CONTEMPLAÇÃO DO OUTONO
"A time to be reaping,
A time to be sowing,
The green lives of summer
Are calling me home."
O vento do outono sopra no meu rosto os restos dos meus desejos de verão. Vejo nas cumeeiras das casas as andorinhas arrumando suas penas de viajem. Não as verei por um longo tempo e já sinto saudades dos ruidos dos seus amores de primavera. As árvores deitam fora suas roupagens de clorofila. Estranho costume esse que as árvores tem. Despem-se no outono, passam nuas o inverno, enquanto eu, no meu quarto calafetado, sinto frio até na alma.
Estamos no outono das nossas vidas. Um princípio de melancolia estremece meu coração convulso ao pensar que amanhã não te verei aqui ao acordar. Então penso em galhos ressequidos, árvores descarnadas, folhas sopradas por um vento indiferente ao que acontece em meu coração. Sei que haverá agora um tempo de silêncio e meditação. Esses serão os nossos dias de outono.
Enquanto espero a volta das andorinhas e das árvores com seus casacos de clorofila, te criarei de novo a partir de estrelas gastas e estrelas exauridas, como frutos engendrados dessas folhas que cairam.Farei dormir aos pés do fogo estas sementes que não quero expor ao sono do outono.
Sim. Eu temo o outono porque sei que o inverno lhe vem nas pegadas.O silêncio melancólico das alamedas cobertas de folhas mortas é o tapete desenrolado para o frio. (....)
O outono chegou. Agora é tempo de esperar. Enquanto espero praticarei a lição da natureza. Prepararei, no silêncio da minha incerteza flores e frutos próprios destes momentos. Alguns deles talvez carregem a acidez de uma imprópria maturação. É que foram temperados com melancolia. Afinal, em minha alma, outono é pura melancolia.
Chegará o tempo de arar e plantar, quando as folhas verdes do verão te chamarem de volta para casa....
XLV
" AS VEZES UM OUTONO DE CISMAS VEM NERVOSO
E EU JÁ SINTO O BAFO GÉLIDO DE UM INVERNO
ANUNCIANDO A VINDA DE UM TEMPO RANCOROSO
QUE CHEGARÁ COMO UM PRENÚNCIO DO INFERNO.
E O OUTONO QUE POR SINAL JÁ VEM NA FRENTE
É UM SOLDADO QUE SEM PIEDADE E NEM MESURAS
VAI PODANDO AS DERRADEIRAS FOLHAS RENITENTES
COM SEU TESOURÃO DE IMPACIÊNCIA E AMARGURA.
NESSES DIAS, EM QUE É INUTIL A RESISTÊNCIA
EU APRENDO COM AS FORMIGAS INTELIGENTES
QUE SÓ É PRECISO ENCELEIRAR E TER PACIÊNCIA.
POR ISSO, NESTE MEU OUTONO DE SAUDADE
VOU INCUBAR NO CORAÇÃO MINHAS SEMENTES
E NO VERÃO PLANTAR PARA NÓS A FELICIDADE.
introdução ao outono: nosso livro "Centúrias", um romance sonetado. Publicado pela Ed. Murk- Mogi das Cruzes, 1995
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/11/2010
Alterado em 12/11/2010