João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


OS INICIADOS DO ATACAMA

Escreve o Irmão Del Poente:
“Observando o evento do Chile; a interrupção do túnel onde os mineiros estavam em atividade de trabalho, consigo extrair dali ensinamentos maçônicos. Em dado momento um grupo de 33 homens, este número não é por acaso, são privados do bem maior, a liberdade, e depois dos seus patrimônios. Ficam as escuras em espaço limitado, uma caverna, obrigados a se organizarem e instalar um lider, (venerável), a estabelecer a obediência e seguir as regras emanadas; desenvolver a paciência, a tolerância, a solidariedade, o espírito de união, e ter atividades laborativas. Estes princípios, ainda que praticados num grupo de pessoas possivelmente alheias aos ensinamentos maçônicos, foi determinante para conduzi-los à Luz. Tudo isto deu-se graça ao Grande Arquiteto do Universo. É só verificar que encontraremos outras respostas maçônicas importantes naquele evento. abraços. Del Poente.”

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O curioso texto acima foi escrito por um irmão que estava em visita ao Chile na época em que os mineiros presos na mina no deserto do Atacama foram resgatados. Dai ele fez as ilações que registramos acima. Faz sentido. Logo depois de ler o bizarro texto produzido pelo irmão fui procurar outras coincidências significativas relativas a esse evento. Eis o que apurei.
 
Textos extraidos da Internet.

1. Mineiros chilenos fazem pacto de silêncio.

“Os 33 mineiros que ficaram presos mais de dois meses numa mina do Chile fizeram um pacto de silêncio sobre os primeiros 17 dias em que estiveram soterrados.
Na primeira entrevista coletiva, o porta-voz do grupo, Juan Illanes, disse que a experiência desses dias será guardada como «segredo de Estado», anuncia o jornal chileno La Tercera. O objetivo, segundo Illanes, é «preservar a imagem dos mineiros» e mais tarde escrever um livro a partir dessa experiência. Sobre esses primeiros dias, os mineiros revelaram que tiveram de racionar água e comida para conseguirem sobreviver em condições extremas 700 metros debaixo de terra. As refeições estiveram limitadas a uma colher de atum e meio copo de leite para cada um. ”Acompanhado de outros seis colegas, Illanes também pediu aos jornalistas para «respeitarem a privacidade» dos trabalhadores, de forma a que estes consigam adaptar-se à nova realidade.”

Coincidência significativa. A Maçonaria também é uma sociedade unida por um pacto de silêncio. Não sobre assuntos particulares com respeito à individualidade dos seus membros, mas em relação a certos aspectos de sua prática, que no dizer inspirado de Fernando Pessoa é um “sistema de linguagem” que une seus membros numa cultura especialíssima feita de tolerância, solidariedade, paciência e espírito de união, como bem observado pelo Irmão.Quer dizer: participar da maçonaria é compartilhar uma experiência de união e simbolismo construtivo onde o que mais se releva é o espírito de irmandade. Semelhante á experiência vivida pelos mineiros chilenos. 

2. O mineiro revelou ainda que o grupo está muito interessado em «consolidar coisas», indicando a possibilidade de se dedicarem a criar uma fundação que forneça formação profissional em diversas áreas.

Coincidência significativa. A Maçonaria não é uma fundação. Mas tem características de uma. Em várias de suas propostas e em muitas de suas práticas, transparecem e são executadas ações que lembram objetivos fundacionais. Desenvolvimento de projetos de educação, saúde, administração de hospitais, asilos, creches, escolas, etc.

3. O que jamais vão esquecer é o momento em que foram trazidos para a luz. Ver de novo a luz do sol significou para eles, nascer de novo.
 
