Este texto foi inspirado no livro " Uma breve história do tempo" de Stephen Hawking.
UNIVERSOS PARALELOS
“Na escala do cósmico (toda a física moderna no-lo ensina) só o fantástico tem probabi-lidade de ser verdadeiro.”
Teilhard de Chardin
A BBC, em interessante documentário nos mostra a descoberta mais interessante da fí-sica moderna. A prova científica da existência real de universos paralelos. Quem se interessar pelo tema poderá vê-lo no Youtube. Legendado em português, é um filme que merece ser assistido, pois trata-se de um assunto que tem seríssimas implicações, não só em termos de filosofia, como também em nossas próprias convicções acerca da estrutura do universo.
Ele nos mostra que a realidade, no espaço cósmico, é muito mais estranha do que a nossa mente poderia supor. Oh, a velha frase de Shakespeare: há muito mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia!
Desde a época de Einsten a possibilidade de existência de universos paralelos já era discutida. Mas não havia prova científica a respeito. Tudo ainda estava no terreno das conjecturas e só os místicos e os filósofos ousavam escrever e falar sobre o assunto.
Agora já não se trata mais de meras intuições: passou a ser objeto de estudo de cientistas e preocupação dos estudiosos da física subatômica. A descoberta foi feita quando os pesquisadores observavam o comportamento de partículas subatômicas, como os elétrons, quarqs, fotóns etc. Descobriram que não havia modo de acompanhar a trajetória dessas partículas: elas simplesmente “desapareciam” durante certo tempo para reaparecer novamente em outro ponto do espaço. Mas enquanto elas desapareciam, suas presenças ainda podiam ser “sentidas” pelos aparelhos de observação, pelas influências que elas projetavam neles. Quer dizer: elas estavam ali e não estavam ao mesmo tempo.
Aonde elas vão, quando não estão visíveis? Esse "sumiço" das partículas da dimensão observável confirmou que havia "outras dimensões" para onde elas iam, ao mesmo tempo que suas presenças no espaço observável ainda era detectada. A velha lei física segundo a qual um objeto não pode estar em dois lugares ao mesmo tempo já não era verdadeira. Era possível, sim, a ubiquidade no universo das realidades cotidianas.
Isso confirma a possibilidade da existência de universos paralelos, que são locais, no espaço cósmico, onde a realidade que estamos vivendo pode estar acontecendo de modo diferente. Assim, pode ser que estejamos vivendo num mundo ilusório, como dizem os budistas, onde a nossa consciência é apenas um reflexo da verdadeira realidade, que na verdade, ocorre em outra dimensão. Num mundo assim, a morte seria apenas um interruptor de luz.
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Quando eu era criança adorava ler contos de fadas. Ainda gosto e talvez por isso me sin-ta uma criança frente às descobertas da ciência e as intuições da filosofia.
Certa vez li um conto em que um monge chamado Anselmo, um fradinho ingênuo e so-nhador, que gostava de ficar imaginando coisas. Um dia, passeando no jardim do convento, encontrou um pássaro de cores deslumbrantes e canto tão maravilhoso que ele ficou tão fascinado pelo bichinho que passou a segui-lo pelo jardim todo.
Mas o danadinho era muito arisco e vivia pulando de árvore em árvore. E o Padre An-selmo, fascinado pelo canto mavioso do pássaro começou a segui-lo para onde quer que ele fosse.
Seguiu-o por todo o jardim do convento e depois pela floresta que o circundava. E nessa caçada frenética, ele passou a manhã inteira e parte da tarde tentando acompanhar o pássaro. Por fim, cansado, ele resolveu voltar ao convento, onde chegou já no fim da tarde.
Mas ao entrar no convento ficou espantado. Tudo ali parecia mudado. Pensou ter se en-ganado de convento, então perguntou a um velho frade que encontrou na porta da capela se aquele era o Convento dos Franciscanos. Sim, aquele era o convento de onde ele saíra pela manhã atrás do estranho pássaro, confirmou o velho frade. Mas, que estranho, ele não conhecia ninguém ali. E percebeu que ninguém o conhecia também. Começou a indagar sobre o que havia acontecido. Perguntou a todos os habitantes do convento se alguém conhecia um frade chamado Anselmo. Todas as respostas foram negativas e ele estava começando a entrar em parafuso quando encontrou um monge já quase centenário que disse se lembrar vagamente de uma história que os antigos monges costumavam contar sobre um fradinho chamado Anselmo que se encantou com um passarinho e saiu atrás dele pela floresta. Acabou se perdendo e nunca mais voltou. Mas isso tinha ocorrido há mais de dois séculos.
Contos de fadas, estórias extraordinárias, fantasias alquímicas. Tudo são bobagens para as pessoas que se consideram sérias. Só que agora nos vem os cientistas falar que existem no espaço cósmico uns “buracos de minhoca”, que são semelhantes a túneis, pelos quais um viajante poderia visitar outras dimensões de tempo e espaço, onde a história pode estar se desenrolando de forma diferente.
