra noventa, educado (a), gente fina, amigo, etc. E há os rótulos sociais, familiais, profissionais e gentílicos, dos quais não temos como escapar, tais como padre, pastor, médico, advogado, pai, mãe, irmão, rotariano, maçom, cristão, muçulmano, judeu, rico, pobre, negro, índio etc.
É impossível evitar a rotulagem de coisas e pessoas. Até porque ela é uma conseqüência desse principio de lógica descoberto por Aristóteles, chamado Princípio da Identidade, mediante o qual uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa; e se não fosse assim, a nossa mente voltaria ao primitivo estado em que Deus a tirou para colocar ordem no universo, ou seja, o caos inicial em que “tudo estava em tudo, o que havia em baixo era igual ao que estava em cima e o que estava dentro era igual ao que estava fora”, como diziam os discípulos de Hermes.
Ordo ab chaos, ordem no caos, foi para isso que Deus nos deu a lógica. É bom que assim seja, que as coisas sejam devidamente identificadas e recebam rótulos. Até porque a rotulagem é uma ferramenta imprescindível para que nós possamos efetuar a nossa programação neurolingüística. Mas devemos tomar muito cuidado com ela e ter sempre consciência do que está “por dentro” dos rótulos. O que significa rotular uma pessoa de negro, por exemplo, ou incompetente, por outra? Significa que, no primeiro caso estamos falando de uma pessoa que tem a pele escura e no segundo que estamos nos referindo a alguém que não obteve o resultado que esperávamos que ele conseguisse. Mas conforme a programação neurolingüística que tivermos feito desse rótulo estaremos associando a ele uma crença, um julgamento e um sentimento. Sim, pois não há julgamento sem crença, nem sentimento sem um julgamento anterior.
Originalmente, você, eu e todas as criaturas do mundo somos apenas pessoas que fazemos coisas e obtemos resultados bons ou ruins. Mas quando nos colam, ou nós mesmos colamos em nós um rótulo, passamos a ser outra além de pessoas. Passamos a ter um qualificativo. Assim também são alguns rótulos morais que nos colam ou que, na maior parte das vezes, nós mesmos nos colamos. Infeliz, idiota, mesquinho, ignorante, ridículo, fracassado, burro, são alguns rótulos que identificam pessoas que fizeram alguma ação, que aos olhos de quem os rotula, assim lhes pareceu ser. No caso associou-se o resultado de um ato à pessoa que o cometeu e eis a desgraça feita.
Eis alguns rótulos que algumas empresas colocam em seus empregados e às vezes os deixam malucos. Assessor da diretoria; Diretor de Operações; Gerente Junior, Operador Senior etc. Ora, o que realmente significam esses rótulos? O sujeito pode encher o peito para dizer: Sou Consultor Júnior do Chefe de Operações. E se você for uma pessoa educada dirá: ah! Que legal, parabéns. Mas intimamente estará se perguntando: Que diabo significa isso?
Muitos rótulos afetam a verdadeira identidade da pessoa. Quando a coisa vai muito longe, perguntar quem realmente está por trás do rótulo acaba sendo de somenos importância. É mais fácil dizer “aquele careca”, “aquele baixinho gordinho”, do que chamar o indivíduo pelo nome ou identificá-lo pelo que ele faz.
É comum a identidade de uma pessoa se perder atrás do rótulo que lhe é posto. Saber o que realmente somos se torna muito importante dentro de um processo desses, pois muitas vezes a saúde da nossa mente depende disso. E esse resgate de identidade só pode ser feito quando conseguimos responder com alguma convicção as três perguntas básicas: quem sou? Qual o propósito das minhas ações? Existe algum significado no que faço e na pessoa que sou? Se você tiver conseguido responder a essas perguntas com segurança, os rótulos que lhe colocaram, e os que você também se colocou, se transformarão em úteis placas de orientação. Muitas vezes é preciso fazer isso para começar a ser feliz. Na vida maluca que criamos para nós mesmos é muito mais fácil se perder do que se achar.
 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 08/05/2009
Alterado em 18/10/2013


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