Coincidência significativa. Os dois primeiros itens acima citados são  consequências que podemos apontar após a experiência traumática vivida pelos mineiros chilenos. Já as apontadas no preâmbulo deste texto, deduzidas pelo Irmão Del Poente e terceira acima referida são causais. Decorrem da própria experiência em si. Como dizia o famoso escritor (e maçom) S.L Mathers, existem pessoas que são iniciadas através dos ritos próprios, artificiais, criados para imitar a realidade, e outras que são iniciadas pela própria vida. Essas últimas são as iniciações naturais, nas quais a própria natureza revela aos iniciados os seus segredos. Talvez seja essa a verdadeira fonte da espiritualidade e da ânsia do nosso espírito na busca dos segredos arcanos. A vida é quem ensina; a vida é quem ilumina. Pois foi assim, provavelmente por acidente, que nasceram Os Mistérios, base primária de toda busca espiritual e de toda especulação a respeito do significado da vida e dos segredos do universo. Os rituais que daí se desenvolveram são apenas imitações da vida.
Um homem encerrado na escuridão de si mesmo é um espírito em busca da sua luz pessoal. Ele mergulha nas trevas interiores da sua consciência (ou inconsciência) para encontrar a sua luz. Esse é o principio e o objetivo da iniciação maçônica e de todas as iniciações, nas quais se desce ao interior da terra (VITRIOL- Visita Interiora Terra Rectificando Invenies Ocultum Lapidem)*para de lá emergir com uma nova proposta de vida.
Quantas experiências de insights(na linguagem científica) ou iluminações (na linguagem religiosa) não ocorreram em eventos semelhantes ao que viveram os mineiros chilenos? Pois é na presença da mais profunda treva que brilha a luz da verdadeira vida. Jesus nos seus quarenta dias de deserto, Moisés no seu exílio do deserto, João, o Evangelista, no seu retiro na ilha de Patmos, Francisco de Assis no seu retiro monástico, Zaratustra na sua solidão da montanha, todos encontraram sua luz em experiências semelhantes, que os colocaram frente à morte eminente e á solidão aterradora de um mergulho na escuridão. Parodiando Vitor Hugo, “Quem se vê neste vestíbulo da solidão irremediável, quem visita esse promontório, esse Patmos onde o próximo passo é a queda livre da derradeira imobilidade” dele não retorna sem marca. Ou temos um profeta ou então um louco. Seja qual for o diagnóstico, nunca mais um indivíduo submetido a uma tal experiência será o mesmo.
Não é toa que todos os ritos iniciáticos têm essa caraterística comum: a prática de encerrar o iniciando numa imitação de trevas (que na maçonaria é a venda nos olhos e o seu encerramento na Câmara de Reflexões). E depois desse período ele é levado ao templo, para, na frente do Venerável e da Egrégora formada pelos Irmãos, receber a Luz da Iniciação.
O que é a Iniciação? É uma simbologia que significa a conclusão de um processo escatológico que se desenvolve no espirito do iniciando naqueles momentos de nervosa e inquietante expectativa em que ele está “cego, preso e perdido”, num labirinto de trevas, cercado pelos símbolos da morte eminente.
Dramatiza-se, nesse ritual, o renascimento do espírito, tema inscrito na proposta de todas as práticas espirituais. Da mesma forma que a nossa vida como seres humanos tem o seu início com o nascimento, a vida do espírito também começa no momento em que os nossos olhos são feridos pela luz do conhecimento. Assim, a vida, tanto da carne, quanto do espírito, é o resultado do nosso encontro com a luz. Por isso iremos encontrar em todas as religiões antigas uma busca desesperada pela Luz, e como consequência desse anelo, a adoração por aquele que a gera, o Sol. O Sol é a deidade central em todos os cultos antigos, por isso é que nós os chamamos de cultos solares. No Egito antigo, por exemplo, o faraó era considerado o Filho do Sol. Seu poder não vinha de nenhuma relação temporal, mas do próprio Sol, (o deus Rá). Nos Upanixades, livro sagrado do hinduísmo, se diz que o Sol é vida e a Lua é matéria.
Aristóteles dizia que o sol e homem geram o homem. Da união da terra com o sol nasce toda a criação universal. Fico pensando no que devem ter sentido os mineiros chilenos quando finalmente, depois de tantos dias sepultados vivos no interior da terra, contemplaram novamente a luz do sol. Deve ter sido mesmo, um novo nascimento, uma nova vida que para eles começava.

4. O que nos alentava era saber que o mundo todo estava conosco. Que todos estavam orando por nós."

Não há como fugir dessas ilações. A alma individual, de cada ser humano, está ligada à Alma Maior, da Humanidade, enquanto Ser ontológico e uno. Por isso todos os espíritos se voltaram para o Chile, para viver, de algum modo, a mesma experiência que os mineiros estavam vivendo, naquele túnel, apartados do sol e do mundo. Uma parte de todos nós estava lá, naquela mina. Algo da “iniciação natural” que eles estavam vivendo também se passava no nosso espírito. Não era apenas uma questão de mídia, de foco de atenção posto pela imprensa mundial em cima do evento. Era o arquétipo Iniciação que estava sendo compartilhado com eles por toda a humanidade.
Os mineiros chilenos, naquele momento, eram todos “neófitos”, encerrados numa Câmara de Reflexões natural. Em pensamento devem ter exercido os rituais que os neófitos, em suas Iniciações, exercem. Devem ter escrito seus testamentos, feito as suas reflexões, proferido suas orações. Despediam-se da vida anterior, para, se lhes fosse dado novamente a oportunidade de ver a luz do sol, nascerem para uma nova vida.
Esse é o significado do simbolismo contido nesse interessante arquétipo, que é a Iniciação. Toda vida é uma jornada em busca da luz. E da mesma forma que o iniciado nos Sublimes Mistérios da Maçonaria ou de outras práticas arcanas semelhantes, os mineiros chilenos devem ter sentido a mesma coisa que o neófito sente quando lhe é tirada a venda dos olhos e ele recebe, na presença dos Irmãos a Luz.

O Irmão Del Poente teve uma bela inspiração ao lembrar as coincidências significativas existentes entre o episódio dos mineiros chilenos e as tradições maçônicas. Não é toa que à cápsula que os resgatou foi dado o nome muito sugestivo de Fenix. Fênix é o mítico pássaro que renasce das cinzas e na Maçonaria tem um significado simbólico assás interessante que é bastante explorado nos chamados graus filosóficos.
Muitas outras relações de caráter místico poderiam ser invocadas deste estranho acontecimento. Nós nos fixamos naquelas que podem ser aproximadas e comparadas à luz da tradição. A lição que podemos tirar daí é que existem profanos iniciados e iniciados profanos. E que não é o compartilhamento ritual que confere o caráter de sacralidade à nossa personalidade, mas sim as nossas atitudes. Temos certeza que alguns dos mineiros retirados daquela sepultura coletiva no deserto de Atacama provarão isso no futuro através de suas ações humanitárias e espiritualistas.
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Notas

VITRIOL é termo usado pelos alquimistas designar a procura e a descoberta da pedra filosofal. Em latim significa "Visita Interiora Terra Rectificando Invenies Ocultum Lapidem" ou seja "Visita o interior da terra e retifica a pedra oculta". Em termos filosóficos significa a reformulação do espírito pela meditação e pelo conhecimento da própria inconsciência. "Conhece-te a ti mesmo," ou "Só sei que nada sei," conforme dizia Sócrates. A relação que pode ser invocada aqui é que esse conhecimento é sempre associado à solidão ou ao esvaziamento da consciência (escuridão, ausência de estímulos visuais etc.), condição necessária para a manifestação das realidades espirituais. 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 19/10/2010
Alterado em 21/10/2010


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