O TEMPLO DO REI SALOMÃO
O rei Salomão
Com o tempo, a Irmandade dos Filhos de Israel, na forma como Moisés a organizara, foi perdendo a característica de Confraria e se tornou uma nação como as outras. Essa foi razão pela qual o Grande Arquiteto do Universo mandou que Salomão, filho de Davi, que o sucedera no trono, a reconstituísse com outro formato.
E a segunda Fraternidade dos Obreiros da Arte Real, da qual Salomão foi o Grão – Mestre teve inicio no ano de 1005 antes do Nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, tendo o Grande Templo de Jerusalém como Loja base.
Essa Loja, que agora congregava apenas uma parte escolhida dos Filhos de Israel, foi fundada nos canteiros de obras do Templo que Salomão construiu em Jerusalém para honrar o Grande Arquiteto do Universo.
Em outras cidades de Israel, como Gezer, Megiddo e Hazor, Salomão construiu outros Templos menores, para sediar as Lojas do Oriente de Israel, mas nenhum foi tão grande e majestoso quanto a o grande Templo de Jerusalém.
E desta segunda Fraternidade todos os Irmãos da Arte Real têm conhecimento, porquanto é dela que se originam a maioria das tradições que são cultivadas hoje na Maçonaria.
A sabedoria de Salomão
Assim que Salomão se firmou como rei de Israel ele orou ao Grande Arquiteto do Universo pedindo-lhe, que mais do que riquezas e poder, Ele lhe concedesse um coração justo e uma mente sábia para que ele pudesse reinar com sabedoria e julgar com Justiça.
O Grande Arquiteto do Universo atendeu ao seu pedido e ele foi o mais sábio e justo dos homens até então nascido sobre a terra.
Essa sabedoria ele mostrou julgando o difícil caso das duas mulheres que disputavam uma criança recém nascida. Porque ambas deram a luz às suas crianças, na mesma hora e local, e uma delas nasceu morta. A mãe que teve a criança morta quis disputar com a outra a criança que sobrevivera. E não se sabendo quem era a verdadeira mãe da criança que sobrevivera, Salomão mandou que se cortasse ao meio o recém nascido e se desse metade dele a cada uma das mães. A falsa mãe concordou com a sentença dizendo que se ela não podia ter a criança viva para ela, era melhor que esta morresse, mas a verdadeira mãe preferiu renunciar a ela a vê-la morta. E assim Salomão soube, pela demonstração do amor materno, quem era a verdadeira mãe. (1)
Essa foi uma demonstração da sua grande sabedoria, que depois foi comprovada pelos livros que ele escreveu.(2)
E ele a mostrou também na estrutura que deu ao reino de Israel, organizando-o em doze províncias, nas quais colocou doze governadores de sua confiança, que eram, respectivamente; Ben-Hur, Ben-Decar, Ben-Hesed, Benamidab-Bana, Ben-Gaber, Aminadab, Aquimaas, Baana, Josafat, Semei, Gaber, os quais ministravam o culto e forneciam ao rei e à sua corte todo o necessário para o seu sustento. E assim Israel foi reorganizado politicamente, mas, na verdade, funcionava como uma grande Fraternidade. (3)
A construção do Templo
Depois escreveu ele ao rei Hiram, da Fenícia, uma carta nestes termos: “Sabe Vossa Majestade que meu pai prometeu erigir um templo ao Grande Arquiteto do Universo. Mas as guerras em que ele se envolveu não o permitiram. Mas eu tive o privilégio de reinar em paz, e portanto tenho condições de cumprir essa tarefa que o Grande Arquiteto do Universo me confiou. Então eu solicito a Vossa Majestade que me envie trabalhadores ao Monte Líbano para cortar toda a madeira necessária para essa construção, pela qual pagarei o preço que for combinado.”
