João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O CAMINHO DO GUERREIRO

1- A  LENDA DOS ARQUÉTIPOS

Quando criou os homens, Deus os fez unos e indivisíveis. Alma e corpo constituíam uma unidade indissolúvel, da mesma forma que céu e terra faziam parte da mesma realidade. Depois o Criador lhes deu capa-cidade para procriar e fazer obras próprias, que pareciam semelhantes às suas. E o homem tornou-se também um criador. Mas com esse poder nas mãos eles se tornaram extremamente arrogantes. E pensaram que por serem capazes de produzir obras próprias, também podiam interferir no curso dos rios, mudar de lugar as montanhas, substituir as florestas e selecionar, eles mesmos, as espécies que tinham o direito de viver. Dessa forma, usurparam a função da divindade.
Vendo a arrogância dos homens, o Criador fragmentou suas almas de tal forma que não se pode mais encontrar sobre a terra duas criaturas que pensassem de forma igual. Nunca mais o homem foi o mesmo, pois o que era unidade passou a ser diversidade, o que era convergência passou a ser divergência, o que era aglutinação passou a ser dispersão. E a humanidade se pulverizou em raças e estas em nações; as nações em grupos e os grupos desenvolveram diferentes crenças. E nasceu daí a disputa, a discórdia, o antagonismo e a competição. Os homens que foram criados para serem fortes, confiantes e capazes, se tornaram frágeis, desconfiados e inseguros. Essa foi a verdadeira queda, a expulsão do paraíso, que todas as religiões cultivam como memória arquetípica de um mundo de delícias, beatitude e paz, que um dia foi perdido.
Arrependidos do seu pecado, os homens clamaram ao Criador por uma chance de reconstruir aquele mundo de unidade, felicidade e paz que haviam perdido. E Ele a concedeu. Mas para que o homem, ao recuperar sua unidade primordial, não viesse a tornar arrogante novamente, O Criador dividiu sua personalidade em quatro partes. E as distribuiu pelas quatro direções do mundo, associando a cada um deles um elemento, um conjunto de virtudes e um elenco de fraquezas para serem superadas. As quatro partes da personalidade humana são os quatro grandes arquétipos que a compõem. Nelas se identificam o espírito que luta (O LUTADOR), o espírito que realiza (O REALISTA), o espírito que cria ( O VISIONÁRIO) e o espírito que ensina (O MESTRE).
O lutador habita a direção Norte e suas virtudes são lideradas pela Presença. Esta, quando cultivada, dá nascimento ao entusiasmo, à energia, à fidelidade, à honra, à coragem e todas as demais qualidades que fortalecem o nosso caráter e nos incitam a lutar. Ele é o responsável pelas nossas conquistas e o guardião do nosso ego. Seu elemento é o Ar, sua estação preferida é o inverno.
O realista habita a direção Sul e suas virtudes são encabeçadas pela razão. Esta, quando é cultivada, faz nascer nos corações humanos o perdão, a esperança, a fé, a caridade, a gratidão, o respeito, virtudes que curam tanto o corpo quanto a alma. Seu elemento é a Terra. Ele é o responsável pelos nossos sentimentos mais sublimes e é guardião da nossa alma. Sua estação preferida é a primavera.
O Visionário habita a direção Leste e sua virtude guia é a Autenticidade. Esta, quando é cultivada traz consigo a jovialidade, a impulsividade, a alegria, a coragem, a criatividade, a beleza, virtudes que dão alento à nossa alma. Seu elemento é o fogo e sua estação preferida é o verão.
O mestre habita a direção Oeste e sua virtude guia é a Flexibilidade. Esta, quando cultivada, traz consigo maturidade, paciência, sensatez, equilíbrio, prudência, temperança, virtudes que são características do homem sábio, que tudo vê com objetividade. Seu elemento é a Água e sua estação preferida é o outono.
Todas as decisões humanas são inspiradas por um desses arquétipos. Como guerreiros, temos que lutar pelas nossas vidas; como curadores, temos que buscar a paz nas nossas relações. Como visionários, sonhamos e rompemos os nossos limites e como mestres temos que olhar o mundo com sabedoria e objetividade.
O problema é que eles nunca trabalham juntos, na mesma proporção. Em cada ação humana um deles é dominante. Ás vezes atuamos como guerreiros quando a situação exige um curador. Ou tentamos curar quando o momento é de lutar. Quantas vezes não deixamos o visionário tomar conta de nós, quando o correto seria apelar para o mestre? E quantas vezes deixamos o sucesso escapar por mera falta de ousadia, ou seja, porque não deixamos o nosso visionário atuar?
Dessa forma,aprender a acessar o arquétipo certo para que possamos responder adequadamente a cada situação que a vida nos coloca é passa por ser a habilidade mais valiosa que uma pessoa pode desejar.
Esse, aliás, é o segredo do verdadeiro equilíbrio, sem o qual não se faz um verdadeiro líder.

