CORAÇÃO VALENTE
Título original ▬Brave Heart
Gênero ▬Épico
Estúdio ▬ 20th Century Fox / Paramount Pictures / Icon Entertainment International
Direção ▬ Mel Gibson
Sinopse:
A Escócia, no século XIII, é uma província inglesa. Os escoceses não se conformam com essa submissão e vivem promovendo constantes revoltas. Numa delas, o pai do menino William Wallace é morto. O garoto passa a ser criado pelo tio, um pequeno lorde que vive na França. Wallace, adulto, volta á Escócia e reencontra Murron (Míriam), seu amor de infância. Casa-se com ela em segredo para evitar que o xerife do condado passe com ela a Primeira Noite, como era costume nos feudos ingleses da época. Depois, soldados ingleses matam Murron, o que leva Wallace a liderar um ataque contra os ingleses. A partir daí ele assume a liderança da luta e torna-se um herói e um mito.
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William Wallace é, provavelmente, o herói mais respeitado pelos escoceses. Equivale, em importância histórica a Rodrigo de Bivar, o El Cid dos espanhóis, à Viriato para os portugueses e Tiradentes para os brasileiros. Acima de tudo, ele é reverenciado como o grande mártir da liberdade da pátria escocesa.
Ele nasceu em Elderlie, uma pequena aldeia na Paróquia de Paisley. Seu pai, que não era nobre, era vassalo do lorde Stewart da Escócia, uma espécie de ministro nomeado pelo rei inglês para governar a província escocesa.
Embora não fosse de família nobre, Wallace recebeu uma boa educação. Sabe-se que falava fluentemente latim e francês, línguas nobres na época. Também tinha parentes na Igreja, na pessoa de dois tios sacerdotes, os quais, provavelmente, o tenham educado.
Murron, a sua amada, chamava-se na vida real, Marian Braidfoot. Por volta do ano 1297 ela foi assassinada pelos soldados do xerife inglês de Lanark, William de Hazelrig. No filme Coração Valente, o assassinato ocorre em consequência de uma briga entre Wallace e alguns soldados ingleses, que supostamente, queriam estuprá-la. Wallace, para defendê-la, mata alguns soldados, e o xerife, em repre-sália executa a amada do herói. Mas na realidade, Murron foi morta porque Wallace, já nessa época, era um rebelde caçado pelas tropas inglesas. Ele já era um líder importante e a execução da sua esposa foi mais um ato político do que, propriamente, uma represália dos ingleses, como o filme mostra.
Tentando sufocar a rebelião, Eduardo I, rei da Inglaterra nomeou um nobre escocês, João Baliol, como rei da Escócia. O clã dos Baliols sempre foi submisso aos ingleses, e por isso mesmo, pouco respeitado pelos escoceses. Ao estourar a rebelião, e vendo que ela se espalhava por todo o país, João Baliol renunciou ao reinado, abrindo espaço para o clã dos Bruces reivindicarem o trono. William Wallace era vassalo da família Bruce e logo assumiu a liderança militar da revolta.
Wallace obteve muitas vitórias sobre o exército inimigo, humilhando e provocando muita preocupação em Eduardo I, o cruel e traiçoeiro rei inglês. Logo atraiu a atenção das pessoas comuns e também dos nobres escoceses, pois a tirania com que Edward I tratava seus súditos escoceses era realmente revoltante.
Após sofrerem várias derrotas, os ingleses mudaram de tática e passaram a praticar a corrupção, oferecendo terras e outros privilégios aos nobres escoceses que se voltassem contra Wallace e a família Bruce. Essa tática deu certo durante algum tempo, principalmente quando as forças inglesas e escocesas se bateram nos campos de Irvine e alguns nobres se bandearam para o lado dos ingleses, o que resultou numa fragorosa derrota para os escoceses. No filme essa batalha é retratada, inclusive mostrando que o próprio pretendente ao trono, Robert the Bruce estaria entre os traidores, mas isso não é verdade. Na realidade, Robert the Bruce, nessa batalha salvou a vida de Wallace quando ele foi derrubado de seu cavalo e ficou à mercê dos inimigos. Mais tarde, em Stirling, os escoceses, sobre o comando de Wallace e Murray, impuseram aos ingleses uma fragorosa derrota. No filme Coração Valente, o Cavaleiro Murray também é pintado como um traidor, o que também não é verdadeiro. Ele foi um grande combatente, que na verdade, foi leal à causa escocesa até a morte. Acabou sendo ferido durante a batalha de Stirling e morreu pouco tempo depois. Em1298, Wallace foi elevado a condição de cavaleiro, pelo próprio Robert the Bruce, seu suserano. Nessa ocasião foi designado também como Lorde Protetor da Escócia.
