AMBIENTE E COMPORTAMENTO
Ambiente
A estrutura neurológica do ser humano se forma a partir do ambiente. Neste nível, ele reage aos estímulos do mundo exterior, localizando a si mesmo no tempo e no espaço como criatura pertencente a um sistema, que nele tem um reflexo. Aprender a viver e a evoluir nesse ambiente é a primeira fase da aprendizagem do ser humano. Ou ele aprende a responder com eficiência aos desafios a que é submetido no ambiente em que vive, ou dele é expulso em conseqüência da aplicação da lei dos revesamentos.
Começa pelo fato de sermos todos produtos de uma mesma matriz geradora: a mãe natureza. A todos nós ela prodigaliza, já de início, um padrão comum de informação que se expressa pela capacidade de sentir e responder aos desafios que a vida lhe coloca. É um padrão que consiste na habilidade inata que toda espécie tem para prover os meios necessários à sua subsistência e adaptar-se às mudanças do ambiente, promovendo em sua estrutura biológica as transformações que esse processo de adaptação requer.
Essa informação nos vem como herança genética, e vai sendo enriquecida através da experiência realizada pela espécie, em milhões de anos de interação com o meio que a cerca, produzindo respostas aos desafios a que é submetida. Esse enriquecimento funciona como uma adição às suas habilidades, obtida pelo progresso feito por cada organismo em particular, nas respostas que oferece a esses desafios.
Assim, a melhoria constante na qualidade da resposta pode ser considerada como o percentual de qualidade que cada indivíduo, em particular, acrescenta à evolução da sua espécie. É esse acréscimo que a socorre nos momentos em que os acontecimentos dela exigem um dispêndio maior de energia, ou seja, nas oportunidades em que ela é ameaçada de extinção.
Os organismos que conseguem obter tais resultados são exatamente aqueles que sobrevivem e se adaptam mais facilmente às mudanças ambientais, prosseguindo em suas escaladas evolutivas, enquanto os que falham são aquele que irão engrossar o rol das espécies extintas.
Comportamento
Comportamentos são ações específicas que praticamos como resposta aos desafios que a vida nos apresenta. Elas se relacionam a tempo, espaço, qualidade, e principalmente à necessidade que o nosso organismo tem de atingir estados neurológicos cada vez mais satisfatórios.
O nível neurológico responsável pelos nossos comportamentos é aquele no qual respondemos à crucial pergunta que se levanta, toda vez que o organismo é provocado: o que fazer? Que resposta podemos dar a esse estímulo? A solução para esse questionamento tanto pode ser uma atitude heróica, quanto um colapso nervoso ou uma ação meticulosamente organizada.
Nos dois primeiros casos, trata-se de respostas geradas no sistema límbico, cujo processamento neurológico é orientado unicamente pelas informações primárias (genéticas) que a nossa mente herdou, por força da própria experiência de vida da espécie. Já no terceiro caso, as respostas são orientadas pelo néocortéx, onde estão instalados os filtros perceptivos da nossa mente, que julgam a situação e sugerem a resposta que o sistema neurológico acha mais acertada para ela.
A parte do cérebro responsável pelos componentes emocionais que colocamos em nossos comportamentos é a amígdala cortical. Mapeamentos do cérebro humano, feito por neuro-cientistas, demonstram que é nessa estrutura em forma de amêndoa que se processam as funções emocionais que dão sentido aos nossos atos.
Joseph LeDoux, pesquisador da Universidade de Nova Iorque, é um dos pioneiros nesse ramo de investigação. Ele descobriu que a amígdala cortical funciona como se fosse uma espécie de sentinela emocional, que exerce um controle sobre as nossas emoções, disparando comandos destinados a proteger nosso sistema nervoso. Assim, um colapso nervoso, ou seqüestro emocional (na expressão de Daniel Goleman), nada mais é do que um tiro desferido pela amígdala cortical para a nossa proteção.
Muitas vezes, antes de pensarmos em alguma coisa, já decidimos se gostamos dela ou não. O inconsciente nos diz o que sentimos a respeito delas, e o que sentimos nem sempre está em consonância com o que pensamos a respeito. A mente consciente pode ter opiniões diferentes da mente inconsciente, e é isso que, muitas vezes, causa a incongruência e o conflito que faz com que o nosso comportamento se torne uma inabilidade que nos leva a um mau desempenho, ao invés de resultar em uma força capaz de conduzir-nos ao resultado desejado.
É o sistema límbico que controla as nossas emoções primárias. Ele dispara respostas orientadas por mecanismos primários de defesa, desenvolvidas nos níveis de processamento mais instintivos.