O rei da Fenícia respondeu a Salomão nestes termos:“ Graças ao Grande Arquiteto do Universo que o vosso pai tenha deixado o trono para Vossa Majestade, que é sábio e virtuoso. Eu estou à vossa disposição e o servirei em tudo que necessitais para essa tarefa. Eu vos mandarei toda a madeira de cedro e cipreste que me pedistes. Eu as mandarei de barco para o lugar que indicastes para que possais transportá-las para Jerusalém. Em troca delas mandai-nos grãos e azeite suficientes para alimentar meu povo, pois nossa terra é pobre nesse mister e a vossa extremamente rica.”(4)
E então Salomão convocou trinta mil trabalhadores para cortar e acarretar as madeiras desde o Monte Líbano até Jerusalém, fazendo-os trabalhar em grupos de dez mil, e depois de cortadas as madeiras ajuntou outros milhares de trabalhadores para aparelhar, transportar e dispô-las para a construção.
Depois mandou tirar pedras nas pedreiras, lavrando-as, desbastando-as e facejando-as, fazendo a umas pedras de alicerce, a outras pedras de canto e parede, a outras de acabamento, de sorte que todo material ficasse pronto para a grande obra do Templo.
Esses trabalhadores foram dispostos em três níveis porque eram ao todo cento e cinqüenta mil, sendo uns os cortadores de madeira, os cabouqueiros, os aguadeiros e os serventes de todos os tipos; outros os cortadores e aparelhadores que lavravam as pedras e as madeiras, sendo que muitos deles eram estrangeiros vindos da Fenícia e do país dos giblios, que eram famosos pelo trabalho na pedra, e outros, em número de três mil e trezentos, eram os que davam as ordens e supervisionavam os trabalhadores.(5)
E foi essa divisão do povo para construir o Templo de Salomão uma das inspirações para a que a Maçonaria adotasse a tradição de dividir a Loja Simbólica em Aprendizes, Companheiros e Mestres.(6)
Esse majestoso edifício foi construído no Monte Moriá, uma colina próxima ao Monte Sion, que o rei David comprara de Ornan, o jebuzeu, quatrocentos e oitenta anos depois da saída dos hebreus do Egito, isto é, no ano de 1012 antes do nascimento do Nosso Senhor Jesus Cristo, e sua construção durou sete anos, sendo consagrado no ano de 1005 dessa era.(7)
O Templo tinha sessenta côvados de comprido, vinte de largura, trinta de altura e era todo feito de pedras lavradas, perfeitas em todas as faces, para que fossem assentadas sem argamassa e não se ouvisse, no interior do Templo, o barulho de instrumentos de ferro. (8)
Finas madeiras de lei, trabalhadas pelos carpinteiros, e ouro puríssimo, trabalhados pelos ourives, também foram utilizados em profusão para compor cada detalhe do magnífico edifício, denotando o quanto os Filhos de Israel haviam evoluído na nobre Arte Real em sua forma operativa.
Mas a face especulativa da doutrina maçônica continuava a ser estudada e desenvolvida em paralelo, e ela estava toda representada nos detalhes que ornavam o Templo e nas fórmulas geométricas que transpareciam em toda a construção.
De Tiro veio um maçom arquiteto-fundidor de obras de bronze, muito famoso, chamado Hiram. Ele era israelita por parte de sua mãe, que pertencia à tribo de Naftali e seu pai, já falecido, vinha da tribo de Dã. Era muito hábil em arquitetura, mas sua principal habilidade era a metalurgia, pois ele sabia produzir com precisão as mais finas peças de bronze, prata e ouro.
Combinando essas duas ciências sagradas, Hiram produziu a mais perfeita obra de arquitetura que já havia sido feita na Terra, pois apesar dela ser inferior em proporções aos templos que os egípcios erguiam para os seus deuses, a perfeição estrutural, a beleza e a qualidade da obra, superava em muito as obras arquitetônicas produzidas pelo povo do Nilo e por outros povos da época.
A Maçonaria do Templo
Hiram fundiu duas colunas de dezoito côvados de altura, ornadas por belíssimos capitéis, entalhados no alto delas. E ornou essas colunas com medalhas, folhas de palma e remates de romãs (tudo feito em bronze). Essas duas colunas foram postas no pórtico do Templo. A primeira coluna chamou-a Jakin e a segunda Booz.