2- O CAMINHO DO GUERREIRO

Há situações em nossa vida em que precisamos saber acessar o nosso guerreiro. São aqueles momentos em que não se pode contemporizar nem fugir. A recusa em lutar, em fazer valer as nossas razões pode nos conduzir a perdas irreparáveis. Nesses momentos precisamos saber acessar esse arquétipo. Mas não só nesses momentos. O Guerreiro nos serve também em outras diferentes situações, em que se precisa de um líder, de alguém que assuma a responsabilidade, que se apresente para guiar o grupo.
Eis alguns elementos típicos do arquétipo do GUERREIRO.
 O GUERREIRO é ao mesmo tempo mago, líder, protetor, aventureiro e explorador de oportunidades. Exemplos de guerreiros históricos: O Rei Davi, Alexandre, o Grande, O Rei Arthur, Rodrigo de Bivar (o El Cid) Willian Wallace, Napoleão Bonaparte, Jorge Washington.
 Como sua virtude guia é mostrar-se e estar sempre presente, ele se apresenta para o trabalho, não foge da luta, está sempre por perto quando se precisa dele.
 Mostra honra e respeito por todas as pessoas e por todas as coisas. Isso faz dele um ser respeitador e tolerante.
 Sabe estabelecer limites e determinações para seus comandados e principalmente para si mesmo. Isso significa que ele é disciplinado e disciplinador.
 É responsável e justo. Isso significa que ele não exige dos outros mais do que ele mesmo se dispõe e é capaz de fazer.
 Faz uso correto do poder. Não é despótico nem usa o poder em benefício pessoal.
 Entende e sabe usar os três “poderes universais”: presença, comunicação e posicionamento.
 Sabe que a hora de retirar-se de cena é mais importante que a hora de entrar, isto é, sabe ser verdadeiramente modesto.

3- AS VIRTUDES DO GUERREIRO

Honrar e respeitar coisas e pessoas
 Honrar é reconhecer valor nos outros. O que há de bom no seu próximo? O que pode ser aproveitado na ideia dele ou que há de útil no seu comportamento, na sua atitude? O guerreiro sabe que toda intenção é positiva. Sem abstrair os resultados negativos da ação, ele as analisa sem julgar nem culpar.
 Respeitar significa ter disposição para olhar de novo. Respeito vem do latim respicere, que quer dizer reexaminar. Isso significa uma postura de tolerância, flexibilidade e ecletismo. Saber examinar e valorar as diferenças (nossas e dos outros).


Comunicação criteriosa

 Comunicar-se com critério Ser critério é ser consistente em palavras e ações. Como disse Jesus: Seja o seu falar sim, sim, não, não, pois o que dai passar procede do mal. Não dizer o que pensamos e o que queremos das pessoas é a principal causa dos mal entendidos e da des-confiança. O líder guerreiro é congruente em palavras e ações, por isso é confiável. Ele tem “fio de bigode”, honra seus compromissos, não promete o que não sabe fazer nem se compromete com o que sabe não poder cumprir.

Limites e determinações

 Dizer sim por não ou não por sim significa perda de poder e credibilidade. Mais que um aspecto da boa comunicação, estabelecer claramente a diferença entre o sim e o não é uma questão de respeitabilidade. Dizer sim não significa que gostamos da pessoa com quem concordamos. Dizer não significa que estamos rejeitando a pessoa de quem dis-cordamos. Sentimentos não estão envolvidos nessa relação. Sim e não são limites que podem ser demarcados sem que isso envolva emoções. O Guerreiro sabe quando pode dizer: sim, isso é possível fazer; não, isso não estamos em condições de cumprir. O guerreiro sabe separar o com-portamento da pessoa.