Wallace continuou atacando as forças inglesas em todas as frentes, obtendo várias vitórias. Criou táticas inovadoras para enfrentar a cavalaria inglesa usando estacadas móveis e promovendo ataques de surpresa aos acampamentos inimigos. Atacava onde menos os ingleses esperavam e logo o Rei Eduardo I começou a temer que o próprio território inglês pudesse ser invadido pelas tropas de Wallace.
Uma grande batalha se deu em Falkirk, e os escoceses, em menor número, foram derrotados. Wallace perdeu a maior parte do seu exército e renunciou ao cargo de Protetor. Mas continuou a lutar e a impor pesadas perdas aos ingleses no norte, o que motivou o Rei Eduardo I a aumentar o prêmio por sua cabeça.
Finalmente, em 1304, Wallace foi capturado perto de Glasgow, e não em Edimburgo, como mostrado no filme. Foi traído por um escocês de nome John Mentieth, que o prendeu e o entregou aos ingleses, em troca do cargo de xerife em Dumbarton. Foi levado para Londres imediatamente. Seus carcereiros, a mando de Eduardo I, o arrastaram pelas ruas da cidade, para ser agredido e humilhado pela multidão. Levado ao patíbulo, numa praça pública chamada Westminster Hall, Wallace foi exposto em uma plataforma, usando uma coroa de espinhos. Acusado de assassinatos, pilhagens, sedição e traição ao rei, Wallace foi amarrado a um cavalo e arrastado por diversos quilômetros até Smithfield, onde foi enforcado. Depois de morto, seu corpo foi esquartejado, sendo os pedaços enviados para Newcastle-upon-Tyne, Berwick, Perth e Stirling. Sua cabeça foi colocada em um poste na Ponte de Londres para que todos a vissem, como advertência para outros possíveis traidores. Consta que, antes de ser levado ao patíbulo, lhe foi oferecido o perdão se ele renunciasse à revolta e jurasse lealdade ao rei inglês. Wallace recusou e sua última palavra foi um grito pronunciando a palavra Liberdade. (Freedom).
Depois da morte de William Wallace, Robert The Bruce assumiu pessoalmente o comando das forças escocesas. Lutou durante dez anos pela liberdade de sua terra. Ajudado por cavaleiros templários, fugitivos da perseguição que lhes movia o rei da França, Filipe o Belo, e a Igreja, ele finalmente bateu-se contra as tropas inglesas nos campos de Bannockburn, em 1314. A batalha terminou com uma grande vitória escocesa. O Rei Eduardo I, com seu exército destroçado e sem poder mais fazer face à revolta dos escoceses, foi finalmente obrigado a reconhecer a independência da Escócia.
Robert The Bruce tornou-se o rei da Escócia livre. Mais tarde, uma de suas filhas, Marjorie, se casaria com um cavaleiro chamado Walter Stuart, dando origem a uma das mais tradicionais famílias reais da Inglaterra e da Escócia.
Á guisa de curiosidade, registre-se que o Rei Robert The Bruce é considerado um dos fundadores da Maçonaria histórica, pois foi ele quem fundou uma Ordem de Cavalaria chamada Ordem de Santo André do Cardo. Essa Ordem, que foi fundada para agasalhar os templários sobreviventes à perseguição que contra eles se movia na época, segundo alguns autores, foi a precursora do conhecido Invisible College, organização que no século XVII, congregava nobres, cientistas e intelectuais ingleses e escoceses, para fins de desenvolver as artes, a ciência e influir na política. Foi desse Invisible College que, nos inícios do século XVIII, saíram os intelectuais que fundaram a Maçonaria moderna.
Coração Valente é um belo filme, com belos figurinos e cenas de batalha muito bem construídas. É, evidentemente, uma biografia romanceada do herói William Wallace, baseada em fatos históricos, entremeada por episódios criados pelos autores do script. Há, sem dúvida, muita licenciosidade na história contada pelo filme. Inclusive o romance entre a princesa inglesa e Wallace, que não ocorreu.
O filme ganhou, merecidamente, quatro Oscars. Embora exagerando na biografia do herói, sempre é bom destacar as virtudes de um homem que coloca a liberdade acima das preocupações com a própria vida. A humanidade precisa de arquétipos como esses.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 29/09/2010
Alterado em 29/09/2010