João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O PERFEITO EQUILÍBRIO

“ Se todos sob o céu reconhecerem o belo como belo,
Assim conhecerão o feio.
Se todos sob o Céu reconhecerem o bem como bem,
Assim conhecerão o mal.

Ser e não—ser engendram-se mutuamente.
Fácil e difícil completam-se.
Longo e curto delimitam-se.
Alto e baixo regulam-se.
Tom e som harmonizam-se.
Antes de depois sucedem-se.

Por isso o Santo-Homem pratica o Não-Agir e ensina sem falar.
Os Dez Mil Seres agem e ele não lhes nega ajuda.
Produz sem apropriar-se, trabalha sem nada esperar em troca.
Realiza obras meritórias sem apegar-se a elas
E justamente por isso suas obras perduram.
                                                                          Tao Te King- Verso II
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Todo o antigo pensamento chinês se apoia sobre a doutrina do equilíbrio perfeito. Yin e Yang. Céu e Terra, luz e trevas, escuro e claro, certo e errado. O universo é como uma moeda de duas faces. Por isso o Tao é a doutrina do rio. O rio só se forma se tiver duas margens. As águas só podem correr se houver duas margens para conter a sua torrente. Do contrário as águas se espalham. Assim é o universo. Precisa de duas forças contrárias para se compor e se equilibrar.
Na física essas duas forças são a dispersão e a aglutinação. Pela primeira o universo se expande. Aumenta de tamanho, ganha massa e volume. Pela segunda ele se contrai. Ganha força e interioridade. Essas duas forças equilibram o universo. Uma é regida pela relatividade, que faz a energia do universo se mover à velocidade da luz, formatando as realidades físicas; a outra é regida pela lei da gravidade, segundo a qual os corpos maiores tendem a reter em suas órbitas os corpos menores, formando os sistemas. Pela força da relatividade, o universo se expande e se dispersa; pela força da gravidade ele se encolhe e se organiza.
Maravilhosa intuição do mestre Lao-Tse. Fantástica sensibilidade de um pensador que viveu há mais de dois mil e quinhentos anos atrás. Inequívoca dedução que corresponde às mais modernas descobertas da física contemporânea.
Essas intuições valem não só para a moderna ciência, mas também para a filosofia. O que são o bem e o mal? Não é preciso que um se manifeste para que o outro possa ser notado? Quando saberemos se algo é bom se não tivermos uma ideia clara do que é ruim?
É preciso a dualidade para que exista o perfeito equilíbrio. Não há bem sem mal, positivo sem negativo, beleza sem feiura. Fora e dentro se completam e se harmonizam. Pode a saúde do corpo prosperar quando o espirito está doente? Pode a mente conservar-se sã, se o corpo não estiver saudável?
Não-Agir não significa nada fazer. Significa, ao contrário, acompanhar o curso do rio. Integrar-se à natureza, comungar com ela. Significa não querer mudar as coisas simplesmente pelo desejo egoísta de fazê-las ficar do jeito que queremos que seja. Façamos parte da natureza sem deformá-la, sem tentar modificá-la para que ela fique com a nossa cara. A natureza é o nosso espelho: ela só reflete o que mostramos para ela. A vida também. Ela só nos devolve o nosso próprio reflexo.
A humanidade são os Dez Mil Seres. Ela já atua normalmente. Já existe uma lei regulando a vida e o desenvolvimento das espécies. Já existe uma lei regulando o desenvolvimento das sociedades. Nós não temos que lutar para modificá-las. A humanidade não tem que refletir a nossa cara. Nós temos que refletir a humanidade. Por isso o Homem-Santo ( o sábio), não recusa ajuda à humanidade. Ele se integra a ela e a ajuda no seu curso. Não represa a corrente. Deixa que ela flua.
Buda (Sidarta Gautama) também pregou a linha da menor resistência para a melhor forma de viver. Jesus, igualmente ensinou: “ Não resistais ao mal. Quem quer obrigar-vos a andar com uma milha, vai com ele duas.”.
A Natureza sabe o que deve fazer. Ela já tem todos os, programas necessários para o correto desenvolvimento. As coisas só dão errado quando nós tentamos modifica-las para que fiquem com a nossa conformação. “Olhai os lírios do campos e os pássaros do céu”, disse o maior de todos os mestres. “Eles não fiam nem tecem nem guardam em celeiros. A nenhum falta a melhor roupagem nem a comida necessária."
A vontade de ter é o principal obstáculo para o ser. O sábio produz sem apropriar-se do seu produto. A pior escravidão é o apego às coisas que pensamos ter conquistado. Não há pior servidão do que ser escravos do que amamos. As nossas conquistas de ontem, muitas vezes, são o peso que nos impedem de dar os passos de hoje e levantar os voos de amanhã.
Observemos a natureza, diz o Tao. Não há melhor mestre do que ela. Ela não fala, ensina sem falar.
..................................................................................................................................................................................DO LIVRO-  TAO TE KING-LAO TSE- ED ATTAR- SÃO PAULO, 2005



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 17/08/2010
Alterado em 19/08/2010


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