Responsabilidade e disciplina

 O Guerreiro sabe ser responsável e disciplinado. Entende que não é o acontecimento que importa, mas a resposta que damos a ele. O que uma pessoa diz ou faz não tem tanta importância quanto a forma como interpretamos a mensagem ou recebemos a ação.
 O Guerreiro assume responsabilidade por tudo que diz e faz. Se disse, disse. Se fez, fez. Jamais desdiz o que disse ou nega o que fez. Não admite indulgência consigo mesmo, mesmo que a tolere nos outros.
 Quanto à disciplina, esta significa encarar os problemas de frente e organizar as informações antes de agir. O Guerreiro é discípulo de si mesmo, ou seja, ele descobre o próprio ritmo e o respeita. Ele sabe que quando temos muito a fazer, podemos perder o rumo se agirmos com precipitação; se nada temos a fazer, podermos perder o rumo se nos entregarmos à ociosidade.
 O Guerreiro sabe também respeitar a estrutura e a função. Estrutura é sinônimo de formalidade, regramento, burocracia. Função é ação, ímpeto, liberalidade. Pouca estrutura leva á desorganização, muita estrutura leva á calcificação, à cristalização de comportamentos e tolhe a criatividade. Pouca funcionalidade é sinal de estagnação e emperramento, muita funcionalidade significa desperdício de energia e criatividade sem direcionamento. É preciso saber dosar com equilíbrio a estrutura e função.

 Os três pressupostos do guerreiro são os três famosos não: Quando houver muito a fazer não se precipite; quando não houver nada a fazer não se preocupe; e sobretudo, não dê opiniões sobre o certo e o errado.

Uso correto do poder

 O grande desafio do guerreiro é aprender a usar corretamente o poder. Não precisa abdicar da sua autoridade nem se tornar arrogante, autoritário, intolerante. Poder e remédio são sinônimos. O uso correto do poder é remédio para curar os males que contaminam os relacionamentos e enfraquecem a sinergia dos grupos. Não deve ser usado como estimulador de prazeres egocêntricos. O Guerreiro não diz “ eu quero”. Diz: “ é preciso, é necessário.” O Guerreiro pode fazer uso da sua força para solucionar problemas ou atingir resultados. Usar a força, quando neces-sário, não é abuso de autoridade. A força, neste caso, vem da autoridade conquistada e só pode ser utilizada por quem a tem.
 Imposições externas, alheias aos resultados que se pretende, não interferem na vontade do guerreiro. Suas decisões são baseadas no interesse da causa, ou do grupo, e não por força de pressões externas, in-teresses de grupos ou ameaças.

4- OS TRÊS PODERES DO GUERREIRO

Presença

 O guerreiro está sempre presente e visível. Não se omite nem se esconde.
 Ele descortina na frente do grupo as quatro inteligências do homem: a mental, a emocional, a espiritual e a física. Ele tem carisma e magnetismo. As pessoas “sentem” a presença do guerreiro.

Comunicação
 O guerreiro pratica a comunicação efetiva. Sabe escolher as palavras, o tom de voz apropriado ao momento, lugar e contexto, a postura corporal correta. Seu discurso apresenta congruência entre o conteúdo verbal e a postura corporal.

Posicionamento
 Seu posicionamento é firme, claro, suas propostas são definidas. As pessoas não têm dúvidas a respeito do que pensa e sente.