Jakin é o que estabelece. Booz, o que fortalece. Isso é, estabilidade e força, com isso querendo dizer que o Templo tinha estabilidade e era muito sólido. Significava também que a nação de Israel era forte e estável, bem como a monarquia de Salomão. Os maçons operativos da Idade Média fizeram dessas duas colunas o seu ícone. Todas as igrejas medievais eram ornamentadas com colunas semelhantes. (9)
E fez depois um grande mar de bronze, sustentado por doze bois, também de bronze, distribuídos geograficamente, olhando para os quatro cantos da terra. E nas bases que sustentavam esse mar de bronze entalhou figuras de anjos, leões, bois, querubins e palmas, (representando uma figura humana, pois era proibido pela lei a confecção de esculturas do corpo humano.
Fundiu também bacias de bronze, na quantidade de dez, que foram postas, cinco á direita, cinco à esquerda, e o mar de bronze, no lado, entre o oriente e o meio dia. Além disso, foram fundidos igualmente os diversos utensílios de ouro e latão, tais como vasos, bacias, caldeirões, candelabros, panelas, o altar, as lâmpadas as pias para a água da ablução e todas as demais obras necessárias para o serviço do Templo.(10)
Todas essas esculturas e trabalhos em bronze e ouro, bem como a disposição deles dentro e fora do Templo só podem ser explicados com base na doutrina secreta a que certamente Salomão teve acesso. Se lembrarmos que os israelitas estavam proibidos de fazer qualquer tipo de escultura, não tem sentido que justo no Templo consagrado ao Grande Arquiteto do Universo esse preceito sagrado tenha sido violado. Na verdade, o “mar de bronze”, os querubins, bem como as demais esculturas que ornavam o Templo, nada mais eram que uma representação do Cosmo na visão do arquiteto-alquimista Hiram. Refletia a crença de que tudo havia emergido de um “mar primordial” e que o universo fora construído de certo modo por uma Fraternidade de Obreiros, os chamados “Demiurgos”. A fórmula estrutural desse edifício e seus adereços buscavam recompor esse simbolismo. (11)
E no sétimo mês do ano (que é o mês de Etanim), a Arca da Aliança foi trazida e depositada no oráculo do Templo, o Altar chamado Santo dos Santos, onde apenas o Sumo Sacerdote podia entrar. O Templo que Salomão edificou foi consagrado ao Grande Arquiteto do Universo e desde aquele dia tornou-se a casa Dele na Terra. E Ele entrou naquele edifício no dia da sua consagração na forma de uma névoa que envolveu todo o Templo.
Foi com base na geometria e nas fórmulas arquiteturais do Templo de Salomão que a Arte Real se oficializou como prática especulativa. Por que a partir das especulações feitas pelos construtores daquele edifício se percebeu a analogia que existe entre a construção de um edifício, a construção de uma sociedade e a construção do caráter humano. Dai se originou uma filosofia moral e prática que atravessou séculos e ainda hoje guia corações e mentes em direção a um grande ideal.(12)
Salomão e Hiram lançaram os fundamentos de uma sociedade destinada a preservar os conhecimentos práticos que foram adquiridos na construção daquele edifício e desenvolver a filosofia moral e os conhecimentos mais profundos que ela encerrava, os quais lhes haviam sido transmitidos pelos antigos Mestres.
Dessa forma, a construção do Templo de Salomão representou uma segunda fase na influência que a Arte Real recebeu da Fraternidade dos Irmãos de Israel, e foi com base nessa obra, que representava a Casa do Grande Arquiteto do Universo na terra, que os antigos maçons especulativos desenvolveram a sua filosofia.