Dessa forma, atitudes heróicas e seqüestros emocionais são mecanismos de defesa que a nossa mente desenvolve para socorrer-nos em momentos que requerem dispêndio de uma intensa energia. Já vi isso acontecer com duas pessoas da minha relação. Um amigo meu, na iminência de perder um filho, preso num automóvel em chamas, enfrentou o inferno em que o veículo havia se transformado e retirou de lá, ileso, o menino. Pagou um preço bem alto por isso, no entanto, pois suas roupas se incendiaram e ele sofreu pelo corpo todo queimaduras de terceiro grau que o deixaram parecido com um monstro.
Todavia, ele não permitiu que a terrível experiência vivida continuasse a ser processada a nível primário. Ele a filtrou para níveis mais altos em seu sistema neurológico e a transformou em uma rica experiência de aprendizagem.
Nunca o vi aborrecido com aquela situação. Ao contrário, vivia rindo de si mesmo. Dizia que com aquele rosto nunca mais ficaria desempregado, pois sempre poderia arranjar um papel no teatro ou no cinema, fazendo filmes de terror. Parecia divertir-se verdadeiramente com isso, e pelo seu comportamento era possível perceber que a sua atitude era natural e não uma farsa para encobrir a amargura da situação.
Tornou-se professor universitário e aproveitava a estranha condição do seu rosto para dele tirar efeitos visuais incríveis, que em muito facilitava a sua comunicação.
Já a outra pessoa era daquelas que, à primeira vista, despertava a admiração de todo mundo. Moça de invulgar beleza, onde entrava atraia imediatamente a atenção dos homens e a inveja das outras mulheres. Professora universitária, funcionária pública de alto cargo, inteligente e versada nos mais diversos assuntos, já há mais de dois anos não conseguia manter um único relacionamento estável. Quando comecei a trabalhar com ela, aplicando às suas referências e valores alguns padrões de prestidigitação lingüística, em menos de quinze minutos ela havia desabado num autêntico seqüestro emocional, que resultou numa crise convulsiva de choro, com turvamento de visão e queda de pressão sangüínea.
Recuperada, disse-me mais tarde que sua visão e seus pensamentos continuaram embaralhados por mais de uma semana, e depois que se estabilizaram, ela nunca mais foi a mesma. Começou a repensar a própria vida e a rever seus valores. Fiz com ela alguns exercícios de PNL,alinhando seus níveis neurológicos e reformulando algumas crenças.
A última notícia que tive dela foi que havia reatado com um antigo namorado e estavam agora morando juntos. Esse relacionamento já durava pelo menos dois anos e estava indo muito bem, tanto que já estavam pensando em oficializá-lo pelo casamento.
Como devemos nos comportar é uma questão de escolha e quanto maiores forem as nossas opções nesse sentido, maior a chance de atinar com a resposta certa. Pessoas inflexíveis, arrogantes, autoritárias, conservadoras ao extremo, meticulosas, estão neurologicamente organizadas para responderem sempre do mesmo modo.
Seus padrões de respostas, geralmente são medíocres e previsíveis. Quando a situação foge dos paradigmas que conhecem, suas atitudes variam entre dois extremos: se não têm coragem física, fogem; se são valentes, partem para a briga.
Em qualquer dos casos, porém, negociar, analisar as razões alheias, ponderar, compreender, para elas é um exercício extremamente desconfortável. Não diríamos que tais pessoas sejam eficientes, mesmo que se tratem de exímios profissionais e saibam fazer certas coisas muito bem.
São pessoas que podem ser muito hábeis para determinadas tarefas, mas a falta de inteligência emocional e o individualismo que as caracteriza as torna incapazes de operar comportamentos eficazes dentro de um sistema. Quando suas relações envolvem outras pessoas, elas não conseguem desenvolver bons desempenhos. Como a arte de viver sempre está enredada em relações, seus resultados na vida costumam ser geralmente medíocres.
Assim, colocar um pouco de inteligência em nossas emoções é de vital importância para encontrarmos a resposta certa. E isso é possível.
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1-A lei dos revesamentos é a teoria que, em antropologia, explica a evolução e a extinção das espécies, mediante a substituição das que se mostram incapazes de se adaptar às mudanças do ambiente, por outras, mais competentes.
2- Inteligência Emocional- op. citado
DO LIVRO "á PROCURA DA MELHOR RESPOSTA"- BIBLIOTECA 24X7- SÃO PAULO 2009
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 06/10/2010
Alterado em 06/10/2010