Um dos versos mais significativos do Tao Te King diz que no início, nada tinha cor, forma ou identidade. Tudo estava em tudo, ou seja, nesse nada inominado somente a “mãe cósmica” ( natureza) tinha nome. Ela era o Tao. Assim, para entendermos, de fato, o universo e suas razões, para saber o que ele quer, quem é ele realmente é , temos que subjugar o nosso “eu”, mitigar os nossos desejos, apagar a nossa personalidade até o limite desse nada cósmico, onde todas as identidades se fundem num único e indistinguível elemento.
O Budismo ensina que devemos limpar a mente de todas as formas universais, pois estas são apenas as projeções dos nossos desejos. São essas formas, que na verdade são arquétipos conformadores da nossa personalidade, que nos impedem a união com o principio, o todo amorfo que estava no início de tudo.
Quando olhamos o horizonte, o que vemos não é o horizonte, mas as formas que se destacam no seu fundo. O horizonte é o fundo, é o nada. Quanto mais o tentamos ver, mais ele se afasta dos nossos olhos. Se pudéssemos fixar nosso olhar somente no fundo e ignorar as formas que contra ele se destacam e atraem a nossa visão, nós poderíamos "ver" realmente o que existe nele. Veríamos, como diz o Tao , "o rosto que tínhamos antes de termos nascido.”
Por isso, nada que seja separado do seu contexto pode ser entendido de verdade, porque o ser só existe na sua integridade relacional. Uma rosa separada do seu caule ainda é uma rosa? Uma tartaruga sem seu casco ainda é uma tartaruga? Uma faca que nada tenha para cortar ainda é uma faca? Uma casa onde ninguém habita ainda é uma casa? Uma pessoa sem um propósito a cumprir ainda é uma pessoa?
O que são o bem e o mal, o feio e o bonito, o exato e o falso, o ínfimo e o imenso? São apenas conceitos obtidos a partir da nossa capacidade de destacar no horizonte, certos atributos que colamos ás coisas e às pessoas. Quando algo é bom ou ruim? Quando nos atende, ou desatende, em algum aspecto. Quando é algo é bonito ou feio? Quando não agrada aos nossos olhos. Mas no entanto, se percorrermos toda a linha que vai de um a outro conceito, ou seja, toda a linha do horizonte que vai do bem ao mal, do feio ao bonito, do verdadeiro ao falso, veremos que essa dualidade é, na verdade, um círculo que começa e termina em qualquer ponto da linha que o demarca, e é impossível determinar onde começa um e o outro termina.
A Vênus de Milo é bela. Isso é consenso geral. Mas uma criança, ou alguém que a visse pela primeira vez poderia dizer que é apenas a figura de uma mulher mutilada. Se pensássemos nela como uma criatura de carne e osso, ela seria apenas uma mulher sem braços. Continuaria a nos dar uma impressão de beleza? Jesus Cristo era um homem bom? Os sacerdotes judeus e as autoridades romanas não devem ter pensado que era, pois o mataram.
Toda vez que emitimos conceitos estamos “recortando” figuras no horizonte da nossa mente. Mas as figuras que recortamos no horizonte, não são o horizonte. São apenas imagens dos nossos próprios desejos que projetamos contra esse fundo. O bem que desejamos é apenas o nosso conceito de bem. Por isso não nos parece boa a filosofia que diz que devemos fazer aos outros justamente aquilo que gostaríamos que fosse feito conosco. Quem nos garante que o que é bom para nós o é também para os outros?
Não faça ao próximo aquilo que gostaria que o próximo fizesse por você. Espere que ele peça. Ele sabe do que precisa, o que é bom para ele. Você não. Você só sabe o que você mesmo precisa.
No horizonte das nossas almas não existem pontos extremos. Nós é que os colocamos lá para evitar que nos percamos no infinito de nós mesmos.
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