João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


O universo em uma casca de noz.
Autor; Stephen Hawking – Professor doutor em física-astronômica da Universidade de Cambridge-Inglaterra
Ed. ARX- São Paulo, 2002


A Estática e a Dinâmica

Stephen Hawking nos mostra, em seu extraordinário livro “O Universo em Uma Casca de Noz”, que cada pessoa tem seu tempo pessoal embora o relógio marque o mesmo tempo para todos. Assim, se passássemos a vida dentro de um trem em movimento envelheceríamos menos do que as pessoas que estivessem fora dele nos observando. Essa constatação já sido feita por Einsten quando deduziu a sua famosa teoria da Relatividade.
Então a questão está no movimento. A estática envelhece, a dinâmica retarda o envelhecimento. Mas na vida esse princípio acaba sendo paradoxal. Parece que quando mais rápido andamos, mais depressa o tempo passa. Na ociosidade ele flui mais devagar. Um cara com mil lugares para ir e outras tantas coisas para fazer tem a impressão de que o dia dele tem apenas a metade das horas que teria para um individuo que ficasse na cama o dia inteiro.
O certo , porém é que o tempo flui mais devagar para os corpos que não ficam parados. É o que Hawking nos diz com o paradoxo dos gêmeos. Se um indivíduo que tem um irmão gêmeo for colocado numa espaçonave que viaje pelo universo numa velocidade próxima á da luz, ele envelhecerá menos que o seu gêmeo que ficou na terra. No filme de Steven Spielberg “ Contatos Imediatos de Terceiro Grau” esse paradoxo foi mostrado de uma forma impressionante: seres humanos que haviam sido abduzidos há várias décadas antes voltavam à terra com a mesma cara com que foram capturados.

A Relatividade e a Verdade

Hawking nos mostra o quanto o universo pode ser estranho e maravilhoso. E o quanto podemos nos enganar em consequência da relatividade que nele existe. É que a teoria da relatividade tem implicações filosóficas e morais. A implicação moral é a de que não existe nada absoluto, porque tudo é relativo. Nesse sentido desaparece a noção de bem e mal, de exato e falso, de fora e dentro e outras formulações dialéticas na composição da verdade. Disso resulta que as bases sobre as quais nossos valores são fundados podem ser tão movediças quanto as areias do deserto. Com isso toda filosofia acaba sendo aquilo que os gregos sempre diziam que era: a procura por uma verdade que nunca se coloca num ponto fixo.

O tempo e a vida

Outro paradoxo: Este universo que parece não ter limites, um dia já foi tão pequeno quanto uma noz. Isso ocorreu há cerca de quinze bilhões de anos. Mas tudo que já existiu nele, tudo que hoje existe e existirá no futuro já estava presente naquele momento em que ele não era maior que do que um ovo de passarinho. Isso traz outros questionamentos: Se o universo teve um começo, isso implica que um dia ele terá um fim? O começo do universo foi o começo de tudo ou apenas o início do tempo? Se foi Deus quem fez tudo isso, o que ele fazia antes de criar o universo? Deus existia antes de criar o universo? Se Ele existia, ou existe independentemente do universo, Ele não pode ter criado outros universos além deste? (antes, durante ou depois deste?).
No tempo de vida do universo o surgimento de uma  estrela é como a explosão de fogos de artifícios. Brilha por instante e depois ela se apaga. Pode-se pensar no espaço cósmico como se nele existisse um eterno réveillon. As estrelas nascem e morrem. Quando são muitos grandes e morrem se tornam buracos negros, que são regiões dentro do espaço-tempo onde a gravidade é tão forte que nem a luz  consegue escapar delas. E a gravidade dentro dele é tão forte que ele chupa tudo que é matéria em volta dele.
Será que também não somos como estrelas? Nascemos, brilhamos por um determinado tempo e depois apagamos. As estrelas morrem quando o combustível do seu núcleo se esgota. Nós também. É como se tivéssemos combustível para um determinado tempo e espaço. E será que alguns de nós, em razão da grandeza pessoal, quando morre também não se torna um “buraco negro”? Não se diz que certos mortos vivem sempre nos influenciando? Os espíritas não acreditam que os mortos podem influenciar na vida dos vivos?

Ciência e Religião

Há quem diga que as teorias científicas a respeito do nascimento e do desenvolvimento do universo são heréticas. Que elas contradizem e destroem as verdades da religião. Que torna o homem ateu. Eu acho isso uma bobagem sem tamanho. Quem assim pensa só consegue ver o universo a partir do próprio umbigo. É, na verdade um tremendo egoísta que só consegue enxergar as coisas a partir da sua própria perspectiva. É natural que não acredite na relatividade, porque acreditar nela implicaria em ter que admitir que a sua verdade não é a única possível em um plano espacial que admite uma multiplicidade de imagens alternativas e possíveis. E todas verdadeiras. Essa é a posição do religioso dogmático e impassível a tudo que não esteja de acordo com os livros da sua religião.
Por outro lado, também não nada de errado com a religião. Os nossos livros sagrados não estão errados e as visões que serviram de base para as verdades religiosas não são meras alucinações sofridas por indivíduos em estados alterados de consciência, como parecem acreditar os racionalistas.
Quem sabe a ciência e a religião não estejam dizendo a mesma coisa, mas apenas usando linguagens diferentes? Será que os livros sagrados, ao falarem de anjos, demônios, milagres, não estão falando de energias e leis que regem e produzem os acontecimentos universais? E se os Fótons, Táquions, Férmions, Bósons, P-Branas,Hadrions, Léptons, Quarqs, Elétrons, etc. (nomes que os cientistas dão as forças e aos componentes da matéria universal) , fossem chamados de  Querubins, Eloins, Aufanins, Serafins, Malaquins, Aralins, Chasmalins, etc, como faz a Cabala, que diferença faria?  Mudariam de identidade? Deixariam de ser energias em movimento só por causa do nome que nós lhe damos?
Aliás, que diferença há entre uma visão que vê o universo saindo de dentro de um átomo carregado de energia positiva e negativa, e outra que vê o mundo como luz saindo das trevas?
Dessa forma, ler a Bíblia, as escrituras sagradas dos hindus, ou outro livro sagrado qualquer que se aventure a criar uma cosmogonia, para quem se coloca em posição de acompanhar a relatividade do universo, é um exercício semelhante ao de ler Stephen Hawking ou outro autor do gênero que consiga falar de um assunto tão complexo numa linguagem tão acessivel.  E dessa forma ,se consegue perceber que as visões da religião e as pressuposições da moderna ciência física e astrológica podem, muito bem, se encaixar umas nas outras.
Nesse sentido, O Universo numa Casca de Noz  acaba se tornando uma viagem fantástica por um universo não menos maravilhoso. Se quisermos ver nele a mão de Deus basta olhar da maneira certa. Deus está dentro dele e fora dele. Até onde podemos vê-lo, são os olhos da ciência e da razão que falam. Para além de tudo isso é que começa a verdadeira fé.



 
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 15/12/2010
Alterado em 30/04/2014


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