João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


Os porquês da vida

Por que nos sentimos capazes de realizar determinadas coisas e não outras? Por que nos envolvemos com determinadas pessoas e com outras não? Porque nos motivamos para algumas finalidades e não para outras? A resposta é simples: porque em umas acreditamos, em outras não.
As crenças que desenvolvemos na vida têm o dom de nos impulsionar para a consecução de objetivos grandiosos, ou podem impedir que realizemos até os nossos menores sonhos. Por isso, toda vez que você for traçar algum objetivo, seja ele qual for, verifique primeiro quais são as suas crenças a respeito.
Afinal de contas, que motivação poderá ter alguém para realizar alguma coisa em que não acredita? Seria a mesma coisa que pedir a um iraquiano que lute pelos valores da sociedade ocidental, ou a um americano que morra pelas crenças muçulmanas.
É possível levar uma pessoa egoísta, que só vê o próprio umbigo, a trabalhar por uma causa comunitária? Certamente que não, enquanto essa pessoa não acreditar em tais causas.
As crenças respondem aos porquês da vida. Se quisermos saber a razão de as pessoas fazerem determinadas coisas, perguntemos primeiro no que elas acreditam.
Se não estamos conseguindo obter resultados satisfatórios em nossas vidas, a primeira coisa a fazer é analisar o nosso sistema de crenças. Essa análise nos mostrará a razão de não estarmos atingindo nossos objetivos.
Em toda crença está embutida o efeito placebo, que é o efeito que faz a nossa mente acreditar que uma droga produz resultados, mesmo quando não contém princípio ativo nenhum. O efeito placebo é um dos mais poderosos princípios utilizados pela medicina. Ele diz que “ o remédio pode não fazer efeito, mas a crença de que ele cura, faz”. É a mais pura verdade. O efeito placebo é o grande aliado dos médicos.
Jesus disse que a fé podia mover montanhas. É claro que ele não estava dizendo que bastaria alguém acreditar nisso e dizer: “sai daqui, lança-te ao mar”, para que vários milhões de toneladas de terra e pedra se descolassem da superfície e saíssem voando em direção ao mar. O que ele quis dizer é que o ser humano, a partir das crenças que adotasse, poderia mover montanhas de impossibilidades.
E isso é tão possível quanto mudar o curso de um rio, erguer uma muralha em volta da China ou cavar um túnel sob o Canal da Mancha. Aliás, por centenas de anos franceses e ingleses sonharam com uma ligação terrestre entre os dois países, mas ninguém acreditava que isso fosse possível até que alguém realizou a empreitada.
As nossas crenças podem, e é o seu poder que nos leva a aumentar o leque das nossas possibilidades de sucesso em qualquer empreitada, ou a ampliar o nosso território de limitações.
Não devemos começar nenhuma empreitada se não tivermos uma crença inabalável no sucesso dela. Que soldado teria coragem para entrar em combate, se seu comandante lhe dissesse que a batalha não pode ser ganha? Todo bom político sabe que não deve admitir a derrota antes de o povo começar a votar. Se o fizer desanimará seus possíveis eleitores. Ele sempre tem que acreditar que pode ganhar, mesmo que todas as pesquisas mostrem que ele não tem possibilidade alguma.
Crenças não são conceitos estáticos, que podem ser divorciados do processo dialético que faz nossa mente funcionar. Elas moldam nossos comportamentos à procura de resultados e são formadas como conseqüência desses resultados.
Elas são, na verdade, resultados que produzem resultados. Se alguém, por exemplo, acredita que Deus deu a todos uma medida de capacidade para produzir sucessos, ele sabe que será bem sucedido em algum momento em sua vida. Jamais descorçoará, ainda que os bons resultados demorem para acontecer. Se, ao invés, acreditar que existe um destino já traçado e que tudo na vida está submetido a uma inexorável fatalidade, então que motivação terá para lutar contra as adversidades.

