João Anatalino

A Procura da Melhor Resposta

Textos


“Nada torna o homem mais semelhante a Deus do que o desapego impassível. Deus repousa no desapego impassível. Daí decorre a sua pureza, sua simplici-dade e sua imutabilidade (...).
                                                 Mestre Eckhart – Do Desapego.


A garantia de sobrevivência da humanidade é dada pela sua capacidade de transmitir de geração para geração o seu aprendizado. Isso é o que se chama cultura. É através da transmissão do conhecimento acumulado pela mente humana que a vida da espécie tem continuidade, num processo sempre crescente de alternativas de procedimentos, em face dos desafios cada vez complexos que a tarefa de viver nos apresenta.
Nas antigas culturas orientais o homem idoso era o depositário da sabedoria, e respeitado como símbolo do conhecimento acumulado pelas sucessivas gerações. Na China, a doutrina de Confúcio se fundamentava no respeito aos ancestrais. No Japão também se cultivava a tradição de buscar no ancestral a sabedoria necessária para as decisões mais importantes da comunidade.
Essa ainda é uma tônica na cultura dos povos orientais e tem sido saudada como um dos elementos que mais concorrem para fazer desses países nações estáveis, onde as mudanças políticas, sociais e econômicas só tocam nas relações externas que elas mantêm, mas intimamente pouco mudam no espírito do povo.
Os romanos cultivavam os “deuses lares”, espíritos dos antepassados. Eram os “manes”, cujas memórias eram honradas e conservadas através de pequenas estatuetas que eram consultadas sempre que se queria obter conselhos e previsões de acontecimentos futuros.
Na primitiva cultura de Israel, por exemplo, que nos legou a literatura sagrada que conforma a maioria das nossas crenças religiosas, o poder, durante milhares de anos, foi conservado por um Conselho de Anciãos, o qual escolhia seus líderes para a guerra e seus juízes em tempos de paz. Iremos encontrar essa estrutura ainda nos tempos de Cristo, quando o Sinedrin judeu era o centro do poder no país. Essa tradição sobreviveu através dos tempos na tradição da Cabala e nos Comentários do Talmude, onde a sabedoria está associada à idade proveta.
Essa tradição também é muito forte entre os povos ligados à natureza. De tal forma que na maioria das tribos indígenas da América do Norte e mesmo nos povos pré-colombianos da América do Sul e Central, o poder comunitário era, e ainda é, nas tribos onde a primitiva cultura foi conservada, exercido por um Conselho de Anciãos.
Na experiência do homem idoso está a sabedoria que inspira confiança, porque quem chega a esse limite da vida sabe que não deve se apegar a nada. E ele sabe, principalmente, que a vida humana é fugaz e os nossos desejos e conquistas são como as águas do rio que passam, matam a nossa sede e nutrem a vida de cada dia, mas jamais voltam, e um dia o rio também seca.
Doutra forma, é com a sabedoria natural da pessoa que convive com a natureza e observa o seu processo de criação, na sua simplicidade espontânea e milagrosa, que o homem experiente, na tradição xamânica, se torna Mestre. Ele é, como diz o Mestre Aurobindo, “um ser ligado à natureza, que busca nela a sua própria perfeição.

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DO LIVRO CÓDIGOS DA VIA- JOÃO ANATALINO -CLUBE DOS LEITORES, 2011.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/03/2011
Alterado em 27/03/2011


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