João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

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MENTIRAS VERDADEIRAS

Consciente e inconsciente são dois domínios mentais onde o conhecimento é processado. O consciente trabalha o racional, o inconsciente o intuitivo. A linguagem da consciência é o alfabeto, o sistema numérico, a proposição filosófica, o silogismo.Todas essas construções são sistemas organizados de pensamento, que precisa ter principio, meio e fim. Isso é o que chamamos de processo. O que não estiver dentro desse processo não existe.
Já o inconsciente trabalha de outra forma. Sua linguagem é a dos símbolos. Ele não tem um alfabeto, um sistema numeral, um processo organizado de conhecimento. Ele se vale de relações, de analogias, de comparações, de intuições, das lendas, dos símbolos.
O território do consciente é relativo; o do inconsciente é absoluto. Na consciência só é verdadeiro o que pode ser entendido, no inconsciente tudo pode ser e não ser ao mesmo tempo. Tempo e espaço não existem como realidades por que não podem ser medidos. São apenas abstrações.
O conhecimento consciente é racional, o conhecimento inconsciente é intuitivo. O conhecimento consciente é relativo porque só existe em relação à alguma coisa. Ele precisa de uma experiência sensível para existir. Quer dizer: só existe quando vemos, ouvimos ou sentimos alguma coisa. Já o conhecimento inconsciente não precisa de uma experiência dos sentidos para se manifestar. Ele é absoluto, porque “intui” a existência de alguma coisa a partir de uma realidade que não é capturada pelos nossos sentidos, mas pela influência que projeta sobre nossas vidas.
A mente racional divide, compara, categoriza, discrimina, mede, rotula, nomeia. E tudo isso é feito segundo a capacidade de linguagem do indivíduo e as crenças e valores que ele tem. Daí decorre que por mais exato que seja o conhecimento obtido de uma experiência, ele será sempre uma verdade relativa, por que ela se refere sempre ao indivíduo em particular. Daí se dizer que todo conhecimento é um mapa e não um território.
O absoluto reside no inconsciente. Ali, a totalidade da informação, sem rótulos, sem nome, sem categoria, comparações, valorações, divisões, está presente em toda sua integridade. É impossível conhecer o absoluto, porque o homem ainda não foi capaz de desenvolver uma linguagem capaz de mapear o território do inconsciente. Não há um alfabeto capaz de descrever toda a realidade que nele se hospeda. Isso porque os alfabetos são um conjunto de símbolos lineares, que não conseguem expressar o mundo multidimensional que existe o inconsciente humano. Em conseqüência, o nosso mapa de mundo é muito pobre em termos de verdadeira informação.
O mundo é muito mais do que sabemos sobre ele. A física atômica e a astronomia têm mostrado o quão misterioso é o cosmo e quão infinita é a matéria que nele se hospeda. É impossível conhecê-los porque eles ainda estão em construção. Tudo é um eterno vir a ser.
Isso significa que o universo se constrói de relação em relação. Por isso não há possibilidade de prever o que pode acontecer no futuro porque as possibilidades de relação são tantas que não podem ser dimensionadas nem previstas.
O tempo e o espaço não podem ser representados por uma linha reta. Einsten demonstrou que até o espaço vazio é curvo. Dessa forma, o nosso pensamento tem dificuldade para entender de fato o mundo porque ele se expressa em linha reta tentando representar um universo que é curvo e tende à esfericidade.  Como nossos olhos só veem o que está na superfície, não conseguimos entender o que há na profundidade.
O que mais limita o nosso pensamento é a linguagem. Não conseguimos desenvolver signos suficientes para representar a totalidade da realidade universal. Assim, quando deparamos com algo que não conseguimos enquadrar nos nossos pobres mapas lingüísticos, nós “interpretamos” as coisas segundo os nossos próprios desejos. Assim, elas acabam sendo, para nós, aquilo que queremos que sejam, e não o que são realmente. Por isso são tantas as nossas “verdades” e tão poucas as nossas “certezas”. Em outras palavras vivemos num mundo de mentiras verdadeiras.
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Do livro: A Estrutura da Magia: Richard Bandler e Jonh Grinder-Ed. Summus, Rio De Janeiro, 1988.




João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/07/2010
Alterado em 12/07/2010


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