Buracos de verme podem ser atalhos que conectam um local em um universo a outro lo-cal (no presente, no passado ou no futuro). Através deles se poderia viajar de um ponto a outro do espaço ─ tempo numa velocidade mais rápida do que a da luz. Seria como abrir uma porta numa dimensão do espaço―tempo, digamos presente, e entrar no espa-ço―tempo futuro ou passado, como se se estivéssemos passando de um cômodo para outro dentro de uma casa.
Isso não é fantasia não, nem pode mais ser considerado apenas como ficção científica. É provável matematicamente e existe uma lógica que justifica essa possibilidade. Einsten já havia dito que viagens no tempo eram possíveis, mas o veículo teria que ser mais rápido do que a luz, o que, no atual estágio de conhecimento é impossível de fabricar. Talvez seja mais fácil comprimir o espaço―tempo de uma forma tal que as tais dimensões se aproximem tanto umas das outras que seja possível passar de uma para a outra com simples salto.
Hawking nos mostra que passado, presente e futuro são estruturas de tempo. São como universos que convivem paralelamente. O passado não morreu. Ele continua a existir em algum lugar dessa estrutura. O veículo em que nós estamos, o planeta terra, é que passou por ele e o deixou para trás. Da mesma forma o futuro já existe. É como uma viagem de trem. As estações pelas quais passamos não desaparecem somente por que nós as ultrapassamos. As estações pelas quais passaremos também já existem. Pode ser que cheguemos até elas ou não. Nós é que ainda não chegamos lá.
É difícil entender isso porque a nossa consciência só consegue perceber três dimensões no universo. Altura, profundidade e largura. Mas o espaço―tempo é muito mais que isso. Ele é como um quarto onde só conseguimos enxergar o que está na frente, atrás, acima, abaixo e nos lados. Mas além dessas direções, o que mais não haverá?
Os cientistas dizem que há muitos universos dentro dessa estrutura. Uns sobrepostos aos outros como folhas de um livro. Se fizermos um buraco nesse livro e jogarmos uma bola de bilhar dentro dele ela passará por todas as folhas ao mesmo tempo. Essa é a melhor metáfora de um buraco de minhoca.
Se existem tais buracos de verme no espaço pode-se imaginar a possibilidade de uma conexão entre um universo e outro. Assim seria possível viajar no tempo sem a necessidade de espaçonaves que se desloquem na velocidade da luz. Isso é melhor do que a melhor das ficções científicas. E pode-se também admitir que esses universos paralelos, as vezes, se resvalem, e a gente, sem querer acabe entrando neles.
Depois de me informar sobre os tais buracos de minhoca voltei à minha infância e recu-perei a estória do frade Anselmo. Será que ele não se embrenhou numa dessas passagens abertas no espaço―tempo ao se perder na floresta atrás do pássaro maravilhoso?
Aliás, quantas vezes isso não acontece conosco em nossas vidas? Quantas vezes não corremos atrás de um sonho que parece durar apenas alguns minutos, para depois verificarmos que na verdade, passamos anos nessa labuta?
A estória do frade Anselmo é, na verdade, uma metáfora alquímica. A caçada que ele empreende ao pássaro de maravilhosas cores e mavioso canto significa a luta do adepto alquimista para conseguir fixar no metal comum o mercúrio volátil (que é um gás), o qual dará a esse metal as condições para que ele se transmute em metal precioso.
É um jogo de palavras que retrata uma experiência química, mas na vida espiritual essa metáfora também é aplicável. Ela retrata a tentativa do místico para capturar a ‘qualidade” que dará ao seu espírito a verdadeira iluminação. Esse é o sonho de todo “iniciado” no verdadeiro misticismo. E na sua procura ele se perde no tempo para descobrir no fim, que viveu muitos anos por conta de um único instante.
Não tem nada de ficção nisso.
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Eu sempre me perguntei. O cosmo e o universo são a mesma coisa? O universo é infinito ou é apenas imensamente grande? Ele é eterno ou apenas tem uma longa duração? Essas são perguntas que faço quando olho para o espaço pontilhado de estrelas e não vejo, nem tenho sequer a intuição de seus limites ou de sua estrutura.
Hawking diz que o universo tem várias histórias prováveis. Isso implica dizer que a di-mensão na qual nós estamos construindo a nossa é apenas uma das prováveis realidades existentes nessa formidável obra que Deus pensa e seus arquitetos e pedreiros ― que segundo a tradição cabalística encampada pela Maçonaria, são os anjos e os homens ― constroem.
Um universo de muitas histórias implica na existência de mundos paralelos ao nosso. Filosoficamente, o que significa isso? Simplesmente que não existe uma única verdade, uma única realidade, na qual a mente possa se fixar para afirmar, como dogma, um único pressuposto. Tudo é igualmente possível e nada é absolutamente fundamental.
