Livro: o Pêndulo de Foulcaut
Autor: Humberto Ecco
Editora Record- 6º Edição
Sinopse
Três amigos, Belbo, Diotallevi e Casaubon, que trabalham para uma pequena editora, decidem, por mera diversão, inventar uma conspiração urdida por uma sociedade secreta criada pela imaginação deles. Desenvolvem uma teoria segundo a qual eles seriam os depositários de um segredo capaz de dar-lhes o controle da humanidade. Esse “segredo”, que no momento encontrava-se perdido, envolve principalmente o tesouro dos Templários. Ele está conectado á uma série de sociedades secretas, que vão desde a Maçonaria, a Golden Dawn, a Igreja Católica, os Teosofistas, os nazistas e outras organizações do gênero. Para eles tudo é apenas uma sátira intelectual, um “Plano”, como eles o chamam. A certo momento eles se veem tão envolvidos pela farsa intelectual que armaram que começam a acreditar que pode haver algo de verdadeiro na trama por eles imaginada. Mas a coisa esquenta mesmo é quando outras pessoas, que realmente acreditam que eles conhecem o referido “segredo” entram em cena. Então, o que era apenas uma brincadeira, um “exercício semiótico”, como o próprio autor chama a sua estória, se torna uma aventura extremamente perigosa.
O que é o Pêndulo de Foucault
Trata-se de um instrumento desenvolvido pelo físico francês Jean Bernard Léon Foucault para demonstrar a rotação da Terra. Ele permite deduzir o movimento de rotação do planeta pela observação da oscilação de um pêndulo em relação a um ponto referencial. Foucault demonstrou essa particularidade em 1851, fixando um pêndulo no teto do Panthéon de Paris. Observando a oscilação e a rotação do pêndulo, ele pode provar a rotação da Terra. Verificou também que a velocidade e a direção de rotação do plano pendular permitia igualmente determinar a latitude do local da experiência sem precisar fazer nenhuma observação astronômica exterior. Essa descoberta foi muito importante para o avanço da Astronomia. As descobertas de Foucault em relação aos movimentos pendulares e suas relações com o magnetismo terrestre e outras energias são o fundamento da técnica da radiestesia, hoje utilizada na medicina alternativa. Por si só, o Pêndulo de Foucault é um símbolo que, embora esteja ligado a proposições científicas, se presta muito a ilações esotéricas e místicas. É nessa relação com o simbolismo mágico e o fascínio que elas exercem sobre o espírito humano que o autor fundamenta a sua trama.
Um exercício semiótico
Humberto Ecco diz que o Pêndulo de Foucault é um exercício semiótico que ele faz em cima das chamadas doutrinas esotéricas e das consequentes teorias conspiratórias que geralmente estão ligadas às pessoas e organizações que as professam. Mas na verdade, o romance é uma vigorosa sátira às chamadas sociedades secretas, suas doutrinas e aos propagadores de estórias do gênero. Com muita propriedade ele diz que “inventou” Dan Brown e todos os demais romancistas que estão ganhando dinheiro com seus romances e estórias afins, calcadas em cima de mistérios históricos e teorias conspiratórias.
É verdade. O romance de Humberto Ecco é precursor do Código da Vinci e outros romances do gênero. É fácil ler e gostar do Código da Vinci. É um thriller bastante movimentado envolvendo uma conspiração milenar e um suposto romance entre Jesus Cristo e Maria Madalena. Uma trama bem a gosto dos leitores, que não precisam ter nenhuma erudição, nem qualquer conhecimento de História ou de doutrinas esotéricas para entender a trama. Já o Pêndulo de Foucault não. É uma trama que para ser bem entendida exige que leitor detenha alguns conhecimento a respeito das doutrinas esotéricas e seus seguidores.
Humberto Ecco é filósofo e professor de linguística. Ele domina como poucos a manipulação da linguagem simbólica e é erudito em assuntos de esoterismo. Provou isso em o Nome da Rosa e mais ainda no Pêndulo de Foucault. Começa pelos títulos dos capítulos, todos nomeados segundo as séfiras da Árvore da Vida da Cabala, com claras alusões, em cada reflexão feita pelos personagens da trama, aos significados esotéricos desses símbolos.
