João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos



      Um dos versos mais significativos do Tao Te King diz que no início, nada tinha cor, forma ou identidade. Tudo estava em tudo, ou seja, nesse nada inominado somente a “mãe cósmica” ( natureza) tinha nome. Ela era o Tao. Assim, para entendermos, de fato, o universo e suas razões, para saber o que ele quer, quem é ele realmente é , temos que subjugar o nosso “eu”, mitigar os nossos desejos, apagar a nossa personalidade até o limite desse nada cósmico, onde todas as identidades se fundem num único e indistinguível elemento. 
      O Budismo ensina que devemos limpar a mente de todas as formas universais, pois estas são apenas as projeções dos nossos desejos. São essas formas, que na verdade são arquétipos conformadores da nossa personalidade, que nos impedem a união com o principio, o todo amorfo que estava no início de tudo.
                                         
      Quando olhamos o horizonte, o que vemos não é o horizonte, mas as formas que se destacam no seu fundo. O horizonte é o fundo, é o nada. Quanto mais o tentamos ver, mais ele se afasta dos nossos olhos. Se pudéssemos fixar nosso olhar somente no fundo e ignorar as formas que contra ele se destacam e atraem a nossa visão, nós poderíamos "ver" realmente o que existe nele.  Veríamos, como diz o Tao , "o rosto que tínhamos antes de termos nascido.”
       Por isso, nada que seja separado do seu contexto pode ser entendido de verdade, porque o ser só existe na sua integridade relacional. Uma rosa separada do seu caule ainda é uma rosa? Uma tartaruga sem seu casco ainda é uma tartaruga? Uma faca que nada tenha para cortar ainda é uma faca? Uma casa onde ninguém habita ainda é uma casa? Uma pessoa sem um propósito a cumprir ainda é uma pessoa?
      
       O que são o bem e o mal, o feio e o bonito, o exato e o falso, o ínfimo e o imenso? São apenas conceitos obtidos a partir da nossa capacidade de destacar no horizonte, certos atributos que colamos ás coisas e às pessoas. Quando algo é bom ou ruim? Quando nos atende, ou desatende, em algum aspecto. Quando é algo é bonito ou feio? Quando não agrada aos nossos olhos. Mas no entanto, se percorrermos toda a linha que vai de um a outro conceito, ou seja, toda a linha do horizonte que vai do bem ao mal, do feio ao bonito, do verdadeiro ao falso, veremos que essa dualidade é, na verdade, um círculo que começa e termina em qualquer ponto da linha que o demarca, e é impossível determinar onde começa um e o outro termina. 
       A Vênus de Milo é bela. Isso é consenso geral. Mas uma criança, ou alguém que a visse pela primeira vez poderia dizer que é apenas a figura de uma mulher mutilada. Se pensássemos nela como uma criatura de carne e osso, ela seria apenas uma mulher sem braços. Continuaria a nos dar uma impressão de beleza? Jesus Cristo era um homem bom? Os sacerdotes judeus e as autoridades romanas não devem ter pensado que era, pois o mataram.
       Toda vez que emitimos conceitos estamos “recortando” figuras no horizonte da nossa mente. Mas as figuras que recortamos no horizonte, não são o horizonte. São apenas imagens dos nossos próprios desejos que projetamos contra esse fundo. O bem que desejamos é apenas o nosso conceito de bem. Por isso não nos parece boa a filosofia que diz que devemos fazer aos outros justamente aquilo que gostaríamos que fosse feito conosco. Quem nos garante que o que é bom para nós o é também para os outros? 

        Não faça ao próximo aquilo que gostaria que o próximo fizesse por você. Espere que ele peça. Ele sabe do que precisa, o que é bom para ele. Você não. Você só sabe o que você mesmo precisa.

        No horizonte das nossas almas não existem pontos extremos. Nós é que os colocamos lá para evitar que nos percamos no infinito de nós mesmos. 




  DIA 19 DE NOVEMBRO- LANÇAMENTO NACIONAL DO LIVRO " OFILHO DO HOMEM", ROMANCE HISTÓRICO SOBRE A VIDA DO JOVEM JESUS QUE OS EVANGELHOS NÃO RELATAM. ESSE LIVRO JÁ PODE SER ADQUIRIDO ATRAVÉS DESTE SITE.



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 20/10/2009
Alterado em 25/10/2009


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras