João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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O Congresso Nacional aprovou a PEC dos vereadores. Isso significa que mais alguns milhares de candidatos que ficaram de fora nas ultimas eleições, por não terem atingido o coeficiente eleitoral mínimo para assumir uma vaga nas Cãmaras municipais irão tomar posse logo, logo. Mais alguns milhares de abnegados funcionários públicos para o contribuine sustentar.
Mais vereadores para que? Por isso gostei de saber da intenção do Senador Cristóvão Buarque, de propor Projeto de Lei, proibindo renumeração para cargos de vereadores nas cidades pequenas. Bom e lúcido Senador. Finalmente, alguém, naquele dantesco círculo do inferno, que é o Senado Federal, parece ter recuperado a lucidez e faz uma proposta realmente interessante. Aliás, gostaria de ampliar um pouco mais essa proposta e estendê-la não só às pequenas cidades, mas também aos demais municípios deste nosso país, pois conformá-la somente aos pequenos municípios não irá refrescar muito esse verdadeiro cadinho de alquimista maluco em que se tornou a nossa representação política.
Fico pensando como seria se os nossos dignos vereadores, em todo o país, se tornassem voluntários. Se não recebessem nada pelos relevantes serviços que prestam às suas comunidades. Voltaríamos então aos bons tempos das antigas repúblicas de Grécia e Roma, onde somente os cidadãos verdadeiramente interessados no bem estar da pólis se envolviam em política. Política, naquele tempo, não era uma profissão, mas um dom, uma arte, uma virtude dos espíritos mais elevados, que a exerciam, não como meio de vida, mas sim como missão e forma de realização de valores morais.
O nosso sistema emancipou o político, fazendo dele um profissional, mas aviltou a Política enquanto instrumento de interesse do bem estar público. Uma vaga de vereador, por exemplo, hoje é um emprego público mais disputado do que um cargo de juiz, promotor, auditor fiscal, diplomata, ou outra carreira de estado qualquer. Com a diferença de que para concorrer a essas carreiras de estado é preciso que o concorrente tenha as devidas qualificações. Para vereador não. Daí certas aberrações que vemos por esse país.
Aliás, não entendemos a razão de os cargos para o Poder Executivo estarem sujeitos a uma única reeleição consecutiva enquanto que para o Legislativo um individuo pode se eleger quantas vezes for capaz de convencer o povo de que está trabalhando para o seu bem. Além de tornar voluntário esse trabalho, proibir reeleições consecutivas do mesmo parlamentar talvez fosse uma forma de evitar que a edilidade continuasse a ser essa sinecura tão disputada e dispendiosa para o país.
Ah! Mas essa é uma coisa que eu pagaria qualquer preço para ver. Gostaria de ver, realmente, quantos cidadãos de bem se apresentariam para concorrer a um cargo de vereador, se ele não fosse remunerado. Quantos se apresentariam para doar algumas horas cívicas às suas pólis?
Bom, estou perguntando à toa, porque a resposta eu já sei. Basta ver quantos se candidatam a Provedor de uma  Santa Casa, por exemplo, ou então a membros dos Conselhos Municipais, ou Presidentes dos COMAS, dos CMDCAs etc.  Mas não custa sonhar, não custa imaginar como seria, se esse projeto passasse.
Certamente, o nosso bom Senador Cristóvão Buarque já sabe qual será o destino do seu projeto. Aliás, não acreditamos que ele seja tão ingênuo a ponto de achar que uma coisa dessas possa ser aprovada. Bobos é que nossos políticos não são. E dar tiro no pé eles jamais darão. Mas fica aqui a provocação: que tal voltarmos, ainda que em imaginação, aos tempos da velha Roma, ou da Grécia Clássica, recuperando as antigas virtudes de Péricles, Solon, Demóstenes, dos irmãos Graco? Que tal desprofissionalizar os cargos legislativos e voltar a tratar os assuntos da pólis como uma bela Arte do espírito e não apenas como um meio de ganhar a vida? Em vez do Prédio do Congresso, que tal uma olhadinha no Partenon?



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/09/2009
Alterado em 30/09/2009


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