Tudo começa quando três amigos, Belbo, Casaubon e Diotalevvi resolvem publicar um livro escrito por um certo Coronel Ardenti, que revela um suposto plano dos Cavaleiros Templários para dominar o mundo. Essa conspiração foi descoberta e debelada, sendo os Templários presos e a sua Ordem dissolvida. Isso aconteceu no início do século XIV, mas os Templários sobreviventes continuaram a trabalhar seu plano através dos tempos, e na época presente eles sobrevivem através de algumas sociedades secretas.
A teoria do coronel Ardenti é a de que depois que a Ordem do Templo foi dissolvida alguns cavaleiros escaparam e estabeleceram diversos grupos pelo mundo, disfarçados de Lojas Maçônicas e outras sociedades secretas. Estes grupos se encontram a intervalos regulares, em lugares distintos, para dar continuidade aos objetivos dos Templários. O principal objetivo desses grupos é encontrar o tesouro perdido dos Templários. Esse tesouro, no momento está perdido, e ele é conhecido na história e na tradição como Santo Graal. Segundo as pesquisas de Ardenti, os Templários deveriam ter assumido o controle do mundo em 1944; sua face política era o Nazi-Fascismo, o qual evidentemente falhou em consequência de as potências do Eixo terem perdido a guerra.
O Coronel Ardenti dá mostras de saber onde o Tesouro dos Templários está escondido. Ele desaparece misteriosamente depois de se encontrar com Belbo e Casaubon para discutir a publicação do livro.
A partir dai o romance faz uma profunda incursão na história das doutrinas secretas, seu significado, as tradições nas quais elas se amparam e nas lendas que as cercam. Do espiritismo ao candomblé brasileiro, da Teosofia à Alquimia, da Gnose à Umbanda, Humberto Ecco passeia por todo o território do ocultismo com grande erudição.
Os três amigos, a partir da teoria de Ardenti, começam a desenvolver a sua própria teoria de conspiração. Chamam a essa teoria "O Plano", que nada mais é que uma sátira as crenças dos chamados “Diabólicos”, que são os divulgadores e partidários dessas teorias. Esses são os chamados escritores que publicam livros sobre o assunto e os membros dessas sociedades que acreditam em tais “segredos”. A partir do manuscrito de Ardenti eles desenvolvem uma complicada teia de conexões místicas e misteriosas, que são organizadas e trabalhadas em um programa de computador chamado “Abuláfia”, desenvolvido por um deles. De repente tudo se torna um jogo de palavras que revela uma conexão misteriosa, de tal forma que, em certo momento, eles mesmos começam a ficar em dúvida se tudo era uma farsa criada por eles mesmos ou uma conspiração verdadeira que eles descobriram por acaso. E na esteira dessa trama começam a acontecer os assassinatos.
A trama envolve aspectos históricos, através da saga dos Cavaleiros Templários, e científicos, que envolvem inclusive o controle ambiental do clima, das correntes marítimas e atividades sísmicas, através de conhecimentos ocultos que supostamente os Templários possuíam. Inclui organizações históricas como a Ordem do Templo, a Rosa-Cruz, os Palacianos, os Sinarquistas, os Iluminattis, os Teosofistas, e todas as organizações ocultistas de que se tem notícia. Todas elas se reúnem em uma organização (fictícia) por eles inventada chamada Tres (Templi Resurgentes Equites Synarchici, título em latim para os Cavaleiros de Sinarquia do Renascimento Templário). Essa é a organização que, teoricamente, deveria governar o mundo após a concretização do plano.
O Pêndulo de Foucault é, claramente, uma sátira às sociedades secretas, suas doutrinas e crenças. O autor não é contra a disseminação dessa cultura. O problema, segundo ele vê, é o fato de muitas pessoas de autoridade e poder acreditarem nela e com base nisso tomarem decisões que envolvem a vida das pessoas.
Ignorar a sua existência e a sua influência sobre o espírito humano leva ao obscurantismo. Por outro lado, acreditar demais em coisas que não tem fundamento provável, ou lógico, leva à superstição. Nesse sentido, a sua frase a respeito do assunto é reveladora: "Quando os homens não acreditam mais em Deus,” diz ele, “ isso não se deve ao fato de eles não acreditarem em mais nada, e sim ao fato de eles acreditarem em tudo".
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 20/10/2010
Alterado em 20/10/2010