O Templo de Salomão representa a transição da Fraternidade de Israel, como tal considerada anteriormente toda a nação dos hebreus, para um grupo escolhido de pessoas ligadas à construção daquele edifício e os segredos que ela encerrava. Todas as tradições, a filosofia e a doutrina que foi adotada por essa nova Fraternidade foram desenvolvidas com base nos ensinamentos que Moisés havia dado aos Veneráveis Mestres das Lojas de Israel na época em que eles começaram a ocupação da terra prometida.(13)
Como o trabalho que se fez na construção daquele edifício representou a perfeição da obra humana sobre a terra, ligou-se o plano físico, simbolizado pela obra de arquitetura, ao plano espiritual, em cujo solo se supõe estarem assentados os alicerces de um caráter perfeito e sem mácula, digno de aspirar uma união com o Grande Arquiteto do Universo, finalidade última da jornada do espírito humano na terra. (14)
O Templo de Salomão foi adotado pelos maçons como um dos mais caros símbolos do trabalho realizado pela Irmandade. A grande maioria dos documentos antigos que falam dos primeiros tempos da Arte Real sustentam que a Sublime Ordem dos maçons nasceu naqueles dias, em conseqüência da organização que Salomão e Hiram deram aos trabalhadores daquela obra. E que a maior parte das tradições maçônicas decorrem dos trabalhos e dos acontecimentos ligados áquele Edifício. (15)
Porém, os Irmãos mais instruídos sabem que as tradições mais antigas da Arte Real não têm suas raízes plantadas apenas no Templo de Salomão, mas são anteriores a ele e remontam aos dias de Moisés e Akhenaton, faraó do Egito, que primeiro lançaram as bases do culto ao Deus Único, que é o Grande Arquiteto do Universo.
E que foram estes personagens que primeiro intuíram que o mundo físico se constrói da mesma forma que o mundo espiritual, e o processo pelo qual um é erigido o outro também se vale para tomar forma. E dessa maneira o trabalho das mãos equipara-se à obra do espírito, e tanto um como o outro são obras maçônicas que tem por meta a construção de um mundo perfeito.
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Notas
1- Reis, 3: 16 a 28.
2- Atribui-se a Salomão o Livro de Eclesiastes e os poemas dos Cânticos dos Cânticos e alguns salmos.
3- Reis 7: 19 Nas Lojas de Perfeição e Capitulares, alguns desses nomes aparecem nas lendas dos graus superiores conectados com a punição dos assassinos de Hiram.
4- Os texto aqui reproduzidos não são encontrados na Bíblia, mas fazem parte das Crônicas de Flávio Josefo compiladas no trabalho “Antiguidades dos Judeus”.
5-TCabouqueiros eram rabalhadores sem qualificação, que abriam valetas, ou trabalhavam em minas e pedreiras.
6-Ou seja, serventes e outros trabalhadores sem qualificação como aprendizes, artesãos como companheiros e supervisores como mestres.
7- Reis, 6: 1 a 37. As datas aqui informadas são as que constam do calendário judeu.
8- A proibição da utilização de ferramentas de ferro na construção do Templo de Salomão em duas interpretações: uma histórica e outra esotérica. A histórica se refere ao período em os israelitas estiveram sujeitos á dominação dos filisteus. Estes proibiram os israelitas de executarem qualquer trabalho de forja, para evitar que eles fabricassem armas. A interpretação esotérica se refere á tradição ligada à Tubal Cain, filho do amaldiçoado Cain, que foi o pai de todos os trabalhadores metalúrgicos. A metalurgia, para os antigos hebreus, seria uma arte demoníaca.
9- A arquitetura e a metalurgia, como vimos, eram ensinadas no Egito como ciências sagradas, trazidas a terra pelo Deus Thot, ou Hermes, segundo os gregos
10- A representação dessas colunas são obrigatórias em todos os Templos maçônicos e o simbolismo que elas sugerem são muitos para serem listados aqui.
11- Reis: 8; 1 a 10
12- Essa idéia é desenvolvida pelo Dr. Anderson em suas Constituições, mas já consta de vários manuscritos dos maçons operativos, entre o Manuscrito Dunfries e o Manuscrito Cooke.
13-Evidente que não se reivindica uma conexão histórica do Templo de Salomão com a instituição que é hoje a Maçonaria. Essa conexão é puramente simbólica, da mesma forma que com a nação de Israel como um todo. Não há provas da existência de uma Confraria organizada nos canteiros do Templo do rei Salomão, nem se pode dizer que a história da Maçonaria seja correlata à história da Arquitetura. Os leitores devem entender essa correlação de uma forma simbólica e mantê-la no campo especulativo. É onde o prático e o místico se fundem para justificar a aventura do espírito.
14- Veja-se, a esse respeito Alex Horne- O Templo de Salomão na Tradição Maçônica, op citado.
15-Veja-se o capítulo V desta obra
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Resenha da palesta por nós proferida na Academia Maçônica de Letras em
10. 12. 2010
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 15/01/2011
Alterado em 15/01/2011