5- GUERREIROS ARQUETÍPICOS


O Rei Davi

David viveu por volta de 1050 a C. Sucedeu a Saul como se-gundo rei de Israel, após uma série de lutas internas, conflitos tribais e guerras conta povos vizinhos, que culminaram com a fundação do reino dos israelitas. Davi foi o unificador da nação de Israel. Foi um rei popu-lar, nascido do povo e forjado nas lutas e nas dificuldades que o povo is-raelita enfrentou para se tornar uma nação. Filho do pastor Jessé, era o caçula de uma família de oito filhos, que habitava a pequena aldeia de Belém.
Pastor por tradição familiar, ele teria sido escolhido por Deus para suceder a Saul como rei de Israel. A Bíblia não revela quais os critérios de Deus para fazer essa escolha recair sobre um humilde e desconhecido pastor, mas sobreleva que a humildade e um coração, puro teve grande influência nessa escolha. Além disso Davi parece ter sido possuidor de uma grande sensibilidade e uma forte crença nos desígnios divinos, o que dele o protótipo ideal para o importante papel que viria a desempenhar.
O cronista bíblico o descreve como um jovem de grande coragem e extraordinária sensibilidade. Já no início do seu envolvimento com os assuntos políticos e militares do reino israelita, ele aparece como um valente guerreiro que desafia um gigante filisteu que vivia aterrorizando as tropas de Israel. Era um gigante chamado Golias que todos os dias desafiava os soldados de Israel para a luta. Como era muito grande e forte, ninguém ousava enfrenta-lo. Então surge Davi, armado com uma fun-da(uma espécie de estilingue primitivo, que lançava pedras a considerável distância). Atirando uma pedra na nuca do gigante, Davi o coloca por terra. Com o colosso desmaiado, o jovem pastor pega sua espada e o degola. Torna-se com isso um herói.
Além dos feitos militares, Davi é pintado nas narrações bíblicas como um grande poeta e hábil harpista. A tradição sustenta que a maioria dos poemas musicados contidos na Bíblia, chamados Salmos, são de sua autoria.
Apesar dos seus feitos e da sua suposta escolha por Deus para governar Israel, a trajetória de Davi rumo ao trono israelita não foi fácil. A Bíblia narra as peripécias e a difícil saga que ele teve que enfrentar até se tornar rei. Perseguido por Saul, sitiado por inimigos, traído por amigos e às vezes combatido pelos próprios compatriotas, muitas vezes Davi esteve a ponto de desistir. Muitos dos supostos salmos que ele compôs retrata esse estado de espírito.
Depois da morte de Saul, a tribo de Judá o escolheu como seu rei, enquanto que as outras onze tribos ficaram com filho de Saul, Isboset. Uma fase de conflitos entre Judá e Israel marcou o breve período em que Israel teve dois reis. Mas com a morte de Isboset, Davi foi escolhido rei de toda nação de Israel e finalmente a unificação das tribos em um ver-dadeiro reino aconteceu. Israel se tornou, finalmente, uma nação. Com a transferência da capital de Hebron para Jerusalém, após conquistá-la aos jebuseus, a famosa cidade tornou-se o centro religioso dos israelitas, pois nela foi depositada a Arca Sagrada, símbolo da aliança de Deus com o povo de Israel.
Davi lutou contra as tribos vizinhas e expandiu os territórios israelitas. Ao morrer, a monarquia estava consolidada e os limites de Israel consideravelmente aumentados. Infelizmente, os últimos anos de seu reinado foram perturbados por várias rebeliões o promovidas por seus próprios filhos. Como era costume na época ele envolveu-se com várias mulheres e gerou muitos descendentes. Essa prolífica família, como é obvio, suscitava muitas rivalidades, o que fez da corte israelita um território de muitas intrigas e conflitos.
Finalmente, depois de muitas desavenças, o trono de Israel foi finalmente entregue ao seu filho Salomão, seguramente o mais preparado entre os filhos de Davi. E a partir dessa linhagem, continuada por Salomão estabeleceu-se a tradição em Israel de que a sua linhagem real, para todos os tempos, seria estabelecida na família de Davi. Essa tradição será encontrada mil anos depois, no tempo de Jesus, quando os judeus acreditavam que um descendente de Davi ― o esperado Messias ― viesse para libertá-los do jugo romano.
Coragem, presença, sensibilidade e um forte sentido de missão como crença foram as forças que empurraram Davi para o seu destino. Por isso nós o vemos como um modelo ideal para o nosso estudo sobre o Arquétipo do guerreiro.
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DO LIVRO "O CAMINHO QUÀDRUPLO"- ANGELES ARRIENS- ED. APX, SÃO PAULO 1996
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 04/10/2010


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