Quanto mais forte for a nossa crença de que temos os recursos necessários para realizar os nossos objetivos, maior será a nossa possibilidade de sucesso. Agora, se acreditarmos que Deus concede apenas a alguns a faculdade de ser bem sucedido, e a outros só resta uma conformidade lastimosa, então quais serão nossos modelos mentais, senão imensos domínios de impossibilidades?
Para quem acredita que Deus é capaz de tal seleção, todos os programas de aperfeiçoamento pessoal, todas as esperanças de progresso, todas as estratégias de luta contra a pobreza e a ignorância, bem como qualquer possibilidade de ascensão social amparada na força do trabalho e do esforço pessoal, não passam de tautologias desenvolvidas pelos arautos da chamada filosofia do “self made man” , a serviço do capitalismo selvagem, para enganar as pessoas e fazê-las crer que não existem injustiças no sistema.
Injustiças existem sim, mas estas, como todas as obras humanas, são resultado de “programas” ineficientes, operados por pessoas que deveriam ser mais competentes na administração da coisa pública. E se assim são, também podem ser modificados, cancelados, eliminados. O que não podemos é pensar que nada se pode fazer a respeito. Essa, sim, é uma péssima crença.

As crenças são os filtros que purificam as nossas experiências de vida. Como filtros, elas são úteis e necessárias, pois se elas não exercessem esse controle qualitativo sobre as mensagens que os sentidos enviam ao nosso sistema neurológico, a nossa vida social seria um completo descalabro. Dela seriam banidas a moral, a ética, a religião, a filosofia e toda noção de limites e regras de controle do comportamento humano, colocando-nos, de novo, na categoria de animais inferiores, que agem por puro instinto.
As crenças que adotamos na vida são as bases do nosso poder realizador. São elas que regulam a força das nossas atitudes e a determinação com que nos empenhamos na realização de nossos objetivos.
Uma crença, na verdade, é um princípio que orienta, norteia, dirige um comportamento. Quando a ela é vinculada uma paixão, uma determinação, um sentido de missão na vida, tanto pode conduzir a atos heróicos e comportamentos sublimados como os dos primeiros cristãos, quanto a monstruosidades políticas como as cometidas pelos nazistas ou pelos bôeres , na África do Sul.

Crenças são pressupostos que admitimos como verdades incontestes. Geralmente são “programas” que são induzidos pela cultura em que somos educados.
Há crenças que nos ajudam a encontrar respostas eficientes para os problemas da vida e outras que nos prejudicam nessa escolha.
Eis algumas “crenças-programas” que você pode ter instalado inconscientemente. Se isso aconteceu, talvez seja a hora de desafiá-las.

A idade e a doença andam juntas. Não há como escapar disso.
É fácil engordar. Difícil é emagrecer.
Não é possível fazer certo sem errar primeiro.
É preciso mostrar autoridade para obter respeito.
Só com muito dinheiro é possível ser feliz.
É impossível viver só fazendo coisas que a gente gosta.
Obesidade é hereditária. Todo mundo é gordo na minha família.
Deixar de responder as ofensas é sinal de fraqueza.
É triste ver um homem chorar em público.
Infidelidade é um atributo de masculinidade.
Quem para de fumar sempre engorda.
É de pequeno que se torce o pepino.
Se eu pedir alguma coisa para alguém pensarão que eu sou carente.
Hoje em dia já não se pode confiar em mais ninguém.
Eu sempre escolho o parceiro (a) errado.
Já estou muito velho para começar uma vida nova.
Se eu não fizer o que os outros querem não serei aceito por eles.
Meus pais sempre gostaram mais do meu irmão (ã) do que de mim.
Não existe verdadeira amizade; só convergência de interesses.
Fico inibido na presença de pessoas mais cultas do que eu.
Muita gente olhando para mim me intimida.
Não sou capaz de falar em público. Vão me achar ridículo (a).
Á noite todos os gatos são pardos.
É impossível mudar de hábito depois de certa idade.
Se não aceitam minhas idéias é porque não gostam de mim.

Muitas crenças são instaladas através de ditados e expressões populares. Tome cuidado quando ouvir um deles. Não deixe que eles entrem em seu sistema neurológico como verdades incontestes. Pergunte-se sempre que bem lhe fará se você acreditar nisso ou não. Mais uma vez repetimos o conselho. Você não precisa acreditar em nada do que lhe dizem: teste, veja se funciona, se serve aos seus propósitos.

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Notas

Tautologia, aqui é colocada no sentido de um raciocínio lógico que se converte em proposição verdadeira, seja qual forem os valores que o fundamentam.
Self-made-man é o homem que se faz por si mesmo.
Boêres eram colonos brancos da África do Sul, de origem holandesa, que praticaram grandes atrocidades contra os nativos da região, dando origem ao sistema que ficou conhecido como “aparthaid”.

João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 23/07/2010
Alterado em 23/07/2010


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