João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos



Um dos presentes que ganhei neste natal foi o livro de James C...Hunter, O Monge e o Executivo. Livros são o que de melhor se pode ganhar de presente, pelo menos para mim, que sou viciado em leitura desde que aprendi a ler.
Bom, eu já tinha ouvido falar desse livro e até já conhecia um resumo dele. Por força da minha profissão de palestrante e praticante de PNL eu me obrigo a ficar a par de tudo que se faz no gênero. E este livro é uma boa metáfora de PNL, construída em cima de uma estória que bem poderia ser a de qualquer um de nós.
John Daily, o narrador da estória do livro é um profissional bem sucedido na sua profissão como executivo numa fábrica de vidros; na vida social ele é técnico voluntário de um time de beisebol, está casado com Rachel, uma conhecida psicóloga, e o casal tem dois filhos. Tudo vai bem na vida de John. Vida financeira estabilizada, bonita família, situação profissional estável. Até que um dia ele começa a sentir que as coisas começavam a sair do seu controle.
Tudo começou com um movimento sindical na empresa em que ele trabalhava. Nada saiu como ele queria. Percebeu que a sua forma de liderar pessoas e conduzir negociações não era tão infalível como ele pensava que fosse. Esse mau resultado foi o start para ele começar a notar que várias outras coisas, tanto no trabalho quanto na vida familiar e social, não estavam indo tão como ele sempre pensou que estava. Ele então percebeu que sua esposa reclamava constantemente de alguns comportamentos dele, que seus filhos estavam muito rebeldes, que seus subordinados pareciam não muito satisfeitos com a sua forma de liderar.
Além desses questionamentos, ele tinha um sonho recorrente que constantemente lhe dizia: “Ache Simeão e ouça-o!” Todavia, ele não sabia quem era Simeão, nem se lembrava de ter conhecido em sua vida alguém com esse nome.
Após o fracasso nas negociações com o movimento sindical em sua fábrica, as constantes reclamações de sua esposa e a insubordinação de seus filhos, John começa a reconhecer que está precisando de ajuda. Então sua esposa o aconselha a falar com o pastor de sua igreja. Este sugere que ele participe de um seminário num pequeno mosteiro cristão chamado João da Cruz, bucólica localidade próxima ao lago Michigan.

Um tanto desconfiado e a contragosto John foi participar do seminário. Uma semana num retiro desconhecido, tendo aulas com monges! Que maçada, pensou John. Mas logo de início duas grandes surpresas lhe estavam sendo reservadas. A primeira: um dos instrutores do mosteiro era menos que o famoso Len Hoffman, um famoso executivo que abandonara os negócios para se se tornar monge. Esse sujeito era uma lenda entre os homens de negócios e John sempre quis saber o que tinha sido feito dele, depois que ele abandonara a sua bem sucedida carreira para ingressar em um mosteiro. A segunda surpresa: o nome de monge adotado pelo famoso executivo era “Simeão”, exatamente aquele que John sempre ouviu em seus sonhos.

A primeira coisa que John aprendeu foi a diferença entre poder e autoridade, e que saber distinguir entre um e outro conceito é essencial para o exercício de uma boa liderança. O poder é força coatora. Ele leva alguém a fazer alguma coisa em razão da posição de força do líder. Já a autoridade leva as pessoas a fazer alguma coisa em razão do respeito que elas têm pelo líder. Mais que isso, o poder vem uma posição que foi outorgada ou conquis-tada à força, enquanto que autoridade é uma conquista obtida em razão da habilidade do conquistador. O verdadeiro líder tem autoridade e o seu poder é baseada nela e não no título que ele representa.
John aprendeu também que os paradigmas são úteis, mas devem ser utilizados na hora certa, no lugar certo, com as pessoas certas e para a situação certa. Quando atravancam o caminho, quando prejudicam a solução de um problema, devem ser desafiados. Os grandes líderes são criadores de paradigmas, mas eles jamais se fixam nos modelos que criaram. São dinâmicos e flexíveis, sempre desafiando os paradigmas que criaram. Por isso, muitas vezes, parecem ser pessoas contraditórias.

Porém, a melhor sabedoria que John obteve nesse seminário foi que certos estados internos que nós experimentamos e que denominamos sentimentos, na verdade, não devem ser tratados como sentimentos, mas sim como comportamentos. E que a maior parte dos nossos erros de relacionamento humano provém desse engano que cometemos tratando como sentimentos experiências que devem ser tratadas como comportamentos. Exemplos desse engano ocorrem frequentemente com os estados que chamamos de bondade, amor, compreensão, tolerância, etc.
Bondade é definida como dar atenção, apreciar, incentivar. Quer dizer, ninguém sente “bondade”, porque bondade é ação, é agir de determinada forma e não se sentir de deter-minada forma.
A mesma coisa acontece com o amor. Amar é definido como dar atenção, carinho, respeito, apreciação. Quer dizer: amar é uma ação, não um sentimento. Ninguém “sente” verdadeiro amor se não é capaz de dar carinho, atenção, respeito, apreciação, pela pessoa a quem diz amar. De onde se conclui que o amor que sufoca, que exige dedicação exclusiva, que não respeita a individualidade do parceiro, que trata o parceiro como um bem do seu patrimônio pode ser muita coisa, menos amor de verdade.
Essencialmente, O Monge e o Executivo é um guia de liderança, que fala da influência que flui do verdadeiro líder, o Líder Servidor. Líder Servidor é aquele que serve a uma causa, que a abraça como uma missão, e não aquele que se serve da autoridade e do poder a ele conferido para alcançar as suas próprias metas e realizar as suas ambições pessoais.
Por isso é um livro que fala muito de amor. Mas o amor de que aqui se trata é o amor Ágape, o amor que compartilha, que tolera, que serve, ou seja, o amor que doa, não o amor que sente.
Dai o principal modelo dessa liderança servidora ser Jesus Cristo, cuja influência veio principalmente do seu comportamento. Jesus nunca falou de seus sentimentos por esta ou aquela pessoa, ou esta ou aquela coisa. Aliás, se pensarmos bem, Jesus parecia ser um homem sem “sentimentos”, ou pelo menos aquilo que nós temos entendido como sentimentos. Gandhi também. Por isso eles tudo suportaram em nome da sua missão. Era como se não sentissem dores físicas nem morais.
É que a noção de sentimento está estreitamente vinculada ao ego. O ego pode ser ferido, e quanto maior ele se torna, maior a dor da ferida.
O amor de Jesus era o amor Ágape. Aliás, a palavra Ágape, que hoje serve inclusive para designar o compartilhamento de refeições (como na Maçonaria, onde o tradicional banquete ritual é denominado Ágape), deriva justamente dessa antiga tradição praticada por Jesus Cristo de compartilhar com os irmãos as refeições e fazer delas um verdadeiro ritual. Daí a questão da liderança estar estreitamente vinculada à noção de compartilhamento, de missão e serviço.
De tudo isso a melhor lição que fica do Monge e o Executivo é que aprender a liderar é aprender a amar. Ou seja, não a “sentir” amor, mas a praticar amor. Daí para a frente tudo o mais fica fácil.


João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/01/2011
Alterado em 03/01/2011


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