O universo é feito de pequenas quantidades de energia chamadas quanta. Elas se apre-sentam em formas de partículas ou de ondas que se deslocam na velocidade da luz. Os quantas são constituídas de prótons e nêutrons, que por sua vez são feitos de quarqs e antiquarqs. Eles se chocam, se anulam, se destroem e formam, a partir de si mesmos e de suas mortes, os átomos e os elétrons de que a matéria universal é feita. Porque seríamos diferentes? Já não se disse que nós somos poeira de estrelas? Que somos feito de pó?
Se há interações entre as partículas energéticas que formatam o universo, e se essas interações resultam em vários universos paralelos, isso significa que nós estamos em interação com todos eles. Só os nossos sentidos é que ainda não estão suficientemente desenvolvidos para captar essa realidade.
Mas às vezes isso acontece. O antropólogo americano Loren Eiseley (citado por Pawels e Bergier em ‘O Despertar dos Mágicos’), conta uma interessante história a respeito desse assunto. “ Descobrir outro mundo não é um fato imaginário como muita gente pode pensar" escrevem aqueles autores. "Pode acontecer aos homens. Aos animais também. Por vezes, as fronteiras resvalam ou interpenetram-se; basta estar presente nesse momento. Vi esse fato acontecer com um corvo. Esse corvo é meu vizinho: nunca lhe fiz mal algum, mas ele sempre teve o cuidado de se conservar em cima das árvores, de voar alto e evitar o contato com os humanos. O mundo dele principia onde a minha vista acaba. Uma manhã, os nossos campos estavam mergulhados num nevoeiro impenetrável, e eu apalpava meu caminho em direção à estação ferroviária. De repente, em frente aos meus olhos, eis que surgem duas asas negras, imensas, com um bico gigantesco; e tudo isso passou como um raio, soltando um grito de terror tal que eu faço votos para que nunca mais escute coisa semelhante. Esse grito me perseguiu durante o dia inteiro. Cheguei a olhar-me no espelho para ver o que teria de tão repugnante.”
“Por fim acabei entendendo. A fronteira entre os nossos mundos resvalara, devido ao nevoeiro. Aquele corvo, que supunha estar voando nos limites do seu território, deparara, de súbito, com um espetáculo espantoso, contrário, para ele, às leis da natureza. Vira um homem caminhando no espaço, bem no meio do mundo dos corvos. Deparara com a maior estranheza que um corvo pode conceber: um homem voador!”
“Agora, quando me vê, lá do alto, solta pequenos gritos, e eu reconheço nesses gritos a incerteza de um espírito cujo universo foi irremediavelmente abalado. Já não é, nem nunca será, como os outros corvos.”
O que isso prova? Simplesmente que cada cérebro vive em universos paralelos que se interpenetram mais ou menos, conforme o caso. Animais se movem em seus universos próprios, que são as circunvoluções de seus cérebros e seus códigos de vida. Acidental e incidentalmente seus mundos se cruzam com os nossos. É a constância e a qualidade desses cruzamentos que nos fazem mais amigos ou menos amigos.
Cada pessoa também vive nos seus universos particulares e um pouco mais um pouco menos esses universos também se cruzam com os das demais pessoas. A quantidade e a qua-lidade desses cruzamentos faz a excelência dos nossos relacionamentos. O segredo da saúde mental, num mundo tão cheio de paralelismos, é não se espantar com nada. Cada pessoa tem as suas excentricidades e as suas diferenças. Algumas são tão fantásticas que muitas vezes nós nos recusamos a pensar que estamos frente a um ser humano. São cérebros que parecem estar vivendo em outro mundo. E no nevoeiro permanente que este mundo provoca aos nossos olhos, todos os dias estamos cruzando com esses fenômenos.
Jesus tinha razão. Talvez precisemos olhar o mundo com olhos de criança. Maravilhados, espantados, fascinados com o fenômeno, mas de nenhum modo assustados com ele. Assim, a nossa razão não claudicará quando resvalarmos com os universos paralelos, que são as outras pessoas. Afinal, todos os dias coisas como essa acontecem.
Destarte, talvez seja isso também que ocorre conosco quando a nossa mente se apaga nesta dimensão do universo. Talvez ela se apague nesta e se acenda em outra. Só pela oportunidade de descobrir se isso é assim mesmo ou não já vale a pena ter vivido. E morrido.
Se Deus fez as coisas assim é por que assim é que está certo. Nós é que precisamos aprender a conviver com fenômenos que ainda não conseguimos explicar.
E com essa última reflexão, volto à dimensão onde a massa crítica que sou eu retoma contato comigo mesmo. Como disse o Álvaro de Campos (universo paralelo do Fernando Pessoa): “ Todos os mortos podem ser que sejam vivos noutra parte”; Todos os meus próprios momentos passados podem ser que existam algur”; “Na ilusão do espaço e do tempo”; “Na falsidade do decorrer.”