João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


A PRAGA DO GERÚNDIO

Segunda feira, 10 de agosto de 2009

Fui a uma repartição pública verificar o andamento de um requerimento que eu havia feito. A funcionária encarregada de despachá-lo me informou:”estamos dando" andamento nele. Mas não sei informar quando teremos uma resposta.” Sai dali e fui à oficina mecânica, onde havia deixado meu carro para uma limpeza nos bicos de injeção. Fazia dois dias que estava lá e a promessa foi que o serviço seria feito no mesmo dia. “ Estamos fazendo” disse o responsável pela oficina. “Mas ainda não deu para terminar.” Cheguei ao escritório, abri os e-mails e li que um dos meus clientes estaria me "enviando" nos próximos dias os documentos necessários para que pudéssemos prosseguir o serviço contratado....
Gerúndios, gerúndios, gerúndios. Odeio gerúndios. Parece que a mente das pessoas só sabe trabalhar com essa forma verbal. Quando alguém diz para você “estou fazendo” é por que certamente não está fazendo nada. Quando respondem “ está andando”, é por que a coisa está parada. Preste atenção nessas formas verbais usadas pelas pessoas. Você já deve ter percebido que elas são próprias de gente que trabalha em determinadas instituições, ou empresas onde as coisas não andam, ou quando andam, perdem longe para as tartarugas ou bichos-preguiça. Não é culpa delas não. É o sistema que faz com que suas mentes trabalhem assim. Cartorários, funcionários públicos, advogados, funcionários dos fóruns e tribunais, todos os que, de alguma forma, trabalham com essa máquina emperrada que são as repartições públicas do país, tendem a “programar” suas mentes pelo gerundismo. Tenho certeza que eles gostariam de dar respostas mais positivas, mas a burocracia é essencialmente gerundista e eles acabam se "conformando" a esses padrões.
O problema não é o gerúndio em si. Afinal ele é apenas uma forma verbal que expressa uma ação que está acontecendo no tempo presente. A questão é a incerteza, a indefinição processual que nele se embute, quando nós o utilizamos para designar uma ação sobre a qual não temos a menor idéia de resultado. E daí ela acaba servindo de desculpa para tudo que deveria ter sido feito e não foi. “ Maria, o almoço está pronto?” “ Tá saindo, patrão.” “ Menino, você fez a lição?” To fazendo, mãe.”. “ Querido, já resolveu onde vamos passar as férias?” “ To pensando, querida.”
Note bem: pessoas proativas, que costumam realmente resolver as coisas, usam muito poucos gerúndios. Suas formas verbais geralmente estão na voz ativa para designar as ações. “ Seu processo está com fulano e ele vai despachá-lo até dia ....Se isso não acontecer, procure ....Seu carro não ficará pronto hoje porque não temos a peça ...Se quiser levá-lo à outra oficina, recomendo....( Claro que isso deverá ser dito na hora apropriada, não dois depois). De qualquer modo, o que queremos dizer é: tome cuidado com o gerundismo. Afinal, até Jesus Cristo já nos advertiu a esse respeito: “ seja o teu falar sim, sim, não, não, pois o que daí passa procede do mal.” Se acha que não vai dar para fazer, diga que não dar. Não enrole. Se não fez por alguma razão, diga por que não fez, não diga que está fazendo o que nem ainda começou.
Evite o gerundismo inconseqüente. Quer dizer, não deixe que uma mera forma verbal se torne um programa de conduta. Afinal de contas, é pela linguagem que a nossa mente é programada. Nossas formas verbais, diuturnamente utilizadas, refletem programas neurológicos utilizados pela nossa mente para gerar os nossos comportamentos diários. E quanto mais as usamos mais reforçamos esses comportamentos.
Uma boa semana para todos.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/08/2009
Alterado em 25/09/2009


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