“ Pouco importa venha a velhice.
O que é a velhice?
Seus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais do que a mão de uma criança.”
Carlos Drummond de Andrade
Sei que vou morrer um dia, e esta sabedoria
É a única verdade que não posso contestar.
Mas a dor desta certeza que se anuncia
É como o hóspede que chega sem avisar.
Gostaria de viver sem pensar na duração.
Não manter nos arquivos da minha mente
Esta contagem de aniversários e gerações
Uma idade que não se quer e nem se sente.
Esse é o mal que este sistema nos apresenta.
A cada dia que riscamos na folhinha
É como renda que o tempo nos acrescenta
Mas sobre a qual sempre incide este tributo.
Bom seria poder pensar como o meu cão.
Ele vive na eternidade do momento.
Não sabe que o tempo é uma flecha
Que a cada dia mais se aproxima do seu intento.
Talvez o que nos faça realmente velhos
Seja a soma dessas memórias fugidias
Esse fardo de experiências e lembranças
Que não sabemos descarregar no fim do dia.
Carregamos para cada novo amanhã
Os nossos atos, como se fossem unidades
Esse é o peso da vida que envelhece
A sobrecarga da própria identidade.
Bom seria nunca pensar na duração
Como se a vida jamais tivesse esse declive.
Viver sem tempo sorvndo o mel de cada instante
Eternizando-se no momento em que se vive.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/10/2010
Alterado em 04/10/2011