João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


ENSINAMENTOS DO ALQUIMISTA

Sobre o Desapego

                                              I

Os fardos mais pesados que carregamos são aos nossas lembranças do dia anterior. Por isso precisamos cultivar o desapego. O apego aos bens, às lembranças, às coisas que pensamos possuir, nos prejudica quando queremos ir atrás dos nossos sonhos. Queremos avançar, queremos viajar, ir em busca do futuro mas não queremos deixar para trás os troféus das nossas vitórias do passado.
Mas às vezes a vida parece nos oferecer somente duas alternativas: ficar ou seguir adiante. Se escolhermos ir adiante, queremos levar nossas conquistas passadas na mudança; e o fardo fica muito pesado. Se escolhermos ficar, não mudamos absolutamente nada em nossas vidas. Se está tudo bem, ótimo, mas se não está, o sofrimento é muito grande.
No entanto, se olharmos bem, não existe somente essas duas alternativas. Se optarmos por ficar também podemos mudar aquilo que não está bom. É só fazermos as mesmas coisas de todos os dias, porém variando as alternativas. Há várias formas de dormirmos na mesma cama todos os dias. De amarmos a mesma pessoa durante anos; de morarmos na mesma casa por muito tempo, e sentir que cada dia estamos fazendo tudo isso de uma forma diferente. Isso também é viajar. Isso também é procurar o tesouro dos nossos sonhos. Ele pode estar enterrado no lugar onde estamos e nós não precisamos realmente sair pelo mundo afora atrás dele. 
Agora, se a opção for realmente ir embora, então é melhor cultivar o desapego. Deixar a maior parte das nossas conquistas passadas para trás, pois elas constituem um pesado fardo. E não há nada pior do ser prisioneiro das coisas que amamos. Certa vez perguntaram ao filósofo Sócrates porque o Aristides(um rico e importante cidadão de Atenas) só espalhava tristeza e pessimismo por todos os lugares onde ia. Sócrates respondeu: “O problema do Aristides é que onde quer que ele vá ele leva consigo o Aristides”. Então, se você quer mudar, porque onde você está não está bom, mude. Mas não leve o todo o seu passado junto com você.

                              II

Quando você se identifica com as coisas que pensa ter, você se torna essa coisa. Isso acontece quando começamos a conjugar o verbo ter e usar com ênfase o pronome meu e suas flexões. Meu carro, minha casa, minha mulher, meu marido, meu filho, minha terra etc. De repente, não mais que repente, nós nos transformamos nas coisas que conquistamos e nos tornamos prisioneiro delas. Passamos a ser guardiões do passado e não mais vivemos nem tentamos novas empreitadas por medo de perder o que já pensamos ter conquistado. Dai, cada passo em direção ao futuro parece ser tão pesado que mal as pernas conseguem suportá-lo. 

                             III

Buda (Sidarta Gautama, o sábio fundador do Budismo) ensinou a doutrina do desapego como fórmula fundamental para que nossas mentes(no cristianismo espíritos) aprendessem a libertar-se da escravidão da matéria e alcançar a iluminação. A mente sem nenhum apego às coisas materiais (bens, sentimentos, desejos), é como um pássaro, ou uma pena, que são leves e livres para alçar-se ao céu sem nenhum peso a atrai-los para a terra. Para o espírito assim leve e solto não existe a lei da gravidade. Jesus também ensinou algo parecido. “Porque vos preocupais com comida, bebida e roupas?” disse ele.” As aves do céu e as flores do campo não fiam nem tecem, nem guardam em celeiros. Porém o Pai do Céu as veste e as alimenta.” De um momento para o outro impérios desmoronam. Tudo que se junta durante a vida inteira é varrido pelo sopro do destino num único dia. Imaginem o que devem ter sentido as pessoas que tinham lojas e escritórios nas Torres Gêmeas de Nova Iorque. Quando tudo aquilo ruiu em 11 de setembro de 2001, o que sobrou para elas? Isso pode acontecer a qualquer um de nós. A doutrina do desapego não desaconselha a conquista, a posse, a aquisição das coisas úteis e belas que tornam a nossa vida agradável. Ela nos aconselha a evitar confundir a nossa própria personalidade com elas.

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Inspirado no livro O Alquimista de Paulo Coelho, 15ª edição, Ed. Sextante, Rio de Janeiro, 1998.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 09/12/2010
Alterado em 09/12/2010


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