O ALQUIMISTA
AUTOR; PAULO COELHO
EDITORA; ROCCO, RIO DE JANEIRO, 1990
O Alquimista é o livro de maior sucesso do escritor Paulo Coelho, o autor brasileiro mais lido no mundo inteiro. Paulo Coelho é um escritor de temas espiritualistas que escreve histórias e relata as experiências pessoais que ele teve na procura pela espiritualidade. O Alquimista foi publicado na maioria das línguas faladas no mundo e tornou-se um grande best-seller internacional. A razão desse sucesso é simples: trata-e de um livro fácil de ler, e mexe com uma das mais profundas esperanças do homem: os seus sonhos, as suas quimeras, as suas fantasias. E tudo isso é tratado através de uma boa estória de aventura onde a lenda e o sonho se misturam de uma tal forma que é difícil distinguir o que é o que.
O sonho do pastor Santiago é um sonho comum a todos. Quem nunca sonhou com um tesouro a conquistar, quem nunca pensou em sair pelo mundo à caça de um tesouro. Quem nunca imaginou a sua vida como uma grande aventura em busca da sua própria lenda pessoal?
Santiago é o pastor espanhol que sonha todos os dias o mesmo sonho: em algum lugar, com determinadas características, que aparecem muito visivelmente no sonho, existe um fabuloso tesouro enterrado. A ocorrência do sonho é tão frequente que um dia o jovem larga a sua prosaica vida de pastor e sai pelo mundo atrás do objeto dos seus sonhos. Nessa busca ele vive diversas aventuras no deserto, no mar, em países estranhos e exóticos, se relacionando com diversos personagens,(inclusive o alquimista do título, que se torna seu mentor), cada um com um pedaço do quebra-cabeças espiritual, que na verdade, é a busca na qual ele se empenha. Depois de muitos anos, muitas aventuras, muitas descobertas, o pastor Santiago descobre, finalmente, que aquilo que ele procurou desesperadamente pelo mundo todo, por tanto tempo, sempre esteve muito próximo dele: ou seja, dentro dele mesmo.
Paulo Coelho é um místico que sempre esteve em busca de revelações íntimas. Dai as suas aventuras pelo mundo, em busca de experiências para viver e histórias para contar. De sua parceria com o cantor Raul Seixas ficaram diversas canções que já revelam a intensidade dessa busca. Canções como Guita( Baghavath Guita), Há Dez Mil Anos Atrás, Metamorfose Ambulante e outras, são exemplos dessa inquietude espiritual do autor. O Alquimista é, certamente, uma inspiração que ele teve ter tido em suas aventuras pelo Caminho de Santiago, aventuras essas que lhe rendeu um outro famoso livro, O Caminho do Mago.
O Pastor Santiago tem toda a feição de ser um dos personagens que ele deve ter encontrado nessa jornada espiritual a qual todos os espíritos místicos gostariam de fazer.
O Alquimista é um belo conto que revela várias influências. Uma delas é a famosa coletânea dos Contos das Mil e Uma Noites, seleção de contos fantásticos compilados pelos cronistas da corte do famoso califa de Bagdá, Harum-Al-Rachid, que governou um grande império muçulmano no século IX. O sonho do pastor Santiago foi um sonho sonhado por um pastor árabe daqueles tempos. Paulo Coelho aproveitou o tema.
Mas o Alquimista também tem muito de alquimia, propriamente dito. A alquimia é uma prática operativa de laboratório, cujo objetivo era descobrir como a natureza trabalhava para fabricar os metais. Em outras palavras, procurava-se, com operações de laboratório, sintetizar a fabricação de ouro. Mas não só de ambições materialistas vivia a alquimia. Ela encerrava também uma busca espiritual. Afinal, a maior parte dos alquimistas eram monges, filósofos da Igreja, que viam no processo de transmutação dos metais uma formula aplicável á própria transmutação do espírito. Se o metal podia ser expurgado de suas impurezas através de operações químicas, porque o espírito humano não podia ser também purificado por essa maneira. Então a alquimia tornou-se uma prática mística, ascética, que mais se assemelhava á uma religião do que à uma atividade operativa.
A curioso e interessante magistério que o alquimista exerce com o pastor Santiago é uma verdadeira aula de como a alquimia opera com os seus praticantes: serviço de mulher e brinquedo de criança, eis como os alquimistas definem a alquimia. Quer dizer: serviço de mulher ao gerar um filho; brinquedo de criança, porque nessa prática tudo é simplicidade, ingenuidade, fascinação e pureza de coração.
E foi exatamente esse espírito que Paulo Coelho conseguiu transmitir ao seu conto: simplicidade, ingenuidade, espirito fascinado por todas as coisas da natureza e pelos acontecimentos da vida, mas sempre disposto a vivê-los com total intensidade. Enfim, um espirito disposto viver, aconteça o que acontecer, a sua lenda pessoal. Mesmo que no fim descubra que, ás vezes, não é preciso ir muito longe para encontrar o tesouro. Ele sempre esteve no lugar onde nós estamos.
Os velhos e sempre atuais irmãos Marx é que nos dão um bom exemplo disso. Num diálogo de um de seus filmes encontramos esta preciosidade filosófica: “ Olhe”, diz Grouxo Marx para seu irmão Harpo: “ Há um tesouro em baixo daquela casa”. Mas ali não há casa nenhuma”, responde Harpo. “Então construiremos uma”, responde Grouxo.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 13/11/2010
Alterado em 13/11/2010